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A música conecta

Derrick May nos mostrou o caminho da verdade para o futuro. Confira entrevista exclusiva!

Por Alan Medeiros em Entrevistas 05.05.2017

Por Alan Medeiros Igor Rodrigues

“Nunca pensamos que poderíamos mudar a música, criar algo novo um dia ou até mesmo sonhar algo nesse sentido. Não me considero um cara de sorte, apenas creio que estávamos no tempo certo e acredito muito no destino.”

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Um dos criadores do techno e ícone da cena mundial, Derrick May, nos conta como tudo começou. Um jovem que queria apenas criar música e com a união de mais dois amigos, Kevin Sanderson e Juan Atkins, trouxe ao mundo uma nova cultura, quebrando paradigmas e indo além da criatividade. O techno virou muito mais que um estilo de música, ao redor dos quatro cantos do globo se transformou quase que em uma filosofia.

Derrick May é considerado o Miles Davis da música eletrônica, seu legado para a música em geral é tão rico e brilhante que seu nome já está cravado na história. Na adolescência May trabalhou um tempo em um fliperama, e a cidade de Detroit era tida como berço de grandes fábricas e industrias. Alguns pontos que podem facilmente alimentar uma mente criativa e sedenta por novas perspectivas. Aliado a dois grandes amigos, onde, a música foi decisiva para culminar em grandes experiências e desenhar uma nova história no cenário musical.

Um pessoa simples e que tem como herói de vida a mãe, filho único e criado sem pai, demonstra como aprendeu com as dores da vida a ser uma pessoa melhor e mais forte. É um pai dedicado e preocupado com futuro de sua filha. Antenado em política, ficou muito decepcionado com a eleição de Trump, que em sua opinião tem o ego inflado e vive em seu mundo particular. Derrick alimenta um interesse particular por diversas culturas e etnias, e quando está em tour pelo mundo adora explorar a cidade em que vai tocar – se diz um iluminado por poder ter esse tipo de experiência.

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Com um senso de humor extremamente aguçado, ele gosta de fazer piadas a todo instante, tem uma alegria de viver surpreendente. Eternamente jovem de alma, sua conexão com a música é realmente muito forte. Um jovem que nos presenteou com a música do futuro e não se cansa de nos mostrar o caminho a todo instante. As perguntas e respostas que você lerá abaixo são o resultado de um encontro histórico para o Alataj. Na noite de ontem, Derrick May nos recebeu para o que a princípio seria um rápido bate-papo, mas acabou se tornando uma prazerosa noite com direito a convite para um jantar. Confira: 

1 – Olá, Derrick! É uma honra sem igual poder falar com você. O mundo considera o Belleville Three como criadores do techno. Mas vocês, como vocês se enxergam?

Belleville é o lugar onde nos criamos, onde fazíamos amigos e tínhamos nossas experiências. Kevin e Juan me convenceram há 30 anos atrás, nos éramos garotos e apenas bons amigos, mas estávamos conectados com um mesmo ideal, que era a música.

2 – Ainda sobre o Belleville Three, fale um pouco sobre o seu relacionamento com Juan Atkins e Kevin Saunderson. Como eles contribuíram para que você se tornasse um artista melhor?

Juan é meu irmão, ele me fala sobre tudo e me entende muito bem. Ele me deu a oportunidade de me entender e conhecer melhor a música. Nos éramos muito jovens e tivemos muitas experiências com a música e muitas outras coisas. Eu era fascinado com o conhecimento de Juan e de queria poder aprender tanto.

Kevin foi um dos meus primeiros amigos, ele tinha a ideia da dance music somente de Nova York, de onde ele é originalmente, mas não demoramos muito para nos conectar. Para Kevin era muito rápido ter uma ideia sobre música, era incrível.

Nunca pensamos que poderíamos mudar a música, criar algo novo um dia ou até mesmo sonhar algo nesse sentido. Não me considero um cara de sorte, apenas creio que estávamos no tempo certo e acredito muito no destino.

3 – A Transmat é um dos selos mais importantes da história do techno. Na sua visão, quais são os elementos chaves que constroem a identidade do label? O que você está preparando de novidades para 2017?

Muito importante para os DJs e fãs, Transmat é muito mais que um label, é um exemplo de música verdadeira. Nunca pensamos em fazer dinheiro ou fazer uma grande gravadora, apenas ter os artistas certos e dar um novo rumo para a música. Tudo aconteceu no tempo certo.

https://www.youtube.com/watch?v=Qsb_DpgRD_E

4 – Além de Detroit, Chicago também possui uma importância significativa em sua formação artística, certo? Sabemos o que essas cidades possuem de diferente, mas na sua visão, o que elas possuem de comum?

Pessoas negras, a música e a forma como ela conversa. Detroit foi a base da Soul Music, Chicago está mais para o Blues. Na época onde tudo começou tanto em Chicago como em Detroit haviam muitos novos DJs experimentando música e fazendo conexões. Em Detroit era um pouco mais difícil de atuar, pois ainda estava prestes a acontecer, precisávamos ir para Chicago comprar Discos, fazer contato com o pessoal local, trocar experiências. Eu precisava fazer o meu caminho, queria criar algum tipo de música e as coisas que eu ouvia de Chicago, mais outras referências musicais e o experimentalismo foi o que ajudou. Colocamos tudo num caldeirão e BOOM, criamos algo novo.

O Brasil também pode ser mais interessante na música, vocês tem uma diversidade grande de cultura aqui e uma grande variedade de etnias, além de um espirito alegre. A Capoeira e a ginga do futebol do Brasil também são uma forma de arte, assim como a beleza da música.

5 – Strings Of Life é certamente uma das faixas mais relevantes na história da dance music. Fale um pouco sobre a importância que ela tem na sua vida pessoal.

Para mim pessoalmente foi um ponto de inflexão, mudou a minha maneira de produzir, foi da cabeça para o coração. No processo de criação eu estava com medo, porque sabia que havia algo novo, algo especial. Eu fiz ela com Michael James, criamos uma extrema emoção nessa música, uma emoção quase que religiosa.

https://www.youtube.com/watch?v=2GnFvdaEl2Q

6 – Na sua opinião, o que diferencia um bom DJ dos demais?

O público está na frente do DJ, a idéia é captar a atenção desse público e fazer com que eles sintam e entendam a energia que vem de você. Eu acho que os novos DJs não entendem coisas simples, não treinam o suficiente. É como um Cheff de Cozinha, você precisa que alguém lhe transmita conhecimento e experiências, alguém que faça você ir para o próximo level e passar esse conhecimento adiante. É preciso se conectar com as pessoas no dancefloor através da música.

7 – O que você sabe a respeito do Brasil? Quais são suas expectativas para Terraza e DGTL?

Bom café, lindas mulheres, praias incríveis, comida ótima, hospitalidade. É um país forte e dinâmico, mas a população sofre com a corrupção, o que é terrível. O real problema é como as pessoas pobres vivem, o branco e o negro, mas eu gosto de acreditar que um dia isso vai mudar. Eu adoro aprender e explorar cada cidade que eu passo, a experiência e a oportunidade de conhecer como as pessoas vivem, sejam elas ricas ou pobres, tudo é um aprendizado. Não tenho expectativas sobre as gigs, vou com atitude, sempre quero destruir o dancefloor, levar o público a outra dimensão, colocar eles em outro planeta, fisico e mental. Essa é minha missão, esse é o meu plano, a palavra é motivado [Derrick dá um soco com a mão, abre ela e faz um barulho com a boca como se tivesse explodindo a mão]

8 – Para encerrar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música representa a linguagem que não podemos falar, representa o amor onde não podemos tocar, oxigênio onde não a ar, água no deserto. É o que a música é para mim, a última língua. Sempre será assim para mim e não posso expressar, acreditar ou entendê-la de outra maneira.

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