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A música conecta

Mergulhamos na tradição da Noruega frente a cena Disco

Por Laura Marcon em Editorial 25.09.2020

Pequena e orgulhosa de seu passado viking, a Noruega foi criada entre o gelo e o mar da Península Escandinava europeia e impressiona a quem pisa em seu território pela primeira vez, já que qualquer lugar do país que se olha parece ter sido pintado ou esculpido por um talentoso artista. A lista de motivos pelos quais a Noruega é um lugar apaixonante não se restringe apenas ao visual: economia estabilizada, baixa violência, sustentabilidade e valorização da cultura também são pontos de destaque que a colocam como um dos países mais desenvolvidos e o melhor lugar para se viver no mundo.

Ao vislumbrar as belíssimas áreas montanhosas, paisagens verdes, regiões petrolíferas riquíssimas e cultura conservadora, onde o skate era ilegal até o final dos anos 80, não se imaginaria logo de cara um cenário cultural dentro da música eletrônica tão consistente e influente em todo o mundo e mais uma vez a Noruega surpreende e desponta: nomes como Röyksopp, Annie, Ost & Kjex, Todd Terje, Prins Thomas, Finnebassen, Skatebård e muitos outros são de lá, mantendo uma tradição de alto padrão artístico e podemos até dizer vanguarda em relação à algumas linhas sonoras.

A história da Noruega com a Dance Music é antiga e acompanha a linha do tempo até mesmo da história da música eletrônica como um todo, ainda que o país esteja muito distante dos Estados Unidos. Tudo aconteceu a partir de Tromsø, Bergen e Oslo (capital do país) e através de figuras como Per Martinsen, também conhecido como DJ / produtor Mental Overdrive, e Bjørn Torske, considerado o gênio enigmático da Dance music norueguesa. São essas e outras poucas figuras que, em meados da década de 1980 ouviam discos importados por mala direta ou através do rádio, já que a cidade de Tromsø é extremamente afastada e até hoje não possui uma linha de trem, para se ter ideia.

O efeito da cidade foi primordial para influenciar a psique criativa dos jovens, que começaram a produzir seus sons e que curiosamente os levaram a um estilo tão distante da sua cultura, já que a Disco Music tem suas raízes atreladas à comunidade negra de Nova Iorque. De qualquer forma, até hoje tenta-se definir o que é a música Disco cósmica da Noruega – um gênero também conhecido como “Scandolearic”, “Space Disco”, e outras denominações.

Faixas excêntricas, meio psicodélicas, efeitos espaciais, sintetizadores que parecem brilhar, linhas de grave um tanto desequilibradas e uma atmosfera musical leve e divertida que aparenta uma brincadeira infantil. Deu pra entender? Não sei, mas aposto que se você ouvir as produções vindas de artistas como Todd Terje, Prins Thomas, Lindstrom e Skatebård você entenderá do que estamos falando. 

Outra figura muito importante para a história do cenário da Dance Music norueguesa – e que inspirou muitos dos nomes que hoje encontramos entre highlights mundiais – é Tore Andreas Kroknes, também conhecido como Erot. Ele foi um DJ / produtor pioneiro no país que morreu aos 23 anos em 2001 devido a um problema cardíaco que enfrentava desde o nascimento. O artista representa para a Noruega o início de sua real personalidade sonora, eis que é considerado o primeiro produtor que apontou para um novo som que era genuinamente norueguês e que tinha raízes na Disco Music, e produzia de forma consistente e em alto nível. Ele produzia suas faixas juntamente com sua namorada da época, Annie, artista que até hoje é uma das grandes referências musicais do país.

Para além das produções, foi nos anos 90 que estes personagens também deram sua energia para produzir – e literalmente construir – a primeira rave em Tromsø e a primeira gravadora de Dance Music indígena da Noruega, Tellé Records. A partir de então o país nunca mais parou de crescer dentro da cultura eletrônica. Nos últimos anos, a Noruega tem visto um crescimento constante em eventos de clubs e festivais, incluindo todos os gêneros, desde Psy-trance, Disco, Deep e Tech House até Techno. Festivais como o The Midnight Sun Festival acontecem em um ambiente surpreendente onde a música é combinada com arte, natureza ártica e vida selvagem. 

Essa história e muitos outros detalhes foram retratados no documentário Northern Disco Lights: The Rise and Rise of Norwegian Dance Music (Northern Disco Lights: a ascensão e ascensão da música de dança norueguesa), em 2017. O filme demorou três anos para ser produzido e conta com o depoimento e participação da maioria dos artistas aqui citados e outros que também são relevantes para contar toda a história de amor entre um país que aparenta calmaria e serenidade, mas que lá no fundo é bem explosivo.

A música conecta.

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