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A música conecta

Rødhåd e o paradoxo da melancolia

Por Alan Medeiros em Notes 10.12.2025

Rødhåd, pseudônimo de Mike Bierbach, construiu sua reputação internacional no techno com um som consistentemente intenso, hipnótico e envolto em uma escuridão melancólica. Caracterizado por atmosferas densas e um tom dramático, sua identidade sonora contrasta intensamente com a sua própria personalidade. Essa disparidade entre o conteúdo sombrio de sua arte e seu comportamento alegre nos bastidores estabelece um paradoxo central em sua carreira, que se tornou o motor de sua expressão criativa.

Apesar da estética sombria que permeia sua discografia e os eventos da Dystopian, Bierbach é descrito por colegas e amigos como uma “pessoa feliz” e de “caráter jovial”. Em entrevistas, ele ri e conta piadas, apresentando uma atitude despreocupada. Questionado sobre a origem do tom dramático de sua música, já que seu semblante é tão alegre, ele admite que a música é apenas um reflexo natural do criador, mas que seus sentimentos mais fortes são aqueles que resultam em melancolia.

Rødhåd já explicou que o tom triste e melancólico de sua arte não reflete um estado pessoal de infelicidade, mas sim uma atração profunda e inata pela melancolia. O DJ revela que, para ele, “os sentimentos tristes são mais fortes do que os sentimentos felizes”. Mike afirma amar a melancolia porque ela “toca seu coração” e que a tristeza o comove muito mais do que qualquer outra emoção que possa ser explorada.

Essa preferência emocional está diretamente ligada à sua rejeição da música percebida como superficialmente alegre. Rødhåd não consegue se conectar emocionalmente com músicas felizes, pois estas soam chatas para ele, fazendo com que precise desligá-los em algum momento. Em sua visão, a melancolia se apresenta como algo mais real do que esta felicidade instantânea que às vezes toma conta das pistas. 

Essa busca por uma autenticidade emocional visceral esteve contida no nome de seu álbum de estreia, Anxious (2017), pela sua label WSNWG, cujo título reflete tanto as pressões do lançamento quanto o sentimento subjacente de desconforto gerado pelos tempos políticos e sociais. Todo o prestigiado histórico de trabalho de seu selo, Dystopian, reforça a tese ao tirar qualquer alegria barata de cena para trabalhar de forma intensa o lado mais introspectivo do Techno — ainda que isso esteja muito distante de representar uma falta de energia. 

Em última análise, essa inclinação pela melancolia é algo que impulsiona sua evolução como produtor. A escuridão e a atmosfera sombria de sua música não são forçadas, mas sim algo que simplesmente acontece e flui naturalmente dele. Para Rødhåd, a produção musical tornou-se um “veículo muito importante para se expressar”. Essa liberdade de expressão permitiu-lhe explorar diferentes direções sonoras, como evidenciado em seu aclamado remix para Signs, de Howling, que na época marcou um novo nível em sua musicalidade e, segundo ele mesmo, o fez sentir-se mais livre para experimentação. 

Rødhåd chega ao Brasil neste final de semana para uma apresentação única no D-EDGE, dia 13, sábado, dividindo a Pista 1 com DJ Murphy e Lorenzo Fasano. O DJ alemão toca das 02:30 até as 4:30, duas horas que vão demonstrar exatamente o contraste que define seu trabalho: sets cheios de energia, mas guiados pela mesma melancolia que marca sua música.

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