Quem é empreendedor no Brasil, sabe que os caminhos para o sucesso não são fáceis. Mas Renato Ratier e sua equipe conseguiram superar todos os obstáculos transformando o D-EDGE em um lugar histórico, um ponto turístico da cidade de São Paulo que atrai milhares de pessoas para conhecer e sentir de perto a experiência que as diferentes noites do club podem oferecer.
Entre essas noites está a Moving, festa que no dia 04 de outubro completou 16 anos de história, trazendo na bagagem inúmeros artistas nacionais e internacionais ao longo dos anos graças a curadoria assertiva feita por Renato Ratier e Anna Biazin em todo este período que a festa existe. Nós já a entrevistamos por aqui em 2017, mas o momento especial abre espaço para um novo bate-papo, até porque o difícil período que atravessamos é único na indústria do entretenimento.
+++ Há mais de uma década frente à Moving, Anna Biazin fala sobre os desafios de sua carreira
A Moving escala com frequência nomes nacionais como o próprio Ratier, Diogo Accioly, Binaryh, mas já foi responsável por trazer RichieHawtin, Marco Bailey e Adam Beyer numa só noite, Anthony Parasole, Derrick May, Tiga, Tale Of Us, Maceo Plex, Octave One, Len Faki, Sven Väth…nem precisamos continuar, né? Mas e como é celebrar 16 anos de festa sem poder receber o público e as atrações? Essas e outras perguntas ela nos responde na entrevista abaixo:
Alataj: Anna! É um prazer tê-la por aqui mais uma vez. Hoje, o clima de celebração também vem com um sentimento de dor e saudade. Quando a pandemia chegou você imaginava que poderíamos ficar tanto tempo afastados da pista? Como está sendo esse período pra você, pessoalmente falando?
Anna Biazin: Não tem sido fácil pra mim nem pra ninguém da área de eventos esse período, e ainda continua tudo muito incerto, e a sensação de medo do que pode ser o futuro continua. No princípio sinceramente eu achei que até junho/julho voltaríamos… depois pensei que o mais tardar em setembro/outubro, e até hoje ainda não sabemos. Eu só tenho a agradecer esse período o apoio que tenho tido do Renato, tem sido fundamental para minha sobrevivência.
Como você caiu nesse mundo dos eventos, seja como hostess, curadora ou promoter… o que te levou até o mundo da música eletrônica?
Nossa! Foi muito sem querer, eu trabalhava em outra área completamente diferente e estudava Direito. Sai do local a onde eu trabalhava e comecei a pegar uns “bicos”. Como eu conhecia bastante gente que trabalhava na área de eventos, comecei trabalhando em telemarketing, divulgação, hostess… pra onde me chamava eu ia, precisava trabalhar e estava dando certo. As coisas foram acontecendo rápido, até que fui parar no D-EDGE em 2002 e de lá nunca mais sai.
Agora falando da Moving: ela se tornou a tradicional festa de Techno do D-EDGE, recebendo das camadas mais superficiais às mais profundas, com o conceito de sempre estar em movimento e evoluir. Quais foram as principais mudanças que tiveram ao longo destes anos?
Nesses 16 anos rolou muita fluidez, a Moving já passou por muitas vertentes musicais conforme a época…Progressive, Electro House, Deep House, Tech House, agora mais pro Techno, mas nada engessado… Sinto a Moving agora sem rótulos musicais, por ser uma festa semanal ela precisa ter uma flexibilidade musical.
Você sempre foi uma fã do estilo ou aprendeu a gostar ainda mais com a experiência à frente da noite?
Eu particularmente sou fã da Techno industrial, gosto de uma linha musical mais dark obscura. Mas meu gosto musical mudou muito durante todos esses anos, e acredito que ainda vá mudar dependendo o período de vida que eu estiver passando. O House também sempre vai morar no meu coração, mas musicalmente eu sou bem eclética.
Mas isso eu digo quanto ao meu gosto particular, porque na Moving o Techno vai em todas as vertentes, Melódico, Industrial, Acid, dentre outros. Na Moving quem dita a música é o público!
E quais são seus artistas favoritos do momento? O que Anna Biazin ouve quando está no trabalho ou mesmo em casa ou na rua?
No meu dia a dia ando não escutando muito música eletrônica, principalmente no momento que estamos vivendo. Escuto muito música clássica, FKA Twigs, Sevdaliza, Billie Eilish dentre outrxs artistas nessa linha.
Nestes 16 anos, quais foram as situações mais inesquecíveis que você presenciou na Moving? Qual é a parte mais prazerosa de um trabalho como esse?
São inúmeras memórias ao longo desses anos. Principalmente muitas coisas de bastidores inesquecíveis, mas que algumas não podem ser relatadas, porém foram muito bem vividas. Lembro de momentos, fatos e muita correria para resolvê-los. Uma vez um cara foi roubar os fios do poste da rua, ficou grudado no poste e acabou com a luz da pista 1, foi cada uma! Mal sabia ele a confusão que ele arrumou!
A vez inesquecível do Laurent Garnier em 2005… Nada supera esta festa e todos os problemas ocorridos que foram uma lição e um crescimento profissional incrível. Foi uma data marcante pra mim. Tiveram também alguns aniversários meus que aconteceram algumas cenas inusitadas e engraçadas… me lembro de um em que o Renato me colocou no ombro no lounge enquanto o Ale Reis e o João Lee tocavam Frankie Sinatra – Happy Birthday, mas o Renato é alto e minha cabeça ficava batendo no teto do lounge enquanto todos olhavam pra minha cara cantando parabéns! Aaaaaa, foi muito muito engraçado!!!
A parte mais prazerosa com certeza é receber os amigos, quando todos os meus amigos mais especiais vão a Moving, aquela bagunça gostosa, o Renato tocando, só de escrever aqui lembrando me da uma nostalgia e um anseio de voltar logo tudo ao normal.
Se você pudesse dar um conselho para a Anna Biazin de 16 anos atrás, quando estava começando o trabalho na Moving, qual seria?
Acho que tudo aconteceu do jeito que tinha que acontecer, tenho muito orgulho da minha jornada, sou muito agradecida ao Renato por toda a confiança e parceria, e quanto aos erros que cometi, sem eles eu não teria aprendido, tudo faz parte, tudo é importante.
Existe uma música que melhor representa a noite na sua opinião? Se ficar difícil, pode ser mais de uma também [risos]!
São várias, mas me lembrei aqui de três que foram e continuam inesquecíveis clássicos que tocam e tocaram muito na pista da Moving:
Existe algum artista que ainda não foi possível trazer para a Moving que você ainda sonha?
Ah sim! Uma lista enorme de nomes que gostaria. Mas aos poucos vai acontecer, e eu espero ser logo, assim que essa quarentena acabar quem sabe aos poucos voltamos a trazer fortes atrações. Mas até lá a Moving está com a série DJs na Cozinha, onde convidamos alguns djs para cozinhar e ao mesmo tempo comentar quais músicas escutam em casa preparando algo que goste.
Para finalizar, nós já perguntamos no passado o que a música representa na sua vida, então agora queremos saber: qual é a filosofia de vida que você leva e pratica todos os dias?
O nome Moving foi escolhido por sempre acreditar que o ser humano está e precisa ter ciência do seu papel em evoluir, como sociedade, civilização e humanidade. De nos movimentar. Então em minha vida busco sempre planejar o futuro, valorizar o passado, mas viver o meu agora. Sendo grata pelas oportunidades, pelas dificuldades, pelos aprendizados. A vida é esse grande movimento, como nós somos também, cheios de ciclos e fases. É vital ter esperança para que possamos sempre trabalhar em sermos a melhor versão de nós mesmos, resistindo, persistindo, sobrevivendo e evoluindo.
A música conecta.