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A música conecta

Alataj entrevista Lourene [Redoma]

Por Laura Marcon em Entrevistas 10.11.2019

Quatro anos de uma grande celebração independente multicultural. A Redoma, agência de artistas e projeto de eventos itinerantes tem muito o que comemorar! Nascida do desejo de proporcionar uma experiência além da música em Curitiba/PR, a Redoma se destacou nacionalmente pelo seu viés político, liberdade criativa, colaborativismo, sempre em um espaço aberto e igualitário a todos os gêneros.

Desde o seu surgimento, o projeto, com muito trabalho, levantou a bandeira da contracultura na capital paranaense e entregou uma grande experiência artística em quase todas as suas formas, incentivando e inspirando novos núcleos e projetos que valorizam produtores locais que buscam uma identidade singular e profunda – assim como o próprio DNA da Redoma. 

Produzida e mantida pela Gold Dome, selo que além de organizar festas é envolvido com diversos prismas da arte como moda, fotografia, vídeo e produção musical, a Redoma tem Lourene como sua fundadora e mente por trás desta revolução artística. Na sequência de uma recente festa que comemorou os 4 anos da marca, batemos um papo com ela para saber um pouco mais sobre a evolução do projeto ao longo dos anos, próximos passos e muito mais: 

Foto por Paulo Candido

Alataj: Olá, Lourene! Tudo bem? Obrigado por nos atender novamente. 4 anos de Redoma, uma conquista e tanto. Ao olhar para todo histórico desta jornada até aqui, quais são os primeiros sentimentos que vem a tona?

Lorene: Ah! Muito bom estar com o Alataj, novamente. Vocês sempre fazendo parte da nossa história, muito obrigada! E sym, são 4 anos de Redoma e 6 anos de Gold Dome, por isso – sinceramente – os primeiros sentimentos são de gratidão e honra. Lembrando de todas as produções de moda e coleções, lançamentos de música e de vídeo, mais de 40 eventos, muitas viagens e trocas, experiências maravilhosas com artistas e público satisfeitos, acredito ser maravilhoso viver o que vivo à frente dos dois projetos.

Entendo que a Redoma e demais iniciativas ligadas a ela possuem um papel muito importante de inclusão na cena curitibana. É possível dizer que este ponto é uma das prioridades de seu trabalho?

A inclusão é UMA DAS nossas prioridades, sim. Só que a prática inclusiva tem se tornado cada vez mais responsável por aqui. Temos estudado possibilidades e ouvido as reais necessidades existentes. Inclusão perversa gera questões muito pesadas, também. É preciso ter humildade e muito amor para saber admitir que não compreendemos quase nada. Tudo se dá por um processo eterno de aprofundamento e aproximação. 

Um dos pilares da Redoma é o trabalho colaborativo. Como é pra você organizar essa questão de forma que isso se torne positivo para todas as partes envolvidas?

Na Gold Dome e na Redoma tudo que é realizado envolve investimentos muito altos. Creio que essa é a realidade da maioria das produções em nosso país, o qual cobra impostos altíssimos sobre tudo que necessitamos. Nos dois projetos o foco nunca foi o lucro, mas sim, fazer acontecer com qualidade. 

Visto que ainda não temos investidores ou patrocinadores, o processo colaborativo se dá por espaços claros de necessidade mútua e de manifestação artística – não excluindo o capital, mas priorizando a troca. Quem precisa de espaço, gerenciamento de carreira, visibilidade, representatividade, organização, aprendizado, network, autoconhecimento, lugar de fala, colocação no mercado artístico, equipamentos, materiais, pertencimento e respeito profissional, sempre está satisfeito e apontando inúmeras possibilidades de crescimento que levam ao capital. 

A evolução de um(a) artista em nosso país depende muito disso tudo e não encontra oportunidades ou abertura no início da carreira. No momento atual, considerando a evolução das marcas e dxs envolvidxs, conseguimos monetizar as apresentações em diversos eventos e não sair no prejuízo, nos nossos. Todos crescem juntos e não há centralização de ganhos altos com minorias exploradas ganhando pouco, mas só alguns trabalham todos os dias pelo projeto, o que faz aumentar o tempo de execução de muitas coisas e ainda sobrecarregar alguns. 

Atualmente nosso desejo é fazer parte de leis de incentivo e criar ativações de marcas interessadas em nosso trabalho, para que nos dediquemos 100% aos projetos culturais e elevemos – mais ainda – a qualidade e o alcance deles. 

Psicologia da arte. Como exatamente esse conceito se faz ativo no dia a dia dos artistas da Redoma?

A experiência estética é parte integral dos nossos dias enquanto artistas, em tudo que olhamos, sentimos, vivenciamos. Claro, primeiro a estética não tida como um padrão normativo – mas a qual detém inúmeras possibilidades de vivência perceptiva. Estamos sempre co-criando, colaborando, compartilhando. Audio, visual, sinestésico, dramático, cômico, belo, estranho – em conceitos plurais e não limitados. 

Entre nós, todo momento é uma oportunidade para a imersão nos universos dos processos criativos uns dos outros. Antes de mais nada, nós desconstruimos padrões internos, muito antes de tentarmos facilitar isso ao público em nossas ocupações e produções ou de discursamos sobre qualquer coisa. Além disso, totalmente relacionada à toda experiência na imensidão artística, existe a problemática de sermos seres urbanos, inseridos em cidades construídas e habitadas por história de heteronormatividade e violência que se manifesta em arquitetura, geografia, narrativas etc. 

Então, quando analisamos contempiranhamente (por meio da contempiranhedade – nosso conceito e prática de arte contemporânea permeada por feminilidade) os contextos sociais, nos percebemos agentes transformadores e movimentadores de zonas de conforto, abrimos portais incríveis nas falácias da sociedade que – por séculos – proíbe e anula a criatividade e a criação intrínseca ao ser. 

Existir em Redoma é reconhecer nossos privilégios e pertencer a um refúgio embasado e repleto de cura. Cura essa que ocorre quando somos acolhidos em nossas potencialidades e dificuldades, as quais são descobertas e escancaradas a todo momento nesses processos grupais descritos acima, de forma perfeita e dolorosa. Isso porque tal forma não se apresenta em negação da realidade, mas sim, em aceitação, coletividade e foco. 

Foto por Eudig

A programação da Redoma para sua festa de 4 anos está realmente especial. O que você pode nos contar sobre os detalhes da concepção deste evento? [pergunta e resposta finalizadas antes do evento acontecer]

A magia de toda Redoma é incomensurável e impossível de ser colocada em palavras. Cada evento atrai aquilo que é necessário para transpirar perfeição, até mesmo nas dificuldades. Quando eu conheci a DJ e produtora Anah (Barcelona) foi exatamente isso: conexão forte, rápida e paradoxalmente complexa_simples. Quando você vibra arte, não importa onde você está, irá se conectar com quem também vibra. 

Foi assim com o artista visual Aun Helden em São Paulo. Ele me produziu em um editorial de Tata Guarino para a Pornceptual de Berlim e as almas convergiram em admiração. É por me conectar com artistas como elxs & todes xs envolvidxs em uma celebração de 24 horas (com vernissage – palestra, exposição e offixxial aftyr) que eu digo que me sinto honrada. 

Tudo sobre todes que queremos enaltecer no dia 1º de novembro está aqui e cada detalhe preenchido há meses, todos os dias, toma forma imperdível, fluida e dmtológica ao ar livre e com muita qualidade. Sendo possível aplenas porque atuamos em comum_unidade e com muito, mas muito trabalho.

Em termos de curadoria, para quais caminhos a Redoma está sendo direcionada em 2020? Na sua opinião, qual dos artistas que já passaram pela festa representa com propriedade o espírito da marca?

Configurando_se como um evento intercultural, a curadoria na Redoma é sempre complexa. A questão é que, cada vez mais, existe uma sintonia perfeita entre missão_visão_valores & quem é responsável por tal seleção e estudo no projeto. 

O processo de pesquisa e integração é tão intenso que, no fim, se dá – também – pelo inconsciente coletivo do grupo. 2020 é o ano no qual nos propomos a continuar a temática ainda não revelada explicitamente neste evento D4 anos. Serão 4 grandes festas detalhadamente realizadas para trabalharmos questões emocionais ligadas a um tema específico. 

Portanto, quem vai nesse dia 1º aproveita a história desde o início – podendo desfrutar de auto-conhecimento e experiências incríveis, até o final do ano que vem.  Sobre “representar o espírito da marca” eu posso afirmar que isso só é possível no todo. O espírito da DONA REDONDA não está em um ou em alguns artistas convidades ou residentes – mas sim, no poder absurdo experimentado no resultado criado em toda edição. 

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A pureza e a perfeição com as quais busco me harmonizar e pelas quais vivo eternamente. 

A música conecta.

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