Chegamos a um ponto que se tornou extremamente necessário falar sobre um assunto que tem se tornado um real problema de saúde dentro da cena: a perda de audição por exposição ao ruído alto. A frequência assídua a eventos de música, especialmente em ambientes como clubs e festivais, coloca os frequentadores sob um risco auditivo significativo e muitas vezes subestimado. Investigações em locais de entretenimento revelam que os níveis médios de som registrados consistentemente excedem 95 dB. Em pontos de maior intensidade, como dentro da pista e perto das caixas de som, a média pode ser ainda maior, alcançando 97 dB.
É crucial entender que, a 95 dB, o padrão de exposição ocupacional considerado seguro seria excedido após apenas 48 minutos. No entanto, os frequentadores voluntariamente se sujeitam a essa exposição por um tempo médio de quase cinco horas por sessão (4 horas e 39 minutos, com o tempo de permanência podendo variar de 1 a 15 horas). Essa exposição prolongada e excessiva coloca este público em uma situação de risco significativo de desenvolver déficits auditivos de longo prazo, como a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR).
A manifestação imediata desse risco é sentida pela maioria dos frequentadores. A PAIR é uma forma neurossensorial de déficit que se desenvolve gradualmente ao longo de muitos anos de exposição a ruído excessivo, apresentando-se primeiramente como uma perda auditiva bilateral nas frequências mais altas (3 kHz, 4 kHz e 6 kHz). A perda auditiva é hipotetizada como resultado do esgotamento metabólico e do microtrauma acumulado nas células ciliadas do ouvido interno.
Em um estudo, 81% dos entrevistados já haviam sofrido sintomas auditivos adversos, incluindo perda auditiva temporária, tinnitus (zumbido) e dor de cabeça. Em geral, 64% dos participantes relataram ter sofrido uma consequência auditiva ou sistêmica adversa, sendo o tinnitus o sintoma mais comumente relatado (56% dos participantes). A progressão contínua da condição, após 10 a 15 anos de exposição excessiva ao ruído, pode resultar em déficits auditivos de até 75 dB.
Apesar do risco mensurável e da alta prevalência de sintomas agudos, a adoção de medidas de proteção permanece notavelmente baixa, revelando um paradoxo comportamental. Apenas 17% dos entrevistados da pesquisa relataram usar proteção auditiva em antecipação ao ruído alto. O uso de protetores auriculares foi especialmente baixo em mulheres e entre indivíduos com menos de 26 anos.
Observou-se, contudo, que aqueles que acreditavam que o nível de música era excessivamente alto ou perigoso e aqueles que já haviam sofrido um evento adverso auditivo ou sistêmico eram significativamente mais propensos a usar a proteção auditiva ou a aceitá-la se fosse oferecida gratuitamente no local. No entanto, a relutância em usar é tão profunda que, quando questionada, a vasta maioria dos participantes do estudo ainda recusou a oferta de protetores auriculares se fossem fornecidos gratuitamente no local do evento. Essa recusa sugere que, embora cientes dos riscos de PAIR, muitos frequentadores não dão importância suficiente ao seu bem-estar auditivo.
Curiosamente, a confiança em campanhas de conscientização pública tem se mostrado ineficaz para alterar esse comportamento de risco. Estudos demonstraram que a recordação de uma campanha educativa sobre PAIR e os benefícios dos dispositivos de proteção não influencia significativamente a taxa de uso ou aceitação de protetores auriculares pelos frequentadores. Um estudo que implementou uma campanha educativa detalhada para estudantes do ensino médio na Áustria e Itália, resultou em um aumento “muito decepcionante” no uso de protetores auriculares em boates, que passou de 0% para apenas 4%.
Diante da dificuldade em modificar o comportamento do público jovem, o consenso dos especialistas é que a estratégia mais eficaz para prevenir a PAIR em frequentadores de eventos é a regulação do nível de ruído nos locais. Essa abordagem estrutural não depende da modificação do comportamento individual do público em geral. Além disso, a preocupação dos operadores de casas noturnas de que a redução do volume resultaria na diminuição da frequência de público foi refutada por pesquisas, que indicaram que aproximadamente 85% dos entrevistados não alterariam sua frequência se houvesse uma redução pequena ou moderada nos níveis de som, e 10% até aumentariam a frequência de sua participação. Uma prova de que a música está tocando MUITO alta em nossas festas?