Eu não sei vocês, mas a habilidade da redatora que vos escreve em associar situações a memes ou produtos virais da internet às vezes até assusta — mas majoritariamente rende boas risadas. Dito isso, pergunto a vocês: quem lembra daquele vídeo (assista abaixo) simplesmente fantástico de um garotinho clubber com óculos escuros dançando impressionantemente bem na pista de dança, diretamente do final dos 90? Pois bem, agora que estamos sintonizados com a mesma energia, pode-se introduzir a estrela deste Iconic: Touch Me, um hino de House progressivo proporcionado pelo produtor português Rui da Silva e embalado pela vocalista e compositora de Londres, Cassandra “Cass” Fox.
Menciono o vídeo acima porque toda vez que cruzo com ele, automaticamente sou abarcada pela sensação de “queria estar em uma pista agora” — sensação essa que Touch Me causa na mesmíssima potência. Mas afinal de contas, o que essa faixa tem de tão icônica? Acho interessante começar contextualizando porque a faixa tem essa característica inegável de pista. Da Silva mudou-se para Londres em 1999, e nessa época, já ganhava destaque pela faixa So Get Up, em parceria com o DJ Vibe. Rui havia trabalhado pouquíssimo com vocais até aquele momento, por isso seus amigos londrinos constantemente o encorajavam a tentar um corte completo.
Com a ascensão a todo vapor, o DJ e produtor era frequentador do extinto Home, club que tinha como residente Paul Oakenfold. Eureka! Foi observando a discotecagem de Oakenfold que Rui teve o brilhante insight de que, se um dia criasse uma faixa vocalizada, faria algo pensando justamente para Paul tocar no Home. A única pedra em seu caminho, era o fato de que ele não conhecia ninguém para contribuir com os vocais. Mas é como dizem, né? Basta estar no local certo que a sorte te encontra. Foi em uma noite pela Piccadilly Circus que o produtor conheceu a cantora Cassandra. Ainda sem grandes trabalhos musicais, Rui a convidou para uma ida ao estúdio.
No dia seguinte, Cassandra retornou com a composição completa, e com grande fluidez, simplesmente gravaram a música. Com o resultado já gravado em mãos, Rui da Silva narrou que sentia que tinha algo totalmente diferente ali, o que o fazia ouvir a faixa incansavelmente. A virada do século havia chegado e com o aproximar do primeiro verão do novo século, o produtor se apressou para garantir um bom lote de cópias promocionais para distribuir sempre que tivesse a oportunidade. Mas claro que no topo de sua lista de desejos estava Paul Oakenfold, que ao receber a fita, a tocou cinco vezes em uma única noite. No final daquele verão, o disco era um desejo consensual entre seletores e público.
Mas nem tudo são flores e a faixa foi oficialmente distribuída apenas em 2001, o que gerou uma espécie de efeito colateral imensamente positivo a partir da grandíssima demanda. Rui havia sampleado as guitarras de Chant No. 1, uma faixa da banda Spandau Ballet, que ao saberem do disco, entraram com exigências descabidas sob os royalties da composição, o que fez com que o produtor tivesse que alterar a faixa. Uma curiosidade é que existem três versões do vinil circulando: uma com a parte da guitarra, outra com a guitarra regravada e outra sem guitarra.
Lançada via Kismet (selo fundado pelo próprio produtor), em todas as suas versões, a faixa é de essência genuinamente minimalista, formulada a partir do pulsar de dois acordes em tons menores e a progressividade que ganha força com o potente vocal de Cassandra. A faixa era tão aguardada que estreou em primeiro lugar nas paradas britânicas. E realmente foi um sucesso estrondoso: foram mais de 400 mil cópias vendidas. Naturalmente a faixa foi considerada o hino de uma nova geração. Rui da Silva foi o responsável por gerar a trilha sonora do alvorecer de um novo século.
Em outubro de 2020, Rui uniu-se ao duo Leicester PAX para disponibilizar uma nova versão para a faixa. Com a aplicação de características modernas e a criação de um drop, os produtores procuraram trazer texturas e aspectos alheios à contemporaneidade para a faixa, que ainda segue tendo como força os vocais. Sejam suas três versões originais ou o recente remix, Touch Me é uma faixa de House progressivo que segue a transcender e triunfar entre gerações. Abaixo você pode conferir o recente remix.
A música conecta.