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A música conecta

Alataj entrevista Yves Tomas

Por Ágatha Prado em Entrevistas 08.12.2022

Um talento que sabe aproveitar o que há de melhor através dos variados caminhos musicais, somado à experiência de longos anos de um trabalho preciso dentro do estúdio. Yves Tomas é um artista que decidiu não seguir regras, e sim, criar seu próprio mundo.

Desde que acompanhamos seus primeiros projetos como produtor dentro da música eletrônica, que se deu através da estreia do EP Pilot na Rekids em 2020, vimos que Yves tinha um brilho singular. Seu know hall como engenheiro de áudio de trabalhos importantes dentro do Pop e do Grime, forneceu régua e compasso para um start disruptivo e de grande personalidade dentro de uma das gravadoras mais reverenciadas da Europa. Pilot mostrou que Yves não tinha medo de ousar, misturando raízes musicais que foram bases para seu profissionalismo, cultura e formação.

+++ Relembre: Um importante engenheiro de som do mundo Grime assina novo release da Rekids

De dois anos pra cá, já com um trabalho ainda mais maduro em mãos, Yves agora abre espaço para explorar ainda mais os potenciais de sua criação, com sua própria gravadora Interlink, por onde ele mesmo abre alas com o single Collect All, parte do EP inaugural que chega neste mês. É sobre suas expectativas, suas formações, experiências e detalhes de seus novos trabalhos que conversamos com Yves Tomas. Confira a entrevista:

Alataj: Olá Yves, tudo bem? É um prazer entrevistar você. Acompanho seu trabalho desde sua estreia na Rekids, com o  EP Pilot, onde por lá você contou um pouco sobre a sua jornada musical heterogênea com fortes influências de raízes sonoras britânicas. Como você vê sua evolução como produtor de música eletrônica, desde esse lançamento até aqui?

Yves Tomas: Ei! É um prazer falar com você também. A cobertura do Alataj para Pilot foi um destaque para mim, obrigado! Pedi a um amigo que traduzisse o artigo e foi algo muito legal.

É uma ótima pergunta! Quando Pilot estava sendo montado, o Radio Slave tinha um monte de músicas reunidas ao longo dos anos que eu havia pré-selecionado para ele e fiquei realmente surpreso com sua seleção, até um pouco nervoso, mas Matt (Radio Slave) sabe exatamente o que está fazendo e acabou sendo a escolha perfeita para criar uma base e deixar as pessoas saberem do que se trata meu projeto.

Muita coisa mudou desde então, pessoalmente e, claro, globalmente, mas sinto que o sentimento pelas minhas produções ainda permanece o mesmo, o de expressar e explorar as vastas possibilidades da música eletrônica com uma base sólida das minhas raízes e experiências musicais, mas, mais importante, com foco em levar as coisas adiante e descobrir o que o futuro da dance music me reserva.

Além de produtor musical, você é um engenheiro de áudio que leva muita experiência na bagagem, já tendo trabalhado com grandes nomes da música Pop e Grime. Certamente esse know how deve ter ajudado e muito você a ter uma visão mais ampla com relação aos aspectos de criação e finalização musical dentro de estúdio, não é mesmo? Quais são os principais insights técnicos que você importa de outros estilos, na hora de aplicar nas finalizações de suas faixas?

Sim, totalmente! Minha formação é em som ao vivo e engenharia de estúdio, aprendi muito com esse trabalho, também aprendi muito sobre hardware e desenvolvi meu amor por ele, técnicas de microfone, estruturação, como construir e manter um estúdio, como aperfeiçoar o som ao vivo, produção de vocal e como extrair o melhor proveito de um vocalista, mas acho que minha lição mais importante veio do processo de composição.

Às vezes eu organizava sessões com muitos escritores e produtores para grandes artistas pop (não vou citar nenhum nome, pois alguns deles ainda afirmam que eles escrevem suas próprias letras [risos]), mas o que eu descobri foi que eu estava na posição errada. Eles ficavam indo e voltando sobre um gancho ou uma ponte e eu tinha isso na minha cabeça, era tão frustrante porque como engenheiro em um estúdio respeitado, você tinha que apenas morder a língua. Esse sufocamento criativo é o que realmente me deu motivação para começar a promover minhas próprias produções.

Ainda com relação às suas raízes musicais influenciadas pelo Grime, Jungle e Drum n’ Bass, essa bagagem faz com que sua assinatura tenha um formato bem diferenciado, o que a torna ainda mais especial. Quais artistas contemporâneos desses estilos, tem sido referência para você e que tenha entrado no seu radar nesses últimos anos?

Eu tiro uma inspiração enorme da era do jungle em que cresci e sou muito orgulhoso em dizer que essa foi minha introdução à música, e não apenas à música eletrônica! A energia, a alma, a autenticidade, a garra! Trago tudo isso para cada produção. Acho que foi a era de ouro da dance music britânica, realmente atingiu o pico e acho que nunca estarei totalmente satisfeito como artista até fazer parte de um movimento igualmente importante. Assim como aquele som clássico do jungle, é difícil de recriar autenticamente agora e também é difícil tentar criar um som que vai agitar e definir uma geração. Tem que vir naturalmente através do amor genuíno, mente aberta e exploração.

Passei grande parte da minha infância em Bristol (um grande salve para a galera da Saint Paul’s) e enquanto eu desenvolvia minha própria identidade musical, descobri uma pequena loja de discos chamada Rooted Records (Punch Drunk/Livity Sound). Eu ia lá todos os dias e ouvia música com o uniforme da escola na hora do almoço. Foi uma época em que o grime e o dubstep estavam começando a decolar. Eu fui atraído por instrumentais do grime de produtores como Silencer, Maniac, Terror Danja e rude kid e os registros musicais mais abstratos do dubstep de artistas como Peverelist, RSD, Gemmy, Joker e Guido (de quem batizei uma faixa no EP depois).

Se o jungle está na minha raiz, eu diria que essa era do grime/dubstep é o tronco e a riqueza da música incrível que descobri nos últimos dois anos desde a minha estreia seriam as flores ou galhos (não tenho certeza para onde estou indo com essa analogia ou como vai traduzir [risos]). Eu estou realmente amando a vibração do Baltimore Club com o Calvo Music levando as coisas adiante e borbulhando house com Godfull Effect, sendo um artista de destaque a partir daquele momento. Também há nomes quentes e novidades como Otus, Image, Dharma e Conair, que estão prontos para causar um grande impacto!

Inclusive, seu novo single Collect All resgata ainda mais suas raízes musicais. A faixa nasce a partir de uma ideia bem interessante: uma conversa por telefone noturna, em um ônibus. Poderia nos contar mais sobre o desenvolvimento em torno dessa ideia? 

Sim, claro! Então, eu estava em um ônibus em Bow (o berço do grime), refletindo sobre meu tempo trabalhando com artistas da área quando recebi uma ligação de um velho amigo. Na verdade, falamos sobre relacionamentos e discussões, principalmente discussões por telefone e como elas são frustrantes, a quebra de comunicação e como duas pessoas que se amam podem, em alguns casos, não entender uma palavra que o outro está dizendo.

Foi aí que tive a ideia do Collect Call. Peguei meu telefone e comecei a gravar o ambiente do telefone que você pode ouvir na introdução e fui direto para o trabalho no dia seguinte.

E para aguçar ainda mais nossa curiosidade, o que mais podemos esperar do EP completo que chegará em dezembro?

Posso dizer que esse é o meu lançamento favorito! Cada uma dessas faixas é especial e foi solicitada por outras gravadoras, mas eu queria guardá-las como um pontapé para o lançamento do meu próprio selo.

Tive um ano muito estranho e emotivo, mas também incrível. De uma importante relação de trabalho que se desfez e azedou no início do ano até a realização de uma trilha sonora encomendada para a semana de moda de Copenhague. As músicas do EP são um reflexo completo do meu ano — a liberdade, as frustrações e a perda, até a última faixa, que é uma celebração, na verdade!

O trabalho também se apresenta como o pontapé inicial do seu novo imprint, Interlink. A festa de estreia do selo, que rolou no Tola, parece ter sido incrível. Quais são os planos da Interlink tanto como gravadora, vitrine nas pistas, para os próximos meses?

Ahh sim, foi uma noite super divertida no Tola! Na verdade, inicialmente era para ser uma festa de lançamento do EP, mas as coisas foram postergadas. Estou feliz que eles fizeram no final, embora tenha funcionado muito bem. Eu basicamente vou manter as coisas em movimento!

Estou planejando uma festa de lançamento intimista para o EP e outra noite da gravadora em janeiro! Conheço tantos produtores incríveis que compartilham minha mentalidade e o ethos da Interlink com os quais estou planejando projetos. Estou muito animado com o futuro dessa label.

E sobre os seus futuros trabalhos, você possui algo preparado já para 2023? Como estão os planos?

Eu tenho MUITAS músicas! Planejo lançar outro EP em março e, no final da primavera, um grande disco de faixas 4×4 para clubs, que tem recebido ótimas reações nas pistas de dança, fiquem ligados!

Finalizando com uma clássica pergunta do Alataj: o que a música significa para você?

É liberdade, é o sexto sentido, o grande nivelador, é o conector universal, é um nível mais profundo de expressão e um nível mais profundo de compreensão.

A música conecta.

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