Quinta-feira, dia de Iconic na redação. Para mim, uma das colunas mais especiais desde que ingressei nesse time. E como mística e nostalgia parecem ser dois pilares fundamentais para nascer textos neste guarda-chuva, logo agora, enquanto escrevo, o sol adentrou a janela da sala e iluminou tudo. You bring light in me veio à cabeça e eu dei um sorrisinho de canto, pensando como o universo foi especialmente sagaz nessa. Há muita comunicação não verbal rolando ao nosso redor, mas você está consciente o suficiente para perceber essas mensagens?
É bem esse o tom que vou seguir, mas antes, como toda boa história, vamos contar um pouco o que me trouxe até Two Months Off. Simples, foi o Underworld. E como cheguei nesse projeto foda de música eletrônica? Mais simples ainda: Born Slippy, “aquela” música que marcou toda uma geração (bem mais que uma). Formado no começo da década perdida, o famigerado oito zero, o Underworld é um projeto britânico que revolucionou a história. Todo o technero saudosista de plantão vai fazer sim com a cabeça. A mistura enigmática deles traz diversas referências estilísticas, mas o que mais nos marcou foi quando eles começaram a misturar Trance e Techno, já na derradeira da década, quando o frenesi da Dance Music encontrava-se em ebulição total nas terras da rainha. É história pura.
Os idealizadores Karl Hyde e Rick Smith criaram uma fórmula progressiva entre a mistura das macro vertentes, algumas canções emblemáticas cantadas e claro: o live act. Resumão para vocês: eles são sinistros, ponto. Muito mudou, talvez eles nem tanto, mas esse sentimento de respeito e gratidão por projetos assim sempre permanecerá em quem ama e-music. Vale a pena resgatar essa bio e saber mais, mas avancemos algumas casas para o álbum da minha musicona maravilhosa do dia. A Hundred Days Off ganhou luz quando o planeta Terra decidiu não explodir em 2002 [risos]. Foi o sexto álbum, uma proposta bem materializada por parte deles, que tinham mudado sua configuração de banda e depois voltaram atrás, quando Darren Emerson saiu. Faixas elegantes, atmosféricas, House – que também aparece nesse projeto, alguns momentos bem cabeçudos, claro. Tudo muito legal, mas nada como Two Months Off e seus nove minutos.
A sensação? Falta de ar. É a melhor do álbum, a melhor da vida talvez. Vou confessar: sinto que os anos passam e ela cada vez mais se confirma sendo minha preferida, mas eu sei que achar essa top 1 é algo difícil, já que tem tanta coisa boa, tanta história e tanto sentimento envolvido quando o assunto é música. Ok, sem rankings bregas aqui. A faixa nasceu como uma resposta da banda para o efeito sinistro que foi Born Slippy. Não, eu também acho que não teve o mesmo efeito, porque existe toda uma contextualização para essa outra faixa icônica. Mas quem está competindo, afinal?
O riff dos sintetizadores aqui sozinhos ecoando em uma pista já deixariam qualquer clubber old school caído no chão. Porém, vamos muito além disso: vai ter Techno, uma energia Trance, o vocal feminino falado, falando de amor, uma caminha cósmica que fica indo e vindo, a energia da bateria e o uso do vocoding distorcendo a voz de Hyde para deixá-la sintetizada – porque amar os synths não é suficiente.
You bring light in.
You bring light in.
You bring light in.
E esse mantra perfeito vai se repetir perfeitamente por algumas vezes até o break trazer de volta a voz entorpecente que vai te inebriando como uma boa pausa dentro de uma música intensa. Mas calma lá que aquele riff volta e uma progressão de acordes vai trazer tudo para o seu lugar. Escute atentamente e você vai entender. Mas e o que isso tem a ver com as mensagens não verbais que o universo dá? Volte na frase acima, “você traz luz para dentro”. Quem e o que faz isso por você em sua trajetória? Deus? Família? Amigos? Amor? Seus filhos? Seu trabalho? A luz do Sol que entra pela janela na “coincidência” de um texto que fala sobre essa tal luz?
Incontáveis vezes abracei minhas pessoas preferidas e cantei essa música, porque essas pessoas são especialmente capazes de me energizar. Quase todas as vezes que isso rolou, eu chorei, porque essa tal energia arranca lágrimas de um jeito muito sutil e bonito. Coisas inexplicáveis sobre sentimentos inexplicáveis em uma existência que também não se explica…Brisei! Mas é a Iconic, né?
Fique com essa luz.
A música conecta.