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A música conecta

Hits Made in Brazil | Parte 4: Mochakk, Beltran, Classmatic e mais

Por Elena Beatriz em Notes 11.12.2025

O início da década de 2020 apresentou um novo cenário para a música eletrônica brasileira. Em meio à ascensão das redes sociais — impulsionada pelo período de isolamento social durante a pandemia — e à facilidade de circulação entre diferentes cenas, uma geração passou a produzir de forma conectada ao que acontecia no mundo em tempo real. Nesse processo, surgiram artistas que transformaram faixas em fenômenos virais, ampliaram o alcance da produção nacional e redesenharam a forma como o Brasil passou a ser percebido fora daqui.

Ao contrário dos períodos anteriores, em que a construção de identidade e estrutura ainda acontecia de forma gradual, essa etapa foi marcada por uma dinâmica mais célere: tracks criadas em contextos independentes passaram a circular em festivais internacionais, sets gravados em casa alcançaram milhões de pessoas e remixes de origem local se tornaram referência em pistas distantes. O Tech House, o House e o Funk, especialmente, encontraram novas combinações, e produtores de diferentes regiões começaram a disputar espaço com nomes já consolidados no circuito global.

A internet também assumiu um papel central na expansão dessa geração. Vídeos de pista, IDs compartilhados, recortes de sets e colaborações em plataformas digitais ajudaram a consolidar uma presença que começou a ultrapassar fronteiras físicas. Muitos desses movimentos abriram portas que antes pareciam inacessíveis e contribuíram para que artistas brasileiros fossem observados com mais atenção.

No quarto e último capítulo do Hits Made in Brazil, apontamos o momento em que a música eletrônica brasileira passou a circular com velocidade inédita, ganhou novos representantes e conquistou um espaço que consolidou o país como referência na música eletrônica contemporânea. 

Vintage Culture & Slow Motion – Slow Down (feat. Jorja Smith) (2020)

Lançada pela Spinnin’ Deep, Slow Down uniu a produção de Vintage Culture e Slow Motion ao vocal de Jorja Smith, apoiado no repertório original de Maverick Sabre. A parceria representou um encontro raro entre uma das vozes mais reconhecidas do soul e R&B contemporâneo e duas figuras em ascensão no circuito eletrônico global, ampliando significativamente a visibilidade dos produtores brasileiros no cenário internacional. A faixa equilibra uma sensibilidade emocional no vocal com uma construção dance que é ao mesmo tempo suave e envolvente. Muitos fãs e profissionais da cena eletrônica apontaram a música como uma das mais marcantes daquele período — justamente por sua capacidade de transitar entre o mainstream e o underground.

PR.A.DO – Gaiola do Pradin (2020)

Gaiola do Pradin se destacou pela forma como entrelaçou elementos de Funk, Bass e batidas groovadas junto à uma abordagem do it yourself. Lançada em 2020, como parte do VA MANDRAKE pela Subliminar, a música ganhou circulação principalmente via uploads no SoundCloud, onde acumula mais de 100 mil streams, e rapidamente começou a aparecer em diferentes playlists e a ser compartilhada por quem já acompanhava a cena. Muitos comentários destacam sua energia intensa, frequentemente associada ao Break Beat, Miami Bass e vocais de Funk brasileiro, sintetizando mais um retrato de como produções com a cara do Brasil estavam começando a ganhar destaque mundo afora.

Joyce Muniz – Glass Mistress (2020)

Glass Mistress, lançada pelo selo Pets Recordings, representa um momento importante na carreira de Joyce Muniz, brasileira radicada em Viena com mais de uma década de produção e DJing. O single abre o EP homônimo com uma assinatura que remete às pistas de dança dos anos 80 e 90, combinando linhas de baixo marcantes, synths analógicos e vocais processados que evocam uma estética retrô sem soar antiquada, alinhando tradição e contemporaneidade. 

FBC, Vhoor, Mac Júlia – Se Tá Solteira (2021)

Lançada em 2021, no álbum Baile, Se Tá Solteira aproximou o Rap, o Funk e a estética da música eletrônica de forma renovada. Criada no período de pandemia, a faixa ganhou força inicialmente nas plataformas digitais, mas seu impacto real apareceu no retorno das pistas presenciais: era uma das músicas mais tocadas em festas pelo país. A produção de VHOOR recupera elementos centrais do Miami Bass e do Electro e reorganiza esse repertório em uma abordagem contemporânea, enquanto FBC e Mac Júlia conduzem o vocal, criando uma atmosfera que rapidamente se tornou reconhecível.

Beltran – Smack Yo’ (2022)

Smack Yo’ marcou a estreia de Beltran no selo Solid Grooves Raw,  e rapidamente se tornou uma das faixas mais importantes do Tech House contemporâneo, alcançando o Top #1 Overall do Beatport. Tocada em sets de grandes artistas como Michael Bibi e PAWSA e amplificada por recortes de pista, vídeos e uploads em diferentes plataformas, a música ganhou presença constante em charts, comentários e playlists mundo afora, consolidando-se como um símbolo dessa fase em que a internet acelera a circulação de hits e reposiciona o Brasil como um dos polos mais observados da cena eletrônica global.

Classmatic – El Primer Corazón (2022)

Lançada em 2022 pela Revival New York, El Primer Corazón destacou Classmatic dentro do circuito internacional ao apresentar um Tech House que se apoia em vocal latino, percussões secas e um groove simples, porém altamente funcional. Isso fez com que DJs de diferentes vertentes — do mainstream ao underground — passassem a tocá-la de forma recorrente, ampliando sua circulação em clubes da Europa e da América do Norte. Com o tempo, tornou-se sua música mais ouvida no Spotify, ultrapassando 6 milhões de streams e se firmando como um dos exemplos mais claros da onda de referências latina que invadira o Tech House. 

Badsista – Só Me Chama Se For House (2022)

Só Me Chama Se For House se tornou uma das faixas mais emblemáticas do Badsista, lançada oficialmente pelo Bandcamp e registrando mais de 700 mil plays do SoundCloud. A música apresenta um vocal repetitivo e contagiante — “Só me chama se for House, House, House” — gravados pelo próprio Badsista, além de uma combinação que envolve House, Bass Music e Funk, o que ajudou a reforçar a identidade que o artista vêm construindo ao longo dos anos na Música Periférica Popular Brasileira.

Mochakk – Jealous (2023)

Jealous, lançada pela CircoLoco Records, combina elementos clássicos da House Music com uma abordagem atual e energética para o público. A faixa usa um sample marcante de Dreamin’ de Loleatta Holloway e sobre ele constrói uma batida dançante e um groove que ressoou fortemente tanto no underground quanto em sets de clubes ao redor do mundo. Após o sucesso do lançamento Da Fonk, pela Nervous Records, Jealous colocou novamente o Mochakk no centro das atenções, figurando com destaque em plataformas como Beatport e reforçando sua trajetória como um dos nomes mais observados da cena House contemporânea. Um dos maiores hits de toda a cena em 2023. 

DEPARTAMENTO, Tiësto, Tears For Fears &GUDFELLA – Rule The World (Everybody) (2024)

Rule The World (Everybody) revisita o clássico de Tears For Fears Everybody Wants to Rule the World, um dos maiores hits dos anos 80, em uma conexão inusitada entre Synth-Pop e House. A colaboração do duo brasileiro DEPARTAMENTO com Tiësto, figura que marcou décadas da dance music global, e Gudfella, trouxe uma releitura dançante para o clássico, aproximando-o de novas audiências e, ao mesmo tempo, reforçando a capacidade da música eletrônica de reimaginar repertórios consagrados. 

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