Ahhhh, Caribou… como não simpatizar com as sonoridades de Dan Snaith logo de cara? Até os corações mais cinzas esboçam um sorrisinho de canto quando uma música toca e não é sobre coração somente, mas sobre cérebro. O cara manja muito. Estamos falando de mais de duas décadas, alguns pseudônimos e um produtor afiadíssimo, talentoso, provido de muita sensibilidade e um reservatório de fagulhas criativas. Se sou fã? Sim. Sei que muitas pessoas do Alataj que vão se envolver com esse texto de hoje por questões profissionais também são. Começo hoje a Iconic com uma música que fala sobre o rei Sol, logo hoje que ele decidiu se esconder. Nem mesmo sei se Sun é a minha faixa mais icônica quando penso neste projeto, tem várias e por isso senti que deveria trazer um pouco mais sobre essa história antes de culminar na escolhida desta semana.
Daniel Snaith trouxe certa dose extra de genialidade à música eletrônica, algo que se sobressai àquilo que já é bom, seu blend sonoro transcende à pista de dança, mas paradoxalmente não sai dela. Afinal, ele já recebeu remixes de artistas de calibre como Carl Craig, Mano Le Tough, Tale Of Us, Shanti Celeste, Four Tet e Floating Points. Mas além disso, criar nunca pareceu algo difícil pra ele, arrisco dizer que ele é daqueles que não tem medo de ousar, quando você escuta a mistura de Your Love Will Set You Free, você percebe isso. Não só nela.
Sun é um faixa contemporânea cheia de graça, dinamismo e inteligência. Ela foi lançada oficialmente dentro de Swim (2010), um álbum que marcou o refresh na mentalidade do artista, que o tornou ainda mais meticuloso. É a segunda música e mistura em seus quase seis minutos de história tudo o que admiro nele: tem uma elegância absurda em sua intro jazzística, com uma bateria super viva e você fica logo imaginando que será de um jeito e, bom, não será, os synths surgem reverberando em notas ainda mais vivas. É lindo!
Caribou representa esse ser indiscutivelmente experimental, então, escapar do óbvio é como um mantra para ele e você vai perceber isso no desenrolar da história, que é uma verdadeira alquimia. Aqui, o orgânico e o eletrônico se fundem de forma impecável e a palavra Sun ficará ecoando pela faixa até que aquela energia de Jazz retorne para acalmar os ouvidos, mas não se engane, ela precede o caos (o que mais gostamos nele). Fagulhas ácidas surgem junto à uma dose entorpecente de um som interestelar e te garanto que perder o fôlego não é uma opção.
Há também um edit feito pelo Midland que enaltece essa camada mais orgânica da faixa, deixando a bateria ainda mais iluminada aqui. Normal, todo bom ouvido que se preze quer desfrutar um pouco dessa estrutura criada pelo artista e trazer novas versões, edits e tentar melhorar aquilo que já é ideal. Um quebra-cabeça complexo demais para destrinchar em palavras. Eu espero que depois de toda essa construção textual você já esteja com o fone na mão para curtir Sun. E todas as outras faixas dele, é sério!
A música conecta.