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A música conecta

Como três anos de anarquia moldaram as bases da cena clubber em Berlim

Por Redação Alataj em Artigos 23.09.2025

Não é novidade para ninguém que a queda do Muro de Berlim, em 1989, significou algo muito além do que um marco geopolítico. O que talvez pouca gente sabe é que ela produziu uma enorme brecha histórica: um período de transição institucional indefinida que abriu espaço para formas experimentais de vida urbana e organização cultural. Um fator crucial que permitiu o nascimento da lendária cena clubber de Berlim foi justamente a ausência de controle por parte das autoridades nos primeiros três anos após a unificação.

Esse vácuo de poder permitiu que uma pequena cena de Berlim Ocidental tomasse conta de enormes espaços vazios em Berlim Oriental, onde podiam celebrar a liberdade recém-conquistada. Os bairros inexplorados de Berlim Oriental tornaram-se o ambiente perfeito para que uma cultura de clubs e música pudesse realmente crescer.

Foi nesse contexto de anarquia que o movimento dos squatters (ocupantes ilegais) floresceu, atuando em um ambiente onde “não havia normalidade”, pois a própria cidade não era “normal” na década de 90. Os squatters eram vistos como uma representação da liberdade, mas também como algo “assustador e incomum” na antiga Alemanha Oriental.

Eles podiam dominar as regras em suas ocupações, porque a polícia não estava preocupada com eles ou “não sabia de nada” sobre o que estava acontecendo; era, nas palavras dos envolvidos, “uma coisa de louco”. Ainda que as expulsões tenham começado já em novembro de 1990, quando Berlim iniciou a retirada de parte dessas pessoas, a mentalidade autônoma do squatting continuou a atravessar a cultura clubber que surgia.

Essa mentalidade de ocupação e autonomia, que permitia às pessoas ocupar prédios e fazer com eles o que quisessem, foi o que tornou possível a impensável ascensão do techno em Berlim durante os anos 90. Um exemplo dessa descoberta de espaços foi o Tresor, que foi encontrado e transformado em 1991. Localizado no coração da cidade, o clube foi estabelecido em um antigo cofre bancário que permaneceu intocado por quase 45 anos.

Sua redescoberta foi o resultado direto da liberdade informal daquele tempo e especialmente da disposição para experimentar, ocupar e transformar. O Tresor rapidamente se tornou símbolo da nova Berlim, um ponto de convergência entre juventudes do Leste e Oeste, unificadas não por tratados políticos, mas por uma nova aventura chamada techno. 

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