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A música conecta

Innellea e a arte de pertencer sem se acomodar

Por Marllon Eduardo Gauche em Xpress 23.09.2025

Nos dias 12 e 13 de setembro, o alemão Michael Miethig — mais conhecido como Innellea — voltou ao Brasil. Primeiro, foi um dos destaques da Só Track Boa em Belo Horizonte, com um DJ set solo e um encontro inédito em formato B3B ao lado de Vintage Culture e Cassian. No dia seguinte, seguiu para o Ame Club, em Valinhos, onde entregou uma performance bastante intensa, segundo relatos do público presente. Foram duas noites que reforçaram a força de sua conexão com a audiência brasileira, mas também abriram espaço para discutir algo que vai além da catarse da pista: o lugar de Innellea na música eletrônica de hoje.

O nome artístico que ele escolheu já diz muito. “Innellea” é um neologismo que simboliza reinvenção, um fluxo constante de ideias. Essa inquietude acompanha Michael desde o início: inspirado por um show de Boys Noize em Munique, aos 18 anos, comprou sua primeira controladora no dia seguinte e nunca mais parou. Suas referências vieram também de artistas que pensam a música de forma holística, unindo som, identidade visual e narrativa, a exemplo do Justice. Autodidata, ele aprendeu a produzir sem masterclasses ou escolas, no erro e no risco, o que sem dúvidas ajudou ele a chegar na sua identidade atual, fugindo de possíveis fórmulas. 

A evolução, para ele, também vem passando por quebrar mitos comuns dentro da cena. “Se você é um ‘copycat’ dos milhares de produtores de Melodic Techno, não vai ajudar. Você vai permanecer no nível em que está. É preciso ir além, quebrar as regras, eu acho.” Essa mentalidade se reflete na sua estética atual: seus sets estão mais rápidos do que nunca, com uma orientação mais “raver”, isso, claro, sem deixar de trazer as paisagens melancólicas e cinematográficas que o consagraram. Um contraste que tem ampliado ainda mais seu alcance, já que assim ele consegue dialogar tanto com um público que gosta de um som mais acelerado, quanto com aquele que busca mais densidade melódica. Esse “novo posicionamento” sonoro fica evidente no set que ele disponibilizou há algumas semanas, gravado quando tocou no Greenvalley em Abril deste ano.

Para além disso tudo, é interessante destacar também que Innellea não ignora os dilemas de transitar entre esses universos. “Eu estou lutando com isso no meu interior: satisfazer os desejos e as expectativas do ouvinte versus ser eu mesmo”, e é justamente nesse choque entre agradar e se manter autêntico que ele se torna mais interessante, afinal, é um artista que não tem medo de arriscar e caminhar fora da linha, e que busca constantemente encontrar o equilíbrio entre sua autenticidade e a expectativa do mercado, que na prática é onde se encontra sua base de fãs espalhada pelo mundo.

Essa filosofia fica ainda mais clara em belonging, selo e plataforma que ele acabou de lançar, no início de setembro. O primeiro grande projeto, Finding Home, foi uma compilação de colaborações lideradas por ele, com cerca de 15 artistas, um gesto que simboliza sua vontade de criar uma comunidade e não ser apenas mais um catálogo entre tantos. A ideia é fazer música como experiência compartilhada, um espaço onde artistas e ouvintes possam “encontrar um lar”; ao mesmo tempo, é um lugar onde ele pode experimentar de forma mais livre enquanto ajuda a trazer luz para outros produtores que compartilham do mesmo pensamento que o seu.

Ao olhar para Innellea a partir desse contexto, fica mais fácil entender porque ele merece atenção até mesmo de quem não curte muito a atual linha do Melodic Techno. Sua história é de um artista que, em vez de se acomodar e ficar onde está, escolheu tensionar as fronteiras da música eletrônica e defender sua autonomia criativa. E no Brasil, onde emoção e intensidade caminham lado a lado na pista, essa proposta parece ter se encaixado perfeitamente, o que justifica a chuva de comentários positivos após sua última passagem por aqui.

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