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A música conecta

Iconic | Don Carlos – Alone (Paradise) [Irma Records]

Por Ágatha Prado em Iconic 31.03.2022

Hoje, em mais uma edição nostálgica da nossa Iconic, vamos embarcar no túnel do tempo e aterrissar nas belíssimas paisagens da região da Lombardia. Lá um artista , que tem nome de uma peça clássica de Verdi, desabrochava no berço do Ítalo House: Don Carlos. Carlos Troja, o nome por trás do projeto, nasceu em Varese, cidade próxima à Milão, e começou a discotecar ainda no final dos anos 70. Naquela época DJs como Beppe Loda exploravam o que ficou conhecido como cosmic sounds, tecendo um turbilhão psicodélico de material sintetizado, ritmos africanos e étnicos, rock progressivo, jazz, discoteca e muito mais, contexto esse que influenciou as linhas de seleção e criação do artista.

Don Carlos é considerado um dos pioneiros do Italo House. Enquanto o estilo dava saltos efusivos em Chicago e se misturava ao caos urbano londrino, Don Carlos absorveu a essência estética, os grooves e o potencial criativo dos acordes da House Music, e decidiu reinterpreta-lo de uma forma distinta, misturando um tom a mais de profundidade com a “frenesia” que típica dos italianos.  

Considerando que as formas dominantes de House na época eram o estilo Jacking de Chicago ou a versão abertamente emotiva de Nova York, junto com suas variações vindas de Londres e de outros lugares, é notável que uma faixa sui generis como Alone – nossa icônica de hoje – tenha surgido. O mais interessante, é que Alone – a faixa de maior sucesso de Don Carlos – foi justamente sua primeira produção, o que já mostrava um indiscutível domínio do artista sob a construção de linhas melódicas e acordes mais complexos, evidenciando uma característica singular de sua assinatura.

Lançada em 1991, pela Irma Records, Alone parece uma ode à transcendência da rotina diária, o tipo de música que faz as tribulações da vida parecerem distantes. A música se desenrola como um sonho: uma suave linha de sintetizador que se funde delicadamente com um pad longo e sustentado por acordes harmônicos, já vem chamando a atenção do ouvinte logo de início. O groove encorpado do bass quando se conecta ao kick e à percussividade da faixa, mostra de fato a essência do Italian House, sobretudo quando o lindo acorde de piano começa a apenas dois minutos, confirmando assim, o cenário do  paraíso.


Troja participou de muitas músicas excelentes ao longo de sua carreira de produção. Os tons profundos de órgão e a elevação comovente de I Can Love Nobody, a propulsão liderada pelo piano do hit Everything, o som grave da música de 1996 dos Aquanauts, com  Karma, são faixas que ainda soam incrivelmente atemporais nos dias de hoje. Mas nenhuma delas tem um poder seminal tão infalível aos ouvidos, e nas pistas de dança, quanto Alone.

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