“El tiempo es la sustancia de que estoy hecho.
El tiempo es un río que me arrebata, pero yo soy el río;
es un tigre que me destroza, pero yo soy el tigre;
es un fuego que me consume, pero yo soy el fuego.”
(Jorge Luis Borges. Buenos Aires, 1974)
Poucos artistas entenderam o tempo tão profundamente quanto Hernan Cattaneo. Ao longo de mais de três décadas, o argentino construiu uma relação íntima com ele: em seus sets, é o tempo que cria a narrativa, costura emoções e define a trajetória da noite; em sua carreira, é o tempo que valida a consistência, a evolução e a permanência. Hernan sobreviveu às transformações da cena eletrônica global e soube, em muitos momentos, ser o próprio curso do rio.
“A paixão é como um motor que você tem nas costas e que sempre o empurra para a frente”, disse Hernan em uma de suas respostas para entrevista exclusiva que concedeu a Jonas Facchi aqui no Alataj em 2021. Essa filosofia aparece tanto na maneira como estrutura sets longos e progressivos, construindo do zero, camada por camada, quanto na forma como atravessou diferentes fases da música eletrônica, sem jamais perder sua identidade. “Sem dúvida, a música salvou minha vida. Primeiro porque desde cedo ela me encheu de felicidade, depois porque pude fazer dela uma profissão”, reflete.
Desde as primeiras descobertas ainda adolescente, encantado pelo conceito narrativo do Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, Hernan soube que sua relação com a música não seria fragmentada. “Era como um álbum com uma única grande música, um enorme mantra com climas e momentos diferentes, mas sem silêncios”, descreve. Essa visão moldou toda a sua abordagem como DJ: criar um fluxo contínuo onde cada mixagem importa, onde cada momento se insere em uma jornada maior.
Mesmo nos anos em que o Progressive House perdeu espaço na grande mídia, Hernan resistiu à tentação de se adaptar a tendências. “Felizmente hoje existem nichos, e cada um pode desenvolver sua identidade musical sem depender do que está na moda”, analisou, apontando para uma maturidade na indústria. Sua lealdade estética, longe de ser um obstáculo, o tornou um dos poucos artistas capazes de atravessar gerações sem precisar se reinventar artificialmente.
O tempo também se revela no respeito cultivado ao longo de sua trajetória: fãs que acompanham suas apresentações ao redor do mundo, clubs que o tratam como parte da casa e uma comunidade global que vê em Hernan mais do que um DJ: vê um maestro: “Me sinto muito grato. Sei que a vida de um DJ global é um grande privilégio e trato de não perder de vista como era tudo quando comecei”, resume.
Em setembro, Hernan retorna ao Brasil para um dos momentos mais aguardados por seus fãs: a estreia da Sunsetstrip em solo nacional. O projeto, criado por ele em Buenos Aires, tem a proposta de ser uma celebração da música enquanto experiência sensorial, com long sets ao ar livre, atmosfera contemplativa e um público profundamente conectado à proposta sonora de Hernan. A edição brasileira acontece no dia 20 de setembro, no Hangar Campo de Marte, em São Paulo.
A escolha do local reforça a vocação do evento para uma jornada imersa na natureza e com infraestrutura pensada para valorizar a narrativa musical do artista. Após edições memoráveis em cidades como Buenos Aires e Rosário, a chegada da Sunsetstrip ao Brasil representa um novo capítulo na relação de Hernan com o país, que sempre o recebeu de braços abertos e pistas cheias. Ingressos antecipados aqui.
