Novo episódio na Iconic e a alegria de voltar a escrever sobre essas faixas nostálgicas e cheias de significado para boa parte da nação clubber existente. A escolhida da vez foi selecionada a dedo, retirada da minha playlist de hinos marcantes, para marcar também o meu retorno nas contribuições desta coluna. Push The Feeling On, The Nightcrawlers, um dos meus hits pessoais preferidos da vida e arrisco dizer que uma faixa que arranca muitos suspiros até hoje. Sua versão original foi lançada em 1992, pelo grupo musical escocês Nightcrawlers e remixada diversas vezes pelo DJ americano Marc Kinchen, que reescreveu sua história e vocês já entenderão o porquê.
Uma faixa cheia de versões, que teve seu primeiro revival chamado Dub Of Doom, em 1994 e chegou desbancando a original nos charts. Em 1995, a versão MK Dub Revisited Edit, se tornou um sucesso internacional, alcançando o Top 10 em vários países europeus e nos EUA. E aqui temos um caso bem atípico sobre a arte do remix: a banda gostou tanto do rework, que colocou ela no seu álbum de estreia, deixando a original mais Disco/Funk de lado e assumindo a gravura de “House Music”, como gênero da faixa. E quando digo “de lado” é porque eles simplesmente gostaram tanto do remix de Marc, que deletaram a original de seu catálogo. Pasmem. Essa é a versão original:
E nas metamorfoses da vida, tivemos a sorte de trombar com ela em um momento mágico para a Dance Music no mundo. A faixa reacendeu-se na safra sagrada dos anos 00, época ímpar, onde muita música boa ressoou pelo mundo, deixando um legado atemporal, que talvez não se repita na mesma proporção. A versão a qual me refiro foi lançada em 2003, em um compilado de remixes e veio pelas mãos do francês Jean Claude Ades, que aqui assina o remix como JCA’s Cub Mix. E como bom francês nos anos 2000, Jean colocou a magia irresistível do french touch ao redor da sua leitura de Push The Feeling On.
Basta alguns segundos de sua intro para que seu riff inconfundível se faça vivo em sua memória. Se você, como eu, cresceu ouvindo Jovem Pan e ainda teve a sorte de cruzar com os CDs da série Summer Eletrohits, você tem esse riff formado por synths, bem guardadinho nas suas prateleiras mentais. Talvez você não se recorde dos nomes, mas com certeza da harmonia. Foi nesse “timing” preciso, que esse remix nos encontrou em um momento promissor para a Dance Music no Brasil. A versão cantada e romântica bateu em cheio nos corações, especialmente na turminha nascida nos anos 80. Eu, nos meus quinze anos, já vidrada em ouvir música eletrônica, peguei ela para mim no ato.
Mas, não pensem que os desdobramentos pararam por ali. Estamos diante de um super hit que teve muitas versões criadas com o passar dos anos, em um movimento que sempre dá um jeito de trazê-la de volta. Nos registros, o remix mais atual foi lançado em 2017, colocando a faixa na caixinha do Garage. É verdade que a versão que a banda assumiu como sendo a original, foi a mais citada na história da Dance Music e mais sampleada. O remix esteve presente em muitas listas de retrospectivas como sendo um dos melhores hits. Por exemplo, na The 100 Best Dance Singles of All Time da Mixmag e na The 100 Biggest 90’s Dance Anthems of All Time da MTV. Além de ter vivido um revival muito marcante na era Tik Tok, com o viral Friday.
Mas, a Iconic nem sempre será sobre a versão mais porreta, às vezes selecionamos a que mais marcou. Aqui no Brasil, a versão feita em 2003, culminou com um período singular em que as mentes estavam abertas às sonoridades dançantes daquele tempo. Muitos dos hits que temos em nossa memória musical, vieram através desse “boom”, que respingou em rádios, canais de TV e coleções musicais. Muitos capítulos da Iconic, inclusive, falam justamente dessa safra, que carregam uma energia educativa e afetiva ao redor dessas tantas faixas. Pra fechar, o convite é colocar o fone, apertar o play e entender sobre esse começo inconfundível e aquele vocal que vai te teletransportar para uma época muito feliz.
A música conecta.