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A música conecta

Uma lista de sucessos de 2015 que seguem soando atuais

Por Elena Beatriz em Socials 07.10.2025

2015 marcou um raro momento de convergência na música eletrônica. As rádios, que ainda mantinham papel relevante na construção do gosto popular, promoviam uma fusão entre Pop e dance music, a exemplo de hits como Sugar (Robin Schulz & Francesco Yates) ou How Deep Is Your Love (Calvin Harris em parceria com Disciples). Ao mesmo tempo, plataformas de streaming como Spotify começavam a ditar a nova dinâmica de descobertas musicais, enquanto o SoundCloud seguia como principal recurso para lançamentos independentes. Concomitantemente, a presença de grandes festivais internacionais no país começava a se tornar mais constante, ajudando a expandir a visibilidade do estilo e transformando a forma como ele era consumido.

No mainstagem, o EDM era predominante, combinando artistas como Hardwell e David Guetta, que representavam a face mais expansiva e comercial do gênero. Paralelamente, o House e o Techno em suas variações mais acessíveis e melódicas ganhavam espaço com projetos como Claptone, Jamie Jones e Bob Moses, aproximando o público de sonoridades que, mesmo sem romper completamente com o mainstream, apresentavam uma proposta capaz de falar com públicos diversos, partindo da pista e indo até fora da bolha da eletrônica, algo que é muito mais comum hoje do que há 10 anos. 

Enquanto isso, uma nova geração de selos e artistas independentes como Palms Trax, Job Jobse, Mall Grab, Peggy Gou e ANNA despontavam como novos protagonistas do House e do Techno, oferecendo repertório que até hoje permanece central no que entendemos como som de referência para a pista. A Hot Creations, por exemplo, cujo catálogo já desdobramos anteriormente na coluna Timeline, vivia sua era de ouro, a Dekmantel Records ampliava sua presença global com EPs que refletiam a identidade que o festival começava a projetar mundialmente e a R&S lançava trabalhos decisivos de artistas como Tale of Us, Nicolas Jaar e Lone. Já a Rush Hour alçava nomes como Hunee, que reinterpretava influências do Disco e do Soul com um toque inovador, enquanto selos como Lobster Theremin e L.I.E.S. davam visibilidade ao boom Lo-Fi House e a трип, fundada por Nina Kraviz, trazia o uma releitura do Techno clássico em seus primeiros releases.

Não há como negar que 2015 foi um ano marcante e um grande divisor de águas para a música eletrônica, em que sons distintos coexistiram e moldaram tanto a percepção popular do gênero quanto o repertório das pistas underground. Não à toa, muitos lançamentos de uma década atrás continuam a soar como produções atuais, com precisão, emoção e modernidade suficientes para não perder a contemporaneidade. A seguir, selecionamos nove faixas que exemplificam por que o som daquela época continua a se misturar com o conceito do presente.

Eric Prydz – Opus (Four Tet Remix)

O remix de Opus feito por Four Tet é interessante por absorver a grandiosidade emocional do original e transformá-la num exercício de construção, estendendo a faixa por quase nove minutos, deixando cada elemento aparecer no próprio tempo. O resultado é hipnótico e contemplativo, algo que até hoje sustenta muitas produções progressivas.

Donato Dozzy – Cassandra

Cassandra mostra com clareza a habilidade de Donato Dozzy criar uma faixa que transita entre passado, presente e futuro. Você sente as origens do Techno, enquanto ouve um som que aponta para o futuro. O baixo em duas notas e os detalhes que emergem lentamente constroem uma atmosfera densa, mas precisa, que segue perfeita para warmups ou momentos de descompressão durante um set.

Jack J – Thirstin’

Faixa que consolidou Jack J como nome essencial da Mood Hut, Thirstin combina groove, baixo e teclados que remetem tanto ao Deep House quanto à Soul Music. Uma produção calorosa e atemporal que sintetiza a vertente mais leve e ensolarada da House Music — e que segue em alta quase uma década depois.

Rex The Dog – Sicko

Sicko é Rex The Dog em estado puro: direto, inventivo e feito para a pista. A faixa usa a base do Electro House da época combinado a linhas ácidas e sintetizadores com uma pegada retrô e melódica, estrutura que remete de forma clara com a abordagem do Indie Dance que ganhou força nos anos seguintes.

Hot Chip – Need You Now

Need You Now traduz o que o Hot Chip sempre soube explorar: do Indie ao Pop, do Pop à música eletrônica. O sample principal se mistura a sintetizadores e bateria House, enquanto os vocais de Alexis Taylor sustentam certa melancolia. O resultado é atemporal: uma faixa que conversa com a pista enquanto mantém a identidade de banda.

DJ Koze – XTC

Minimalista e emotiva ao mesmo tempo, XTC é um dos grandes marcos de 2015, que mostrou DJ Koze no auge de sua sensibilidade. Com batida contida e um vocal repetitivo que parece suspenso no ar, a faixa avança em clima hipnótico e melancólico, mas sem perder o apelo direto de pista. Sua estética conversa diretamente com a intersecção do Deep House com o Minimal que também é visto em muitas produções de House da atualidade.

Tale of Us – North Star

Lançada pela R&S, North Start representa o ápice de qualidade criativa do Tale Of Us e marcou o momento em que o duo italiano consolidou uma fórmula predominante em parte de suas produções de Techno melódico, com pressão e melancolia ajustados numa balança que não se equilibraria da mesma forma novamente. O uso de arpejos sintéticos e graves modulados cria uma sensação de expansão constante na faixa, algo que continua presente em muitas produções atuais, dentro e fora do espectro do chamado Melódico. 

Palms Trax – In Gold

Lançada pela Dekmantel Records, In Gold tem aquele brilho característico de sintetizadores analógicos, bateria marcada, minimalismo nos elementos e um movimento que parece sempre prestes a mudar e que causa a sensação de controle e imersão. É uma verdadeira joia, que conversa diretamente com as origens da House Music e, justamente por sua abordagem clássica, nunca deixa de ser atual. 

Helena Hauff – Spur

Presente no álbum Discreet Desires, Spur, mostra o Techno minimalista e sombrio de Helena Hauff baseado em linhas de baixo ácidas e bateria marcada. É um registro fiel da onda electro/EBM que voltou com força em 2015. Este e outros trabalhos daquele período ajudaram a consolidar a alemã como uma das vozes mais autênticas da cena.

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