Desde a ascensão das mídias digitais, e em especial quandos as músicas passaram a assumir o formato MP3 em 1994, o mercado musical e as indústrias fonográficas atravessam uma constante revolução de seus paradigmas. As músicas que antes eram comercializadas através de mídias físicas como vinil, CD e fita cassete, passaram então a encontrar seus mercados em plataformas digitais. No entanto, os codecs utilizados para a reprodução das faixas no novo formato não tinham um valor acessível, bem como eram adquiridos apenas por detentores de grande bancos de dados musicais, como rádios, universidades e pesquisadores dispostos a pagar um alto custo para tocar seus MP3.
Começaram, então, os primeiros sites de vendas de músicas digitais, como o mp3.com, comercializando as faixas através de um catálogo legalizado. Porém, em paralelo ao protótipo de comercialização legal, a pirataria chegou às plataformas digitais com força total ou superior aos canais legais estabelecidos. O Napster foi o primeiro programa de compartilhamento musical com grande visibilidade e criou todo o mercado paralelo de download de músicas no formato MP3, mesmo que a conexão à internet naquela época não fosse das mais rápidas. Consequentemente, as represálias também surgiriam com a mesma força da ilegalidade, em especial advinda da insatisfação das grandes gravadoras e artistas que estavam perdendo suas receitas de vendas. A banda Metallica chegou a liderar um movimento de boicote ao Napster, processando a empresa e tentando evitar ao máximo a descentralização do comércio das faixas, o que na verdade, não adiantou muita coisa.

Lutando pela disputa e supremacia da indústria musical, na metade dos anos 2000 surge uma grande empresa de tecnologia, praticamente revolucionando o mercado e novamente, a forma de consumir música digital. A Apple entrava com tudo, apropriando-se de grande fatia do mercado musical e em 2010 já vendiam mais músicas por sua plataforma digital do que qualquer outra loja física de CDs e DVDs. Em 2011, o aplicativo se transformaria no extraordinário iTunes, um media player online que, além de plataforma de venda, também consistia numa biblioteca de reprodução, introduzindo a possibilidade de comprar apenas uma única música em vez do CD completo, tornando as coisas ainda mais acessíveis pra todo mundo. Além de músicas, o iTunes também gerenciava o comércio de filmes, séries, jogos e livros, sendo o sistema base para celulares iPhone, iPods e iPads.

Com isso, o sistema de distribuição voltava a ter uma dominância legítima, incorporando cada vez mais gravadoras e adaptando os artistas para a nova realidade do mercado fonográfico. No mercado da música eletrônica plataformas como Traxsource, Beatport e Juno conquistaram sua dominância, recebendo os maiores selos mundiais através do papel exercido pelas distribuidoras digitais. As distribuidoras são os agentes que entram em acordos com gravadoras para vender para lojas, porém a distribuição digital também ofereceu a facilidade do processo, cortando o intermediário e permitindo aos artistas distribuírem música diretamente para lojas online, mantendo 100% de seus royalties.
Os últimos oito anos foram intensos para a indústria fonográfica, que continua imersa em um grande mar de revoluções que persistem e transformam o mercado até os dias de hoje. Os serviços de streaming começaram a dar suas caras, chegando no cenário com inovações e muita praticidade ao consumidor de música digital. O que antes era necessário comprar para ser consumido integralmente, agora com o advento do Spotify, Tidal, Amazon e Youtube os ouvintes contam com a facilidade de ouvir as faixas de forma gratuita, através de suas plataformas.
Para o artista, os inúmeros canais de divulgação de seu trabalho tem sido uma grande vantagem para a difusão e visibilidade de suas obras. Mesmo encontrando prós e contras para cada forma de distribuição, seja ela através das grandes lojas onlines como Beatport, ou plataformas alternativas e não menos importantes como o Bandcamp, ou até mesmo pelas plataformas de streaming — o meio mais difuso para alcançar o público — os artistas ainda podem contar com a velha e apreciada forma física de distribuição de suas mídias, através do vinil e do CD. As múltiplas possibilidades disponíveis também pluraliza e instiga um comportamento mais próximo do consumidor com a música, já que o acesso hoje é facilitado.
Apesar das constantes mudanças a figura do distribuidor musical permanece firme e cada vez mais forte. A intermediação para que a música dos artistas alcance as plataformas de streaming ou lojas digitais é protagonizada pelas empresas distribuidoras. E é exatamente neste mercado que duas figuras ilustres da música eletrônica acabam de ingressar, com o intuito de ajudar a promover o mercado artístico da América Latina. Roland Leesker e Leo Janeiro estão mais juntos do que nunca com a Get Digital, nova distribuidora com apoio da gigante Get Physical e da Zebralution.

O management da gravadora alemã cuidará de todo o serviço relacionado ao gerenciamento de gravadoras, incluindo organização e gerenciamento de lançamentos, consultoria jurídica, mercadológica e promocional, A&R, contabilidade de royalties e divulgação, enquanto a Zebralution fornecerá seus serviços de distribuição, know-how e tecnologia.
“Estamos extremamente felizes em intensificar nosso relacionamento e cooperação com a Get Physical e sua equipe. Somar forças é fundamental para expandir em diferentes países e aproveitar a expertise local em mercados de rápido crescimento, como o Brasil. É muito importante construir uma estrutura sustentável e responsável para as gravadoras locais no Brasil a fim de garantir uma base sólida baseada em transações financeiras e conhecimento em serviços musicais em escala global. Estamos ansiosos para este novo empreendimento e por receber Leo em nossa equipe”, comenta o diretor musical da Zebralution, Oke Göttlich.
Com isso, os caminhos futuros para a distribuição de musical no Brasil, que ainda se encontra em um processo lento e de alcance limitado, podem vir a se tornar mais sustentáveis e difundidos.
A música conecta.