Fell Reis é um nome brazuca com grande alcance na música eletrônica underground fora do Brasil. Já falamos algumas vezes dele por aqui, inclusive em uma entrevista que conta detalhes dessa trajetória.
Em um breve resumo, ele já lançou em selos como a condecorada Last Night On Earth, de Sasha, que também o convidou para abrir seu set no Warung, em 2020; já realizou turnês com Michael Meyer, em showcases da Kompakt; tem uma relação de proximidade com o trio icônico WhoMadeWho e seu mais recente feito foi ter uma de suas faixas selecionadas para a campanha de um dos maiores eventos de Ibiza, o Ushuaia.
Com uma estética sonora que percorre o Progressive House e linhas ainda mais melódicas, Fell Reis segue produzindo com afinco e observando os movimentos da música. Para ele, o avanço da tecnologia e dos recursos possibilita que muitos produtores possam se aventurar por abordagens mais híbridas, a fim de deixar a música mais viva também. O produtor diz ter se encontrado verdadeiramente nessa linha: música progressiva, mas com instrumentos gravados a mão e texturas reais.
Hoje, ele vem bater um papo com a gente para dicas sobre uma dúvida que transita pelas mentes mais puristas: como deixar seu som menos digital? É possível? Vem conferir!
Fell Reis
Quando comecei a produzir, sempre recebia um tal feedback: “deixa esse timbre mais analógico”, o que muitas vezes me deixava bastante frustrado, pois não entendia o que realmente aquilo queria dizer.
Apenas após anos de estúdio, estudo e comprando sintetizadores analógicos que fui chegar a uma conclusão sobre o tema. A minha expressão aqui é sobre a parte técnica, e não sobre o que é melhor, visto que ambos possuem suas qualidades e cada pessoa tem gostos distintos.
Existem vários pontos importantes que devem se destacar quando falamos desse tema, mas hoje vou compartilhar os que sempre tive dificuldade no começo.
Equalização e timbragem
Primeiro, o que é um som analógico e um som digital?
No grosso modo, uma onda de áudio analógica é uma onda “natural” que vem de fontes orgânicas, como violão e também “mecânicas/elétricas” como um sintetizador. Esses sons são gerados por pulsos elétricos, sopros, cordas e por aí vai. Existem sintetizadores digitais também, mas geralmente é nesse tópico onde muitos discutem.
Uma onda digital é feita por um software, ou melhor, uma conta matemática de bits, fazendo que essa onda seja “perfeita” seguindo aquele cálculo matemático não importa o que aconteça, tudo o que interferir dentro daquele sistema vem de cálculos de 0 e 1.
Quando produzimos somente usando vsts no computador, estamos simulando sons e o resultado disso muita das vezes pode ser em uma imitação barata de algo. E podem acreditar, já escutei bastante a expressão “sounds cheap”.
Uma característica marcante do som analógico é a dissonância, por ele ser algo `’natural” ele não é perfeito, vários fatores interferem na sua reprodução, desde o vento até a voltagem de algum equipamento, tudo faz com que esse som ressoa de forma única.
Quando começamos a produzir, tudo é novo para nossos ouvidos e só com o tempo notamos esses importantes detalhes. Agora imagine o ouvido de seu artista favorito que tem 20 ou mais anos de carreira e recebe mais de 100 demos por dia?…
Outra característica também marcante é na equalização. O som analógico não consegue gerar altas frequências com consciência, o que deixa o som mais “warm” ou “quente”. Já no som digital, devido ao cálculo matemático, a consistência desses harmônicos deixa o som mais estridente. Na música EDM é bastante comum ouvirmos essa estridência e se difundiu bastante devido ao fácil acesso a softwares.
Hoje vivemos em um mundo híbrido. E com a tecnologia de hoje conseguimos deixar o som mais analógico apenas com o computador. Entendendo as diferenças básicas conseguimos “desafinar” instrumentos, equalizados seguindo a curva analógica e também adicionando osciladores e modulações para que o som fique mais espontâneo e natural.
O processamento é parte fundamental para atingir esse resultado e conhecendo bem o seu daw você conseguirá atingir essa qualidade sem mesmo comprar plugins. Utilizar equalizadores que “imitam” os analógicos como tube eq, por exemplo, podem deixar o som mais “warm”. Distorções bem utilizadas ajudam bastante a conseguir esses harmônicos. Tente passar o seu synth por um amplificador ou pedal de guitarra ajuda bastante a ganhar essa timbragem. Em quase todos os daws você encontrará esses plugins.
A música conecta.