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A música conecta

Apple, Amazon, Deezer, Spotify, Tidal ou YouTube Music: afinal, qual plataforma musical é a melhor?

Por Isabela Junqueira em Editorial 17.06.2022

O tema parece batido, né? É natural que os streamings rendam pautas de A a Z: de dominação do algoritmo à dicas para a melhor experiência enquanto usuário. Mas nessa dinâmica toda, basta um “dar um google” para perceber o quão defasada estão as informações para ajudar (e de certa forma, porque não educar?) os consumidores para darem o devido suporte para artistas — emergentes ou não — através dessas plataformas. E aí abro o texto questionando: afinal de contas, qual é a melhor? É claro que a importância enquanto consumidor é fundamental, mas venhamos e convenhamos, sem artistas não há o que consumir, não é mesmo?

Diante da evolução da tecnologia e o estabelecimento da Web 4.0 — a era que vivemos atualmente —, muita coisa mudou, e certamente a música foi uma das grandes impactadas. Da era dos rádios até o desenvolvimento que possibilitou o acesso às tiragens físicas de obras musicais, que se pulverizaram globalmente com vinis, fitas e futuramente os compact discs (CDs); a evolução da música sempre foi robustamente afetada pela tecnologia bem como seus agentes e com eles, claro, a monetização. E sim, a monetização precisa acontecer e é uma das engrenagens fundamentais para fazer o mecanismo todo funcionar.

Sem me aprofundar muito nessa questão, porque rende assunto para outro editorial, mas a monetização artística é algo que há anos passa por diversos questionamentos e, principalmente, críticas; até que chegamos à era dos streamings musicais e a ideia de que ninguém mais compra música se fortaleceu ainda mais. Mas se ninguém mais compra música, como ficam os artistas? Se ninguém mais se dispõe a comprar música, automaticamente, todo mundo está disposto a abrir mão de consumir novas músicas? Bom, eu acho — e tenho quase certeza — que a resposta seja “não”, principalmente levando em consideração que o Brasil é uma das maiores potências musicais (de consumo e exportação) da atualidade.

Por mais óbvio que pareça essa afirmação para alguns, é sempre necessário reforçar a importância que o suporte monetário tem na vida de um artista. Inclusive, de acordo com Mitch Glazier, fundador da Recording Industry Association of America (RIAA) (em livre tradução, Associação da Indústria Fonográfica da América), a pirataria digital eliminou mais da metade do valor econômico da indústria musical, ou seja, é importante não só dar suporte, mas também fazê-lo da forma correta. E aí entramos na esfera dos streamings, já que no primeiro trimestre deste ano, mais de 182 milhões de usuários estão ativos e pagos apenas no Spotify — plataforma musical mais utilizada no mundo.

Está se questionando sobre a receita do Spotify? Só no ano passado, ele fechou com arrecadação total de 3,074 bilhões de dólares. De acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), a arrecadação total da indústria no ano passado foi de 25.9 bilhões de dólares, representando um crescimento de 18.5% em relação ao ano anterior. Mas diante desses números, de onde surge o papo de que a indústria musical (de forma geral) vai mal? Números estratosféricos, recordes de arrecadação e de usuários totais para o serviço de streaming mais popular do mundo deveriam indicar que as pessoas seguem interessadas em pagar por música mais do que nunca, não?

Pois é… mas a realidade é outra! Você sabia que a categoria artística é a que mais sofre com a dinâmica do streaming? O Business Insider relatou no ano passado que o sistema de pagamento atual por cada stream (cada vez que você aciona o play) no Spotify está entre US$0.003 e US$0.0084, e este número diminui constantemente desde 2014. Essa arrecadação também não vai diretamente para o artista. Por exemplo, se o artista não é independente, os números de streamings são divididos entre as partes com base no contrato de gravação, contrato de distribuição ou outra papelada que o produtor musical possa ter assinado.

O Spotify não é de todo ruim, mas está longe de ser o mecanismo ideal para impulsionar a música de forma justa e honesta; e se o artista não estiver no topo, a chance de ter um ganho significativo de dinheiro é quase zero. Quando o assunto é música alternativa, a problemática fica ainda mais latente. Então, para assumir uma postura de consumo de música responsável e romper com um sistema de desvalorização da mão de obra artística musical, existem algumas ações que podem ser repensadas, principalmente a forma que você consome nos streamings. Mas quais são as alternativas? 

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Existem muitos outros serviços de streaming disponíveis, incluindo Amazon Music, Apple Music, Deezer, TIDAL e YouTube Music — todas essas plataformas também estão disponíveis no Brasil e vou te contextualizar sobre alguns dos principais pontos delas em relação à dinâmica na remuneração de artistas. Começando pela Amazon Music, essa é a primeira que deve ser descartada por consumidores, porque é o streaming que menos paga reproduções aos artistas, pagando somente US$0.004 por stream. Na sequência, o destaque negativo vai para o YouTube Music, com seus míseros US$0.008 — sendo essas as piores opções.

Na sequência, todos esses serviços oferecem melhores ofertas para os artistas, mesmo que sejam singelas. O Deezer paga US$0.0064, enquanto o Apple Music paga US$0.0078 por reprodução. O TIDAL dá 10% da sua assinatura mensal de 20 dólares diretamente ao seu artista mais ouvido do mês, o que já é radicalmente maior do que o pago pelo Spotify; além de pagar três vezes mais pela reprodução do que qualquer outra plataforma, com seus US$0.0128 por reprodução. Caso você não saiba, o TIDAL é a plataforma musical criada pelo Jay-Z para trazer mais poder aos músicos sob suas obras, com pagamento diretamente ao artista.

Sabemos também que nem sempre as assinaturas musicais são acessíveis, e aí a melhor opção, sem dúvida nenhuma, é o YouTube. Contas autenticadas da plataforma recebem uma média de $0.00087 por stream, e aí é válido ficar atento se você está consumindo em um canal oficial que converterá essa renda de fato ao artista — uma diferença muito grande em relação ao que é pago pelo Spotify com reproduções de contas gratuitas. São inúmeras as possibilidades de dar aquela força aos artistas, e ir às apresentações pagas e consumir o bom e velho merchandising também são importantíssimos. 

Ainda sim, é válido reforçar que apesar da queda nas vendas de tiragens físicas e que sabemos que provavelmente nunca voltará ao fluxo de antes, comprar músicas do seu artista favorito ainda é uma opção viável e muito válida. A maioria dos nomes menores (e até mesmo alguns grandes) usam Bandcamp, SoundCloud, Last.fm e outras plataformas para garantir um fluxo de renda mais direto. Comprar tiragens físicas de um artista pode ser um grande recurso para eles, considerando que US$1 bilhão de toda a receita do mercado musical dos EUA em 2021 veio das vendas de vinil, ainda de acordo com o IFPI. Ou seja, é um mercado que segue ativo.

Se sua maior preocupação é ajudar os artistas a obterem a compensação que merecem, então comprar seus álbuns, fazer-se presente em suas apresentações e comprar seus merchandisings sempre será a melhor opção. Mas se você, assim como eu e a grande maioria dos consumidores de música, também não querem abrir mão da praticidade do streaming, então opções como Apple Music, TIDAL e YouTube (não o YouTube Music), podem fornecer quase tanta (senão até mais) música quanto o Spotify, com opções de pagamento mais amigáveis ​​aos artistas. Vale pontuar aqui que a discussão é longa e merece ainda sim, um debate muito mais amplo do que o atual. Mas como bom ouvinte, é sempre válido repensar se você consome música com a responsabilidade que deve.

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