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A música conecta

Alataj entrevista Djuma Soundsystem

Por Laura Marcon em Entrevistas 25.01.2021

Norueguês de nascimento, mas do mundo por opção. Mikkas Skulstad, ou Djuma Soundsystem como é conhecido, se considera um nômade de corpo, alma e inspiração sonora, sendo assim, não poderíamos encontrar algo diferente senão um artista de múltiplas facetas musicais. Criador do clássico moderno Les Djinns, Djuma tem emplacado lançamentos de alta qualidade nos últimos anos em labels importantes como Stil Vor Talent, Toolroom, Elite, Audiomatique, Get Physical, My Favorite Robot, Conya, Noir, para citar algumas.

Os talentos de Djuma transcendem a produção musical e ele também é um artista requisitado ao redor do globo com sets bem recepcionados pelo público e colegas de profissão. Aliás, ele já passou por aqui em uma apresentação super comentada no festival Universo Paralello e também em um momento histórico em sua carreira que foi sua apresentação no ano novo da praia da Barra, no Rio de Janeiro.

O artista teve um ano de 2020 pacato, buscando um belo descanso para o corpo e mente, mas sem abandonar completamente o estúdio e, portanto, lançando alguns trabalhos. A gente conversou com ele sobre os releases, inspirações, pandemia e outros assuntos. Confira! 

Alataj: Olá Djuma, tudo bem? Obrigada por falar com a gente! Você é da Noruega, uma terra muito fértil para a música eletrônica e com uma gama de excelentes artistas. Conte-nos um pouco mais sobre sua história com a música e como você chegou ao seu estilo.

Djuma Soundsystem: Sou norueguês, mas já se passaram mais de 25 anos desde que saí de lá, então acho que minha inspiração musical vem mais de viajar pelo mundo. Eu sou um nômade de corpo, acho que de alma e também de espírito musical. Tenho sido muito fascinado por ritmos africanos nos últimos dez anos, então as pessoas muitas vezes me conectam a isso, mas minha inspiração pode vir de qualquer lugar.

Uma breve passagem por sua discografia e já é possível perceber sua versatilidade enquanto produtor. Como manter a capacidade criativa em dia para trazer diversos estilos para dentro do estúdio?

Acho que a criatividade vem muito de figuras para mim, de novas experiências e pessoas que conheço. Frequentemente algo visual pode inspirar muito o auditivo. E então também tem a coisa óbvia: ouvir muitas músicas diferentes e manter a mente aberta.

Você faz parte do time de remixadores do terceiro volume de remixes do álbum Breathe, de Desert Dwellers. Você já tinha uma relação com o artista antes desse convite? Como essa parceria aconteceu?

Toquei com Treavor, um dos caras, em L.A., algo que parece uma vida inteira atrás – supondo que há 12-13 anos. Ele era um cara muito legal e deixou uma boa impressão. Mas, honestamente, não nos encontramos desde então. Eu já falei com ele algumas vezes quando estava lá, mas L.A. é grande e cheio de tráfego, então se encontrar não é tão fácil. Eu sou bastante espontâneo, eu acho, então não sou um grande planejador.

Sobre a faixa em si, ela carrega uma percussão bem marcante. Como foi o workflow dessa produção?

Eu fiz a espinha dorsal da faixa, que ritmicamente tem uma grande ênfase “naquela” batida. Tentei fazer as coisas um pouco diferentes do que costumo fazer. Mais tarde levei para meu grande amigo Nena Helena — que é um excelente percussionista — e gravamos muito para fazer soar mais orgânico e sem muito “loop”.

Um remix tem uma linha de produção diferente, já que você recebe o projeto do artista e trabalha a partir dele. O que você acha importante para produzir um bom remix?

Para mim, deve ser uma “versão” diferente da faixa original – então não uma faixa nova como tal, mas uma variação dela, onde o remixer coloca sua personalidade. Tentei construir algo em torno do vocal, que senti que era o cerne da história. Mas todo o resto é novo e diferente, então acho que quebrei um pouco minha própria regra nesse caso [risos].

Além do remix, você também lançou em agosto o EP Hunting Grounds, junto com Jonas Saalbach. Como aconteceu esse projeto? Foi em tempos de pandemia?

Na verdade, começou muito antes. Às vezes fazer música pode ser um processo longo. Jonas e eu temos sons ligeiramente diferentes, mas sempre ficamos curiosos sobre como poderia soar se colaborássemos, já que somos amigos íntimos há anos. O resultado surpreendeu um pouco a nós dois, pois não tinha o som de Deep House melódico de Jonas,

nem as vibrações afro orgânicas e descoladas pelas quais me tornei conhecido. Em vez disso, uma batida eletrônica quase triolitizada, deu origem a sintetizadores inspirados nos anos 80, profundos e trippy.

Por acaso, o emergente vocalista Chris McCarthy apareceu e nós o forçamos a usar o microfone. Todos nós sentimos que essa faixa é a soma de todos nós três, e não soa como nenhum de nós ao mesmo tempo.

Não dá pra ignorar esse período crítico que estamos enfrentando no mundo do entretenimento. Como você tem passado por esse momento? Ainda que tudo esteja muito incerto, você acha que teremos mudanças expressivas no cenário da música quando retornarmos?

Pessoalmente, tirei uma merecida pausa das viagens, da música e principalmente das redes sociais. Eu basicamente me escondi longe do Covid em uma pequena ilha grega, vivendo fácil, mergulhando com snorkel, fazendo yoga e caminhadas na natureza, principalmente. Foi puro remédio para mim. Economicamente muito difícil, mas estou muito feliz com essa pausa forçada de qualquer maneira, pois agora me deu muita energia nova e clareza, eu sinto. Estou com muito medo de que essa situação mate muitos pequenos negócios e clubes que fazem parte disso, já que a maioria dos bons clubes undergrounds estavam lutando antes mesmo dessa merda acontecer. Isso pode forçar a cena a ser mais comercial, o que é absolutamente trágico.

Quais são os próximos passos de Djuma Soundsystem para os meses que virão?

Eu realmente sinto que é um novo ano e novas possibilidades, então estou ansioso para voltar para a música. Estou lançando minha própria gravadora agora, chamada Iziki, mesmo nome da minha série global de festas. Será uma joint venture entre a Europa e a África. Também tenho algumas músicas planejadas em outras gravadoras. O primeiro lançamento será pelo Stil vor Talent. Acabei de confirmar alguns dos meus artistas favoritos para remixar, então estou muito animado com isso.

Para finalizar, uma pergunta tradicional do Alataj: o que a música representa em sua vida?

Acho que tocar música é algo exclusivo do ser humano, então deve ser uma expressão exatamente disso. Parece uma parte de mim que preciso liberar para sentir que usei todo o meu potencial. Espero poder criar algumas emoções e dar alguma felicidade aos outros através disso.

A música conecta.

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