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A música conecta

Alataj entrevista Obscure Sense

Se na Europa existem muitos produtores de Techno melódico já consagrados, aqui no Brasil é perceptível o crescimento do estilo e, consequentemente, o surgimento de artistas que se guiam pela mesma identidade. É o caso do Obscure Sense, projeto comandado pelo catarinense Charles Moro.

Apostando nos sons melódicos, progressivos e emocionais, o Obscure Sense utiliza de synths etéreos e futuristas para criar uma jornada musical estelar, transportando mente e alma para um universo paralelo. Com lançamentos por Us & Them (Grécia), Awen Records (Espanha) e Prisma Techno (Brasil), conseguiu chamar a atenção de medalhões da cena internacional como Tale Of Us, Mind Against e Fur Coat, uma conquista no mínimo impressionante pelo pouco tempo de carreira que possui.

Na busca por novas conexões e ainda mais suportes, Obscure Sense lança no dia 1º de Maio seu novo release pela Prototype Music, Lotus, com três faixas autorais — o canal de Miami, Electronic Groove,já fez a premiere de uma delas e você pode ouvir logo abaix. Mais detalhes você confere nessa entrevista exclusiva:

Alataj: Olá, Charles! Tudo bem? Obrigado por topar a entrevista. Como foi o início do projeto e quais são as influências que cercam o Obscure Sense?

Obscure Sense: Olá, pessoal! Muito obrigado pelo convite e espaço aberto para expor meu trabalho, é uma honra conversar com vocês!

Em 2014, após participar pela primeira vez de um festival de música eletrônica (Dream Valley), tive a oportunidade de presenciar alguns artistas que mudaram minha percepção musical. Tocaram lá Tale of Us, Audiofly e Sven Vath. Dali em diante me encantei com tudo aquilo e comecei a pesquisar mais a fundo os artistas. Essas pesquisas me levaram à produção musical, que logo prendeu minha atenção. Depois de muita briga com o Ableton (risos), fui entendendo a estrutura das músicas e em 2015 consegui finalizar algumas tracks.

No final daquele ano, enviei uma track para o Victor Ruiz que, naquele momento, estava migrando de estilo. Recebi um feedback que eu nem imaginava: ele agradeceu a demo e elogiou muito! Desde então, percebi que aquilo era mais do que um hobby e entendi que era um sonho, algo que eu via como futuro. Toquei em muitas festas privadas e fui recebendo feedbacks que deveria oficializar um projeto… foi então que tudo tomou mais corpo e seriedade. Desde então trabalho diariamente pelo meu objetivo, que é viver da música.

Já são quase cinco anos de projeto até aqui. Nesse meio-tempo, quais foram os principais aprendizados e as maiores dificuldades que você teve como um artista em fase de desenvolvimento?

Inicialmente a maior dificuldade foi introduzir o projeto na cena. Até então eu não participava de nenhum núcleo e tinha pouquíssimos contatos. A grande maioria do meu grupo de amigos curtia um som mainstream e isso era uma grande dificuldade até para receber feedback do trabalho que eu vinha realizando em estúdio.

Gradativamente fui conhecendo pessoas envolvidas no som que eu curtia, “metendo a cara” e enviando demos, isso me trouxe bons incentivadores. A maior dificuldade acabou se tornando uma grande lição: não importa quanto você trabalhe, é fundamental tirar esse trabalho do estúdio e enviar para outros artistas, esse feedback é o que move e ajuda a continuar motivado.

Apesar de ser um projeto relativamente novo, o Obscure Sense já  caiu nas graças dos maiores artistas de techno melódico da atualidade, incluindo Tale Of Us, Mind Against e Fur Coat. Qual deles chegou primeiro? O que passou na sua cabeça ao ver um big name internacional tocando uma produção sua? 

A primeira vez que recebi um suporte foi no Warung… e veio do Fur Coat, até então eles só tinham agradecido o contato. Eu estava com alguns amigos na pista e quando a minha track começou a tocar eu fiquei em choque, realmente não esperava… foi um dos melhores momentos da minha carreira até então, vi tantas pessoas gritando que eu não conseguia acreditar que aquilo tinha mesmo acontecido.

https://www.instagram.com/p/BK1tF2bAWCh/?igshid=1rb6fdivvxpo8

Desde então houve outros suportes lá. É muito louco pensar que eu AINDA não toquei no Warung (que é um objetivo), mas de alguma forma minhas músicas já! Ano passado, após enviar cerca de 15 tracks para o Tale Of Us, eu estava olhando algumas hashtags deles e então vi eles tocando uma unreleased minha em Pari. Foi algo indescritível, até porque eu iniciei minha carreira como produtor após ver uma apresentação deles.

Para fechar esse ano maravilhoso, recebi um suporte do Mind Against, hoje minha maior referência como DJs e produtores. Foi algo que me trouxe muita confiança e felicidade, pois eu sabia que dali para frente eu havia alcançado uma qualidade superior de trabalho.

Percebo que a sua identidade sonora casa bastante com a dos artistas mencionados anteriormente. Como você definiria o DNA do Obscure Sense? Quais são as características centrais das tuas produções?

Minhas produções sempre foram influenciadas por melodias melancólicas e sons espaciais, que fora da música eletrônica vem de um background de rock progressivo. Como clubber, sons repetitivos e hipnóticos são os que mas me prendem a atenção, por isso acabo usando esta lógica na construção das tracks. Atualmente tenho mixado as linhas de repetição melódica com grooves mais sólidos, criando um DNA mais minimalista.

Falando de estúdio, o próximo lançamento chega através da Prototype Music, nova gravadora do cenário brasileiro que surge justamente apostando nessa identidade melódica e obscura do Techno. O que Lotus tem de especial na sua visão?

Posso dizer que a confiança e liberdade que os rapazes da Prototype depositaram em mim me deram a possibilidade de trazer faixas que refletem um novo momento relacionado a qualidade técnica e maturidade do meu som. O EP traz três tracks já testadas por alguns artistas de peso e retratam composições que imprimem ótimos resultados nos momentos de pico dos sets.

Estamos longes das pistas, mas a música ainda consegue nos manter conectados. Para você, qual a mensagem principal que devemos extrair desse momento de reclusão e distanciamento social?

Na minha visão é um momento de reflexão, tanto na parte artística quanto na pessoal. É entender os pontos de melhoria e planejar o futuro tentando imprimir uma visão diferente de nosso trabalho, além de manter o trabalho relevante.

Com tanta coisa acontecendo, é difícil prever que será um momento criativo para todos, mas vejo que é possível acessar áreas da criatividade não visíveis em situações onde a rotina e outras atividades acabam tendo papel primordial em nossas vidas.

O momento é também de oportunidades, o mercado nacional deve aquecer e gerar visibilidade, então diria que muita coisa boa deve acontecer quando tudo isso passar! Nossa contribuição através da arte é levar nossa música para amenizar o impacto que a falta de entretenimento causa para a sociedade.

Para finalizar, uma clássica do Alataj: o que a música representa para você?

É a possibilidade de expressão sem padrões, de levar às pessoas o alimento para alma e para os seus corações. É também a união de várias tribos, sem julgamentos, por um propósito maior.

A música conecta.

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