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A música conecta

Quando o lançamento não é mais tão lançamento assim

Por Alan Medeiros em Carta da Redação 27.08.2024

Você já teve a sensação de ficar surpreso com uma música que você já conhecia há meses ser anunciada como lançamento? Existem algumas produções que a gente já conhece tão bem, mas tão bem, que quando elas são lançadas oficialmente, há uma sensação… diferente. Veja o caso de Move do badalado trio Keinemusik. Seu lançamento oficial foi em Julho deste ano, ela se tornou um dos hits do verão europeu, mas já estava tão difundida nas redes sociais, que parece estar disponível há muito mais tempo.

Esse movimento não é por acaso ou acidental. Uma das estratégias centrais das grandes gravadoras do estilo no momento, passa justamente por hypar a faixa nas redes sociais nos meses que antecedem seu release oficial, gerando tanto desejo entre o público e demais DJs, que ao ser lançada, ela esteja em condições e potencial para subir nos charts do Beatport rapidamente, alcançando um melhor resultado midiático e financeiro. Funciona, não há como negar. Especialmente no caso de gravadoras que têm uma força relevante nas redes. 

Mas esse timing está calibrado? Em tempos onde a percepção de idade de uma música ficou tão defasada, não é um risco torná-la velha antes mesmo de existir oficialmente? Qual a percepção do público? Responder essas perguntas em contexto geral é uma tarefa impossível, especialmente por que cada caso é um caso e o que pode ser uma estratégia perfeita para uma música, pode simplesmente não funcionar para outras. Em uma análise mais de percepção, parece sim que algumas faixas que tem seu lançamento depois do hype gerado nas redes sociais, chegam às plataformas um tanto quanto saturadas e atrasadas. Ainda assim os resultados podem ser positivos em termos de venda, o que mantém a roda girando.  

Um ponto importante aqui seria o impacto junto à base de fãs. Se essa possibilidade de ter vários clips e takes da música disponíveis em massa no social media traz uma dinâmica mais positiva do que o desgaste que essas faixas podem apresentar ao serem lançadas depois do hype, a balança vai seguir para este lado. Mas se as gravadoras começarem a perceber que seus lançamentos já não chegam da mesma maneira no release date, a culpa pode ser do formato? Em alguns casos, parece que a campanha pré release é o que realmente importa, até por que ela tem condições de ser muito mais longa, enquanto o pós release vai durar, 7 dias? Sexta-feira que vem já tem um novo lançamento no catálogo do selo e o foco muda.

Do ponto de vista dos artistas, pode ser ainda mais delicado, visto que muitas vezes há pouco ou nenhum controle sobre o schedule dos labels, que costumam ter semanas e semanas fechadas com antecedência. Uma faixa aprovada agora, por mais potencial que tenha, pode demorar mais de 12 meses para ser lançada oficialmente. Até lá, uma alternativa é justamente criar o hype. Não é raro episódios de artistas que conseguem uma boa assinatura, mas há tanta demora, que quando essa música é oficialmente lançada, suas preferências musicais já são outras. Embora funcional, essa dinâmica de estratégia começa a gerar algumas dúvidas e é possível que o que se faça daqui a 2 anos, seja bem diferente do que é feito hoje. 

A música conecta.

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