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A música conecta

Minha Primeira Gig | Mary Olivetti

Por Laura Marcon em Minha primeira gig 22.03.2021

Recebam a força e brilho de Mary Olivetti: são 19 anos de relação profissional com a música, mas uma vida toda respirando ela por todos os cantos. A carioca é o tipo de pessoa que não poderia se aventurar em outro universo senão esse. E como ter certeza disso? Basta saber que ela é filha de Claudia Olivetti, cantora e compositora, e Lincoln Olivetti, um dos arranjadores mais reverenciados em toda a história da música brasileira e que revolucionou o Pop produzido por aqui. Quer mais? Mary é afilhada de ninguém menos que Tim Maia. É isso.

As referências já são suficientes para entender que musicalidade corre em suas veias e, no caso de Mary, a paixão apontou em cheio nas batidas eletrônicas, mas sempre carregando sua base sonora no trabalho. Deep House, House clássico, Disco e Soul norteiam seus sets e produções, transformando ela em uma artista multifacetada e capaz de se adaptar nas mais diferentes pistas de dança. De aberturas de shows que vão desde Solomun, Masters At Work, Barbara Tucker e Hercules & Love Affair até Funkagenda, Steve Angello, Roger Sanchez, ela já integrou line-ups de festivais como Rock in Rio, Tomorrowland e clubs como Pacha (Buenos Aires), El Divino (Ibiza), Amnesia, Space, entre outros.

Não para por aí. Mary já comandou três programas de rádio, trabalha com curadoria musical, desenvolveu projetos de branding musical para marcas como FARM, Reserva, Animale, Ben & Jerry’s, Schutz, Cantão, Eva, GAleria Melissa, C&A e muito mais (a lista é realmente extensa), e também é produtora musical, com participação no álbum de remixes de músicas da rainha Rita Lee e, mais recentemente, assinando um remix para a faixa Xangô, original de Fabio Santanna (Live Motel / Nu Azeite), pela Me Gusta Records.

Se a música está com ela desde os primeiros passos, a eletrônica também teve seu início em algum momento e é sobre isso que ela veio falar com a gente. Mary Olivetti conta como se jogou com a cara e a coragem no mundo da discotecagem, em uma apresentação com zero técnica, mas muita bagagem sonora. Vem ver!

Mary Olivetti

O ano era 2002. As raves tomavam conta do Brasil (e do Rio de Janeiro), a Dance Music fervilhava como nunca em Ibiza e Fatboy Slim estava prestes a encarar sua multidão na praia elevando a categoria disc-jockey a um novo patamar. Foi em meio a esta efervescência das pistas de dança que eu atingi a maioridade e me joguei de corpo e alma nos discos (e fitas e CD’s e Napster).

Em uma cabine de som fiz talvez a amizade mais importante da minha vida, aquela que mudou completamente meu destino. O DJ Rafael Gasparian sacou meu feeling e me ensinou a teoria de seu ofício em uma só noite, porém não pratiquei, Rafael tinha responsabilidades e não poderia colocar uma adolescente no comando do club onde tocava. Aquilo foi suficiente pra mim, menina inquieta, que cheguei na loja onde trabalhava na manhã seguinte abrindo a porta de vidro e enchendo o peito pra contar pras amigas que “agora eu sou DJ, gente”. Pasmem: no minuto em que verbalizei esta frase uma das amigas vendedoras, a Alice, falava com seu irmão produtor de eventos ao telefone no balcão: “Bernardo! Você não estava procurando uma DJ menina pro seu evento da Melissa?” — aconteceu ali um alinhamento de planetas, estrelas e satélites em Virgem, tenho certeza [risos]. 

Bernardo me chamou pra fazer um teste e se eu fosse aprovada me tornaria sua residente às quartas-feiras em um club super bacana no Leblon. Não titubeei e não desfiz a brincadeira, mas também não consegui me mover por alguns minutos e quieta levei a história adiante.

Já em casa catei o fone do walkman da minha mãe, queimei 4 CD’s coloridos com 10 ou 12 músicas cada (vocês se lembram daquelas mídias laranjas, vermelhas e verdes?) e parti pra prova. Rafael estava super feliz, Bernardo ressabiado. O teste foi na Symbol, um club underground no centro da cidade do Rio. Seu público era todo o tipo de gente: desde secretárias pós-trampo até os caras de corrente de ouro da baixada fluminense, uma mescla interessante para um teste, melhor pensar assim. Os DJs residentes, dentro do possível, me receberam bem, mas não a la “Rafael style”. Precisei de alguns ajustes de master / gain / eject (desconhecia o local), eles me auxiliaram de vez em quando e tudo rolou no flow.

Passei no teste e fui contratada, mas confesso que o que me tirou da berlinda não foi técnica, pois eu tinha um total de 0% de técnica, e sim o repertório escolhido, que passava por Wish I Didn’t Miss You, de Angie Stone, até The Funk Phenomena, do Van Helden. Após abraçar a oportunidade que Alice e Bernardo me ofereceram, pude aprender a tocar literalmente na tentativa e erro e fiz muitos amigos DJs que gentilmente me ensinaram pequenos detalhes no corre da noite. Olhando para trás percebo que há (quase) 20 anos minha vida ganhou seu maior propósito: fazer o outro feliz. 

A música conecta.

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