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A música conecta

Soul Beats | Calibre

Por Laura Marcon em Soul Beats 18.06.2021

Quando procuramos o significado da palavra calibre no dicionário, além das definições que dizem da dimensão e peso, encontramos também o sentido figurado da palavra que, no caso, significa qualidade, classe e importância. Daí que esses mesmos termos podem justificar o quão difícil é escrever sobre esse artista, que coincidentemente leva em seu nome artístico essa mesma palavra.  Afinal, como conseguir colocar em palavras o tamanho da genialidade desse artista?

DJ, produtor, multi-instrumentista, artista plástico, pintor e provavelmente mais algumas veias artísticas que não somos capazes de acessar. Este é Dominick Martin. Um rapaz nascido em Belfast, Irlanda do Norte, que, assim como boa parte dos jovens nascidos na mesma época, bebeu loucamente da cultura do Punk e se apaixonou perdidamente pelo Drum’n Bass e tudo o que o rodeava. Até aí tudo bem, não fosse o fato de que, mais de 25 anos depois, pode-se dizer que ninguém neste cenário chegou perto de fazer o que e como Martin fez e ainda faz. 

O primeiro lançamento que se tem notícia vindo de Dominick é de 1995, momento em que o jovem ainda estudava Belas Artes na University of Ulster, em Belfast. A ascensão como produtor veio muito rápida e a procura das gravadoras também. Calibre sempre foi capaz de transbordar emoções profundas das mais diversas formas sonoras e com uma qualidade técnica irretocável. Uma linha de grave imponente, melodias suspirantes, atmosfera profunda, a bateria esculpida nos mínimos detalhes e um toque de instrumentação barroca. 

De lá para cá foram 17 álbuns e inúmeros singles, EPs, remixes e o que mais você pode imaginar – incluindo algumas artes visuais para capas de seus trabalhos. Tudo isso dentro do universo do Drum’n Bass? Aí é que vem a grande mágica. Nem de perto. Calibre transborda do DnB para Dub, Techno, House, Ambient, Jazz, Soul, Blues e Folk. Sua discografia é simplesmente um grande absurdo sonoro – no melhor sentido que posso dar a essa definição, é claro.

No universo dos breakbeats acelerados, Calibre pode ser considerado facilmente como um dos produtores que deu alguns dos maiores lançamentos do Drum’n Bass de sua história, passeando pelos álbuns Even If e Second Sun e as faixas Ugly Duckling e Mr. Maverick, até a série Shelflife, para citar apenas alguns desses trabalhos. Mas rotular ele como um artista do gênero apenas seria uma injustiça. Calibre também foi igualmente celebrado pelo seu álbum de Dub, Ambience e Deep House Grow, lançado no selo de Craig Richards; o impressionante e profundo Planet Hearth, que é uma experimentação profunda dentre acordes de piano clássico e atmosferas meditativas; e outros trabalhos que exploram estilos como Jazz, Folk e Downtempo que assina com seu nome de batismo.

E de onde vem tudo isso? “Sai de mim como água”, disse ele em uma recente entrevista à Mixmag. Calibre diz que se sente muito mais à vontade produzindo isolado do mundo do que em turnês e locais cheios de gente. Tanto é assim que passou muitos anos de sua vida morando em uma pequena ilha na costa oeste da Irlanda chamada Valentia. Depois de outra temporada na cidade de Colônia, Alemanha, hoje o artista mora em Berlim para sentir um pouco mais a vibração do mundo e da arte, mas principalmente das lojas de discos, uma paixão que nunca foi esquecida.

Calibre não é de muitas entrevistas, não é de muita divulgação, não se expõe nas redes sociais, nem tem seu rosto estampado em muitos lugares. Ele conseguiu, ao longo de todos esses anos, ser reconhecido única e exclusivamente através da sua arte tão particular e rica em detalhes e sentimentos. Isso tudo aliado ao grande elemento surpresa que norteia sua trajetória. A cada lançamento uma nova descoberta do que Calibre é capaz. 

Este trabalho em colaboração com Dua Lipa é um desses exemplos. Os relutantes que sofram, pois Martin foi capaz de trazer uma roupagem Drum’n Bass belíssima para a faixa da cantora e compositora do mundo Pop. O último álbum do artista também é outro momento importante de sua carreira, o primeiro de todos totalmente em 140 BPMs e com uma sutileza na harmonia, atmosfera e composição tão incríveis que a velocidade é imperceptível. 

Para nossa sorte, a previsão de desaceleração criativa de Calibre está longe de acontecer e sem sombra de dúvidas o artista seguirá nos surpreendendo por muitos e muitos anos. 

A música conecta.

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