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A música conecta

Talks | Como e quando o sync deve ser usado na performance?

Por Ágatha Prado em Alataj Talks 22.04.2021

Há quase 50 anos, uma nova forma de apresentação de músicas ganhava espaço nas pistas de dança ao redor do mundo. Duas faixas tocadas em toca-discos ou toca-fitas eram misturadas e em sincronia, formando uma sequência musical ininterrupta, que posteriormente ficou conhecida como mixagem, sendo o formato que popularizou mundialmente  a cultura DJ.

Com o avanço da tecnologia, novas formas de apresentação e de mixagens foram ganhando espaço nas pistas de dança, abrindo o caminho para ferramentas e dispositivos que tornaram a vida do DJ mais prática e funcional, como softwares de discotecagem executados através de computadores, CDJs que entradas para pendrives, controladores e tudo mais.

Dentre essas inovações, o “Sync”, função que permite a sincronização automática do BPM de duas ou mais faixas, é considerado um dos grandes avanços da cultura DJing, isentando o artista da tarefa clássica de encontrar o BeatMatching perfeito na hora da apresentação. Embora a praticidade,  o invento gerou uma grande polêmica dentro comunidade DJ, levantando opiniões divergentes acerca dos benefícios e contrapontos da função, que poderia incentivar a ascensão dos “falsos DJs”. Convidamos Amanda Chang (D-EDGE), Blancah (D-Agency/ Hiato), Moha (Kultra), tarter (D-Agency/ Createch/ Urban Soul) para apresentar suas visões acerca da seguinte pergunta, presente em tantos debates da comunidade DJ: Como e quando o sync deve ser usado na performance?

Amanda Chang

Para um live act de música eletrônica de dança, uso o sync todas as vezes, colocando todos os instrumentos no mesmo tempo. Uso um midi thru Box que é como um bifurcador de sinal. Normalmente coloco a bateria eletrônica para ser o master clock, ou seja, é o que vai controlar todos os outros synths. O MIDI OUT controla e o IN é controlado. Há duas formas de usar o sync nos analógicos, VIA MIDI ou CV, isso vai depender da configuração de cada synth. No ARP SEQUENCER e MOOG DFAM, por exemplo, o clock é somente por CV (controle de voltagem). Já outros como o Arturia Minibrute 2S, Doepfer Darktime sequencer, Moog Mother 32, Arturia Impact e Microbrute uso via MIDI, alguns deles têm as duas opções: CV e MIDI.

BLANCAh

O Sync na discotecagem deve ser usado quando e como o DJ quiser. Não há regras. Trata-se de uma evolução tecnológica como tantas outras que são caras ao nosso meio da música eletrônica e cabe a cada artista decidir como usar a tecnologia a seu favor. O “câmbio automático” não faz de você um pior ou melhor motorista, o “piloto automático” não cria melhores ou piores pilotos, a tecnologia não define a qualidade do ser humano por detrás dela. Não há sync que salve uma péssima seleção musical… assim como “perdoamos” aquela “sambadinha” no meio de uma seleção musical perfeita. No final das contas o que realmente importa é o que se entrega das caixas de som para frente.

Moha (Kultra)

Respondendo em uma frase, o DJ deve usar o sync quando ele achar necessário. Embora tenha sido motivo de polêmica quando surgiu, a sincronia automática é uma ferramenta tecnológica como várias outras, é uma programação que coloca a máquina para executar uma tarefa mecânica. Mas para entrar um pouco mais no assunto, vejo duas razões centrais para o uso ou não do sync: proposta musical e gosto pessoal. 

Proposta musical porque há estilos musicais e formatos de apresentações que vão além da mixagem clássica. Artistas que tocam com vários canais, usando loops e samples, ou que integram elementos de live no set, podem preferir deixar tudo sincronizado para focar na criatividade ao usar tais elementos. E o gosto pessoal é importante pois a forma de tocar faz parte da expressão artística do DJ, a escolha do setup é como a escolha de um instrumento, está intimamente ligada à personalidade do artista. Se o repertório é bom, condizente à proposta musical, a construção do set é sólida e as pistas se conectam, qual a relevância do uso ou não de uma ferramenta tecnológica específica?

tarter

A função do sync é dar liberdade ao artista, que gastaria uma boa parte do tempo de sua apresentação fazendo o Beatmatch, mais conhecido como mixagem ou encaixe de uma música na outra, deixando o artista livre deste trabalho para poder criar mais coisas em sua apresentação. O que vem sendo feito por muito tempo é: artistas que não estão inovando em suas apresentações, tocando com dois decks somente, syncando ambos e não criando nada a mais nesse momento, muitas vezes por não dominar a arte da discotecagem convencional e básica, ou muitas vezes por preguiça. E esse é o ponto que quero destacar: se você tem preguiça de mixar duas músicas, qual o intuito de ser DJ? 

Eu utilizo o sync em meus projetos de live act e híbrido, onde seria praticamente inviável mixar 10, 12 canais ao mesmo tempo sem o sync, e me impossibilitaria de criar novas sonoridades nesse espaço de tempo. Por exemplo, em meu projeto híbrido, eu sinco os quatro canais do trator com mais oito do Ableton, usando trechos de músicas prontas de minha criação, efeitos, e mais quatro tracks tocando muitas vezes ao mesmo tempo, no Traktor. Isso me possibilita criar momentos e sons que nunca mais serão ouvidos, somente naquele momento. Sem o sync seria muito, mas muito difícil criar esse tempo de apresentação. E é nesses momentos que ele tem que ser usado.

A música conecta.

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