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A música conecta

Editorial | O que levou o Tech House a flertar com a EDM nos últimos anos?

Por Caio Stanccione em Editorial 01.04.2021

O quê? Tech House e EDM na mesma frase? Vocês estão loucos!

Foi isso que eu disse quando esse tema veio à tona como um possível editorial, afinal de contas, pra mim, o Tech House é Dave Angel, Mr C, Pure Science e esses artistas do final dos anos 90 que não tinham medo de misturar a pegada do Techno com o colorido do House – e quando eu digo misturar, é misturar mesmo, discotecagem, mixagem. 

O termo Tech House não veio para classificar um estilo musical que acabara de surgir, ele era usado para realmente dizer que tal DJ tocava um pouco de House e um pouco de Techno. Nada mais. Obviamente que tais DJs passaram a lançar suas próprias produções e os Tech House DJs acabaram criando o estilo, mais ou menos na mesma pegada do surgimento do nome House Music, lembram? 

Pois então, por que cargas d’água que o Tech House flerta com o EDM? 

EDM é o acrônimo de Electronic Dance Music, que em uma tradução literal seria música eletrônica de pista. Como você pode imaginar, esse é um termo que surgiu lá atrás, junto com o House e com o Techno, mas foi indevidamente apropriado pelos marqueteiros para designar uma onda de novos produtos – entenda-se DJs – que estavam surgindo na virada dos anos 2000 para 2010. 

Os anos 2000 foram marcados pela House Music europeia e pelo Drum and Bass e isso é um fato, não dá pra discutir. Isso não quer dizer que as tendências que outrora estavam no topo – como o Techno e o Trance – morreram, elas só deram espaço para o que era novo, afinal, toda tendência é cíclica e com a música não é diferente. 

Dentro da House Music europeia, uma das sub-vertentes que mais vingou, em especial na segunda metade dos anos 2000, foi o Tech House e sua segunda onda de artistas. Yousef, Martinez, Danny Daze, Lee Foss são exemplos. Se você entendeu a ideia até aqui e pensou na Hot Creations, acertou em cheio, já que talvez seja a gravadora mais significativa desse período se tratando de Tech House.

Paralelo a esse boom de artistas que flertavam com o Techno e o House, também existiam artistas que flertavam com o House e Trance de forma simultânea. House e Trance Music misturados nada mais é do que Progressive House. Aposto que você achou que eu ia falar sobre o Swedish House Mafia, né? Parafraseando o grande Fausto Silva: errou!

Um bom exemplo de pré EDM do qual estamos acostumados nos dias de hoje seria Richard Durand. BPM na casa dos 130, progressões herdadas do Trance e timbragem vinda do Electro House. Aquela salada mista que os recém-chegados ao universo da club music adoram.

Mas e se eu te falasse que os integrantes do Swedish House Mafia – que é o ápice do EDM – faziam House e Techno? Muito difícil de acreditar, diz aí? Mas é a verdade e digo mais, tem gente aí que lançou em selo conceituadíssimo, adorado pelos DJs do underground e não foi com projeto paralelo, não. Eu vou mostrar os primeiros trabalhos de cada um pra gente começar a linkar o Tech House e o EDM. É meus amigos, doa a quem doer, mas é verdade. 

Axwell 

Em 1998, Axwell lançou seu primeiro disco através da Stoney Boy Music, label suéco como de se imaginar. O nome? Jazz Player. O release é uma mistura de Funk, Soul e Jazz. Não é algo estrondoso de bom, mas sem dúvidas muito melhor do que ele apresentou 15 anos depois desse lançamento.

Steve Angello

Talvez o que mais se aproximava do que o Swedish House Mafia viria a ser, Angello passeava entre o Tech House, Tribal e Electro nos seus primeiros trabalhos. Ele também é o cara que bolou a Size Records, label seminal pro Electro House dos anos 2000.

Sebastian Ingrosso 

Acreditem se quiser, mas o Ingrosso era do French House. O primeiro release do Sebastian foi com outra lenda sueca, John Dahlback, através do EP Stockholm Disco, lançado na também sueca Joia Records.

Bônus | Eric Prydz 

Hoje conhecido pelas apresentações que faz onde mistura Techno e projeções, Mr. Pryda fez parte da primeira formação do Swedish House Mafia. Não se sabe ao certo o porquê dele ter saído, mas acho que dá pra deduzir pelo o que ele apresentava em seus releases como Cirez D.

Bônus | Laidback Luke

Doa a quem doer, mas Laidback Luke, que não faz parte do Swedish House Mafia mas é como irmão dos caras, lançou pela Rotation Records de Dave Angel em 1998, ano que tanto Dave quanto Rotation estavam bombando. Aliás recomendo que você perca o preconceito sobre ele e pesquise os primeiros trabalhos de Laidback Luke, que são excelentes.

Bom deu pra entender que os caras que cunharam a sonoridade EDM vieram do Techno e do House, não é mesmo? Então por que a mudança abrupta para algo com alto apelo comercial? Ninguém sabe, pois os mesmos não costumam falar sobre essa virada de casaca que rolou. 

Se observar a trajetória dos artistas citados acima, dá para perceber uma tendência para o lado mais mainstream. Pouco antes do Swedish rolar, Prydz já havia emplacado hits como Call On Me e Woz Not Woz em major labels como Universal e EMI. Steve Angello tinha emplacado a Size Records no então tradicional mercado norte americano, fazendo o Electro House ferver por lá e, por fim, Axwell era o novo queridinho das bandas Indie quando o assunto era remixes para pista, como em Hard To Be do Hard-Fi, além dos featurings com Benny Benassi, Ron Carroll e Bob Sinclar pra citar alguns. 

E hoje? Por que o Tech House é chamado de novo EDM? 

Vindo agora pros dias atuais, podemos observar artistas como Detlef, Chris Lorenzo, Latmun e claro, o novo rei do so called Tech House, Fisher, fazendo um resgate desse pré EDM criado pelos integrantes do SHM, onde felizmente o groove manda. mais que as cornetas e o countdown clássico que o DJ de EDM faz de cima do praticável.  

Mas a pegada entertainment guy nessa galera não foi deixada de lado, as subidas no praticável ainda rolam, os three, two, one, go! também, tudo isso regado a muito CO2 e pirotecnia. Os especialistas dão um nome para isso: experiência. Esse é o principal motivo do EDM ter sido o que foi. A experiência aqui ganha tanto destaque quanto a música. 

Como eu já te disse, a música é tendência, e o EDM dos anos 2010 morreu por enquanto. Como em qualquer situação onde algo que funcionava e deixa de funcionar, você se vê obrigado a parar, se reestruturar e executar de forma diferente o que vem sendo feito. Os DJs que faziam parte desse movimento fizeram exatamente isso, zeraram o jogo e começaram quase que do zero, voltando a suas origens e trazendo o Tech House para a luz do EDM. Simples assim.

Existe também, claro, a camada do Tech House que faz um trabalho consistente fora desse flerte com a EDM. É, hoje, o pessoal do Minimal, Micro House e vertentes semelhantes. Subb-an, Chris Stussy, East End Dubs, Sweely são (alguns) bons exemplos disso.

Agora, eu quero encerrar esse editorial com um cara muito singular, ele pegou o limite do EDM e jogou fora, literalmente. Já sabe de quem eu to falando? Logicamente que é dele, Salvatore Ganacci, ou como ele ficou conhecido pelos mais azedos, The Worst DJ Ever. O cara tá nem aí, ele é o que ele é e usa isso ao seu favor e eu admiro isso para um caralho. Caso você nunca tenha visto o Salvatore, recomendo que você sente antes de dar play nesse vídeo aqui:

Aí Salvatore, quero ser seu amigo!

A música conecta. 

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