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A música conecta

Sneak Peek | Herb Alpert

Quando a Sneak Peek ganhou luz aqui no Alataj, meu principal propósito foi criar uma coluna onde pudéssemos apresentar projetos vanguardistas de outras esferas musicais, mas que, de alguma forma, tivessem relação com a música eletrônica – até mesmo de pista – e assim aumentar nosso leque de conhecimento na música. Em alguns casos, essa conexão será muito mais subjetiva. Vamos nos deparar com projetos que não tem um grande flerte com nosso mundo, mas que possuem tamanha riqueza artística, que não poderíamos deixar passar. No mínimo fará bem aos seus ouvidos e será inspirador.

Pois bem, na etapa de curadoria, entreguei os nomes para definição das pautas, com exceção de um: Herb Alpert. É esse o nome que justifica o parágrafo anterior e ao invés de trazer um artista que já conheço e acompanho, vou falar de alguém que – por questões algorítmicas e temporais – não tinha cruzado minhas pesquisas até então, mas que, por conta de uma bela e exemplar trajetória, faz jus de aparecer aqui. 

Quando menciono uma questão temporal é porque o artista americano nasceu em 1935 e alguns de seus maiores sucessos rolaram antes de boa parte de nós nascermos. Mas ele, em seus oitenta e tantos anos, segue ativo com e para a arte. E eis aqui um multifacetado e talentoso personagem: trompetista, compositor, cantor, produtor musical, produtor cultural, label head da A&M Records, acelerador de talentos, pintor expressionista, escultor, e além disso, um assíduo filantropo. Foi o único a alcançar o topo das paradas Billboard como cantor e instrumentista, separadamente. Até hoje, lançou 28 álbuns, ganhou nove prêmios Grammy, 14 de discos de platina, 15 de ouro, além de vender 72 milhões de discos em todo o mundo. 

Trajetória admirável de um prodígio que nasceu em uma família de músicos e seguiu a premissa de que a fruta não cai longe do pé. Em sua identidade sonora, vamos encontrar basicamente Jazz, Funk, R&B e bastante referência das vertentes latinas instrumentais, mas esteja consciente para captar mais coisas. Aos 20 anos, ele já escrevia músicas que viraram sucessos nas paradas e pinçava inspiração dos mais diversos cenários. Movido pela vontade de misturar culturas, fundou um projeto muito interessante, o Tijuana Brass, onde aprendeu a quebrar paradigmas de escolas mais tradicionais sobre como tocar trompete e criou muita música boa.

https://www.youtube.com/watch?v=Q280sMZE_ok

E aí o que se nota é um mergulho na cultura latina e no intercâmbio de ideias, já que suas influências eram pautadas no Jazz. Na derradeira dos anos 60, o artista voltou para o formato solo. Ganhou um prêmio Grammy com Rise, um de seus maiores feitos instrumentais. Essa marcante faixa foi sampleada, mais tarde, na canção de rap  Hypnotize (1997), de Notorious B.I.G

No decorrer das décadas, ele entregou muito à música  e narrar a sua discografia seria algo extenso demais. Mas ok, pesquisar é preciso e o que mais me saltou aos olhos ao analisar sua discografia foi que o artista percorreu mais de seis décadas de música e foi se metamorfoseando através delas e suas particularidades, mas se mantendo fiel à sua essência. A década que mais foi de encontro com essa conversa entre o instrumental e o eletrônico, foi…adivinhe qual? Pois é, a de 80, um grande ponto de convergência para a cultura, movido pelas ondas de transformação da década antecessora, mas não só isso.

Os anos 80 trouxeram repaginação não só para a música, sabemos. A década em questão representa uma grande mudança na história, pois foi ali que a liberdade social, política e cultural aconteceu em muitos cantos. A arte evoluiu e se modernizou, muitos movimentos nasceram ou se reforçaram ali, artistas mergulharam em experimentações. A música eletrônica, por sua vez, começava a dar seus passos com mais expressão. Até mesmo Herb Alpert bebeu um pouquinho dessa água. Beyond (1980) e Magic Man (1981) trazem algumas sucintas mudanças e influências do momento. Encontrei essa belezinha musical aqui – percebam o artista se aventurando por uma camada mais modernista para aqueles tempos, mas que soa muitíssimo atual:

Herb Alpert também é uma herança viva para a arte e música e não sou só eu que estou dizendo. Em 2006, ele entrou para o Rock and Roll Hall of Fame em reconhecimento de suas realizações e para a  série Icons of the Music Industry do Grammy Museum. Em 2013, recebeu a Medalha Nacional de Artes do presidente Barack Obama por suas contribuições musicais, filantrópicas e artísticas. Há também o Herb Alpert Award para artistas em formação no Instituto de Arte da Califórnia e tem seu próprio documentário, Herb Alpert is…Tá bom pra você? 

Mesmo hoje sendo aquele típico vovô bonitinho e descolado, ele segue explorando outros empreendimentos artísticos, sempre em uma conexão entre a música e as artes visuais em seu processo criativo. Além disso, realiza um trabalho filantrópico que serve de exemplo de como podemos usar nossos privilégios para fazer a diferença. A Fundação Herb Alpert apoia uma série de programas educacionais, artísticos e voltados para trabalhar a compaixão, dedicados a servir os jovens para ajudá-los a alcançar seu potencial e levar uma vida produtiva e gratificante e apoiar suas energias criativas únicas e talentos especiais.

Ufa! Uma grande história de amor com a música e as artes que inspira a todos nós. E é como eu disse: às vezes, nossa jornada será muito mais histórica, admirável e instrumental, sim. Mas sei que seres musicais que chegam até aqui se permitem experimentar. Espero que dediquem um tempo para conhecer mais desse grande ícone e sua musicalidade.

A música conecta.

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