Natural de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, João Victor Costa fez da capital mineira, Belo Horizonte, sua base na promessa de fazer faculdade de engenharia química, mas na verdade acabou abrindo as portas de um mundo que logo tratou de o transformar em OMOLOKO. Além de se fazer DJ na raça, coragem e estudo, ele também se envolveu em projetos como a 101Ø, a Curral e a Mathosa, festa que comanda com o amigo e parceiro Kabulom. Há quem diga que não existe dom, mas eu, particularmente, defendo que há sim uma predisposição criativa para determinadas áreas, e pode-se desenvolvê-la ou não. No caso de João Victor, ele nasceu para ser OMOLOKO, e assim o fez lapidando suas técnicas de uma maneira naturalmente sólida. Ele seguiu, sim, algumas fórmulas que o fazem um excelente deejay: leitura de pista avançadíssima, pesquisa profunda, completamente fora da curva e habilidades técnicas que surpreendem qualquer um que esteja em sua pista.
Mas fato é que para ocupar o posto que OMOLOKO ocupa atualmente, consagrado internacionalmente como um dos mais precisos pesquisadores e seletores que a cena brasileira produziu, uma série de características marcantes e completamente distintivas formam o conjunto dessa figura inquestionável que ele é. A título de menção, em 2022 celebramos a primeira turnê europeia dele por aqui, atualmente ele está na terceira, gabaritando os principais eventos e festivais do verão europeu pelos últimos três meses. Até aqui, ele fez o Panorama Bar o aplaudir aos berros, caiu nas graças do Dekmantel, causou um clima de copa na cena nacional com a transmissão do seu Boiler Room e estabeleceu um consenso favorável nela como poucos — não há ouvidos (e corpos) que não se rendam às narrativas musicais de OMOLOKO quando ele está no comando dos decks.
+++ De Currais Novos para o mundo: Omoloko e sua legítima representatividade na música eletrônica
Aliás, é essa habilidade inquestionável e distintiva que fez o nome de OMOLOKO naturalmente brotar quando a Diggin Essence foi pensada. A série especial vai analisar a natureza, influências e abordagem de grandes pesquisadores e seletores, buscando entender as particularidades que tornam cada um destes protagonistas imprescindíveis. OMOLOKO abre a Diggin no mês de agosto e na sequência vamos apresentar Laurent Garnier em setembro, Dasha Rush em outubro, Marcio S. em novembro, finalizando com Sol Ortega em dezembro. As séries serão publicadas sempre aos primeiros sábados de cada mês, oferecendo reflexões sobre a essência distintiva e mergulhando nos detalhes que tornam estes diggers realmente dignos do título. Então sem mais delongas, vamos analisar o perfil de OMOLOKO? Ao longo do texto, você encontra uma seleção especial de mixes do artista.
Superação frente a desafios de acesso a tecnologia rumo a uma discotecagem de ponta
OMOLOKO, como muitos DJs de sua geração, enfrentou barreiras significativas em sua trajetória devido ao acesso limitado à tecnologia. Crescendo em um ambiente onde equipamentos de mixagem eram indisponíveis, ele teve que se adaptar e buscar alternativas criativas para refinar o ofício que batia à sua porta. Essa falta de recursos, no entanto, não impediu que ele se tornasse um dos seletores mais precisos e respeitados da atualidade. A dedicação de OMOLOKO em pesquisar técnicas de mixagem de forma autodidata, com o que tinha (no caso, acesso a internet), resultou em uma habilidade simplesmente fantástica e muito conduzida pelo bom, velho e escasso feeling de pista.
Em vez de se abater ou criar empecilhos pela falta de acesso imediato às tecnologias e ferramentas, ele focou em construir um conhecimento vasto e eclético, e que agora é refletido em seus sets cuidadosamente curados e mixados. Ele transformou a adversidade em força, desenvolvendo uma abordagem que valoriza a autenticidade e a descoberta, se tornando um exemplo claro de como a dedicação pode superar as limitações materiais. Hoje, OMOLOKO é reconhecido não apenas pela abordagem quase que enciclopédica, mas também pela sensibilidade na criação de narrativas musicais que conectam o passado, o presente e o futuro da música global.
Pesquisa avançada e com autenticidade frente a dance music africana
Um dos pontos mais célebres da pesquisa musical de OMOLOKO é a dedicação ao desbravar a autêntica dance music africana, conectando ritmos como kwaito, afro house e amapiano. Ele mergulhou na rica tapeçaria sonora do continente africano, identificando e celebrando a diversidade cultural e musical que compõem esses estilos, entregando uma curadoria que é marcada pela habilidade em traçar linhas entre o tradicional e o contemporâneo, respeitando as raízes históricas desses gêneros enquanto os apresenta a novas audiências. Essa habilidade foi um dos pontos centrais que fez de OMOLOKO uma referência.
Busca por ‘hits’ perdidos
Outra competência notável de OMOLOKO e uma das características que o habilita a estar aqui hoje: a notabilidade na busca por “hits” perdidos, sendo capaz de desenterrar faixas raras e esquecidas, que escaparam do radar da maioria. Essa dedicação em explorar além do óbvio, vasculhando a internet entre grupos e fóruns, permite que ele construa sets que surpreendem e cativam o público com sons que soam simultaneamente familiares e novos.
Essa capacidade de redescobrir joias musicais subestimadas é um dos fatores que elevam sua reputação como um dos seletores mais refinados da atualidade e que ele explora de forma muito interessante em seu canal do YouTube, organizando as descobertas em playlists, como a que você confere abaixo.
Dinamismo absoluto ao navegar pelos sons
Com uma curadoria que vai além do óbvio, sua pesquisa não se limita a continentes e épocas. Essa habilidade de navegar por um vasto espectro de ritmos e estilos, do afrobeat ao jazz, passando pela música brasileira, eletrônica, world wide e muito mais, é o que torna seus sets tão cativantes e imprevisíveis. Cada apresentação de OMOLOKO é literalmente uma jornada que desafia até os ouvidos mais treinados, guiada por uma paixão inegável pela música e uma sensibilidade genuína para ler a pista de dança. Essa abertura aos sons globais também é impulsionada através de outros projetos, como a Mathosa.
Expressão cultural
OMOLOKO utiliza a música como um meio de expressão cultural e de construção de narrativas que se conectam a sua própria história, o que automaticamente faz com que ele não se limite a simplesmente mixar faixas; ele cria atmosferas, humores, sensações… suas apresentações são marcadas por uma atenção milimetricamente cuidadosa e uma busca incessante por perfeição, resultando em sets que são ao mesmo tempo educativos e emocionalmente poderosos e dançantes.
OMOLOKO entende que a música tem o poder de conectar pessoas de diferentes origens e perspectivas, se dedicando a gerar um impacto musical com uma precisão e sensibilidade que poucos conseguem alcançar.
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A música conecta.