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A música conecta

30 faixas que provam o poder do Techno abaixo dos 130 BPM

Por Elena Beatriz em Artigos 01.10.2025

Quando o Techno começou a se espalhar a partir de Detroit no fim dos anos 80, sua marca registrada era a maneira como produtores como Jeff Mills, Juan Atkins e Derrick May, encontravam intensidade em faixas que, geralmente variando entre 120 e 130 BPMs, permitiam que a pista fosse conduzida por longos trechos de construção, desencadeando uma progressão que fazia com que a música transportasse o público para outro lugar naquele mesmo espaço. A energia decorria da forma como era possível manipular a percepção do tempo, de maneira sublime, sem precisar correr contra ele no momento em que se estava na pista. 

A partir daí, diferentes vertentes se desdobraram, do Dub ao Industrial, do Minimal ao Acid. Muitas delas mantiveram a ênfase em construções prolongadas, densidade e na percepção do tempo como elemento central, independentemente do BPM. Nos anos 90, o Basic Channel ajudou a estabelecer o Dub Techno em torno de repetições, camadas de delay e manipulação de efeitos.

Já nos anos 2000, os longsets de Richie Hawtin e Ricardo Villalobos foram decisivos para o protagonismo do Minimal Techno, vertente que mantém a pegada do Techno clássico, focada em faixas com menos elementos, que são pensadas para sustentar a narrativa e o ritmo da pista sem necessariamente acelerar a velocidade. Hoje, artistas como Donato Dozzy, Luigi Rozzi, Claudio PRC e Dasha Rush seguem a mesma linha ao explorar atmosferas abaixo dos 130 BPM, mostrando que o que importa para a força do estilo é a forma como o fluxo é construído para ser sentido. 

Ao longo da última década, no entanto, vimos um deslocamento claro desse conceito. Parte do Techno que ganhou espaço em grandes festivais e redes sociais acelerou a ponto de se confundir com o Hardcore ou com o Gabber. Essa mudança foi alimentada especialmente por alguns fatores como a busca de DJs jovens por um som que se diferenciasse das estruturas mais melódicas do começo da década passada, na expansão da presença de vertentes do gênero em grandes festivais e o pós-pandemia, onde havia uma necessidade coletiva de recuperar o tempo perdido. A música refletiu isso.

No entanto, parte dessa mudança de panorama sobre o Techno não se explica apenas pela curadoria dos festivais ou pela euforia coletiva do pós-pandemia, mas também pelo modo como a música passou a ser consumida e promovida nas redes sociais e plataformas. O Beatport, principal referência na compra e organização de faixas digitais, também ajuda a explicar essa mudança de percepção. Em 2020, a plataforma reinstituiu a categoria Hard Techno como gênero independente em seu catálogo e reorganizou a categoria Techno, criando duas subdivisões: Techno [Peak Time / Driving / Hard] e Techno [Raw / Deep / Hypnotic], com o objetivo declarado de dar mais visibilidade a estilos que até então ficavam diluídos dentro de um mesmo rótulo. 

Realizamos um comparativo entre essas duas categorias, no dia da produção deste texto, e nos deparamos com a seguinte estimativa: entre as dez primeiras faixas do Top 100 de Peak Time / Driving, nove estão acima de 130 BPM; já no Top 100 de Raw / Deep / Hypnotic, as dez primeiras circulam na faixa dos 140 BPM. Esses números mostram como o espaço de maior visibilidade na plataforma está ocupado por faixas que possuem o DNA rápido como carro-chefe, absorvendo o público que está em busca desse som mais acelerado, o que reforça a percepção de que o Techno se tornou sinônimo de velocidade em boa parte do circuito mainstream.

O TikTok, em particular, se tornou ferramenta de divulgação de pequenos fragmentos de sets que circulam em larga escala, sobretudo de cortes acelerados, fomentando a ideia de que os momentos mais rápidos e intensos representam o gênero como um todo. Um caso emblemático é Push Up, de Creeds, faixa característica do Hard Techno mainstream que apareceu repetidas vezes em trends, abrindo espaço para que o estilo se tornasse visível no digital. 

Outras adaptações aceleradas de músicas já conhecidas pelo grande público como Bloody Mary de Lady Gaga ou Gimme More de Britney Spears se tornaram áudios disponíveis para trends, ajudando a aproximar o gênero de uma audiência que não vinha necessariamente da cultura clubber, moldando não só a perspectiva de quem consome, mas estimulando quem produz a estruturar a música pensando nesse potencial de viralização para alcançar visibilidade dentro desse circuito social. 

Com olhar direcionado para casos similares, um estudo publicado em 2023 pela Faculdade Cásper Líbero (SP), aponta que o consumo musical entre as novas gerações, com enfoque na geração Z, está diretamente condicionado ao funcionamento de algoritmos em plataformas como TikTok e Instagram, pois enxergam enxergam música como parte de conteúdo rápido, visual e interativo.

Apesar desse movimento do mercado, há uma base sólida de artistas que mostram como o Techno funciona plenamente em construções que enaltecem a contemplação e a progressão, como no início de tudo, que fazem com que a pista se deixe levar sem ter pressa de saber aonde vai chegar, a exemplo de artistas veteranos como Laurent Garnier e Jane Fitz ou de novas personalidades como a australiana Kia, que enaltecem a capacidade de manter a tradição do Techno clássico mesmo quando ele é feito para orientar a vanguarda.

Com o objetivo de relembrar e fortalecer o potencial do Techno independente de sua velocidade, montamos uma playlist de 30 faixas que mostram como o estilo funciona plenamente abaixo dos 130 BPM. São produções de diferentes épocas, artistas e selos que reforçam a importância da construção gradual que sustenta o gênero, revelando uma linha de produção que segue ativa mesmo em meio à ascensão de sonoridades mais aceleradas. Ouça agora:

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