Em meados dos anos 2000 o Progressive House vivia um de seus tempos áureos. Consolidado como uma das variáveis mais interessantes se tratando de House Music, era natural que mais e mais artistas passassem a trabalhar experimentos voltados ao estilo. Dentro dessa realidade o começo do século é de fato um período muito especial para o gênero, com diversos lançamentos icônicos a serem resgatados dali, entre eles este tema que marca um reinício da coluna Iconic por aqui.
Nesse espaço de tempo uma das gravadoras que davam as cartas dentro da cena de House Progressivo era a Saw Recordings. Criada por Satoshi Tomiie e dirigida por ele em parceria com Hector Romero, o selo sempre esteve a trabalhar com produções com uma caráter técnico sólido e perfil atemporal. Entre hits e pérolas perdidas é que se encontra um release de 10 de Agosto de 2006 pelo selo: Glow.

O vinil de Glow foi o número 50 da Saw. Apenas duas faixas compõem o release: Glow em sua versão original e o remix do duo belga Spirit Catcher — track escolhida como Iconic. Esta versão é mais próxima de um Deep House tem uma construção mais experimental. É o tipo de viagem que Satoshi sempre soube conduzir. Ela é extremamente bonita, porém mais linear e sóbria, consequentemente com menos brilho que seu remix, uma verdadeira arma secreta para DJs.
O remix do Spirit Catcher já indica um caminho diferente do original desde o começo: com um BPM mais alto e um clima mais tenso nos primeiros beats, logo dá para perceber que estamos falando de uma faixa talhada para a pista. Entretanto, não há um aumento de pressão nos primeiros dois minutos e meio de faixa. A construção segue linear e sem grandes diferenciações do começo até o primeiro break.
Tudo muda nesse momento dos 2:27. Novos synths e uma progressão absolutamente linda colocam a faixa em outro patamar. O DNA old school do Progressive House está ali, mas também tem uma veia absolutamente clássica de House. E a faixa segue entregando. Suas variações nos próximos minutos e a forma como os elementos escolhidos trazem uma dinâmica extremamente para a faixa é algo surpreendente.
Quando a tensão volta a aumentar próximo aos 5 minutos, você tem certeza que essa é uma produção que foi feita para uma pista de dança. Uma das coisas mais charmosas dela é a sua composição sem exageros, sem grandes breaks e sem abordagens apelativas. De certa forma a aura do Original Mix ainda está ali, mas reinterpretada e assinada como um grande remix deve ser. Golaço da Saw pelas mãos do duo Spirit Catcher.
A música conecta.