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A música conecta

SPE 2018 | Como a Levels se tornou protagonista em uma brilhante reconstrução de cenário

Por Alan Medeiros em SPE 02.07.2018

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Por Caroline Campos e Felipe Johann

Você já sentiu a sensação de estar isolado musicalmente na sua cidade? Você vê núcleos e festas indo muito bem em outras cidades, viaja todo final de semana para poder curtir a música que gosta, mas parece que nada acontece perto de casa.

Você se pergunta todo final de semana porque ninguém tenta fazer algo novo, mas nunca consegue achar uma resposta concreta. Será que não é viável produzir um evento do estilo musical que você gosta?  Será que você está sozinho? Será que ninguém mais quer escutar o que você escuta?

Essas perguntas começam a ficar mais persistentes e não saem da sua cabeça.  Você junta alguns amigos em um jantar e fala do assunto. A ideia parece brilhante e você finalmente encontrou outras pessoas que pensam como você. No outro dia com os ânimos mais calmos vocês voltam a se falar e não parece mais uma grande ideia, afinal vocês não têm o principal: dinheiro.  Todos desistem. Por semanas aquela voz não sai da sua cabeça, e o inesperado acontece… você decide tentar.

Essa é a história de milhares de eventos, inclusive o nosso, que nasceram como uma ideia. Hoje vamos contar para vocês como levantamos da cadeira para colocar o nosso projeto em prática. Vamos falar também dos principais desafios que passamos e das ferramentas que mais nos ajudaram ao longo desses 4 anos.

Mas primeiro…. Quem somos nós?

Nós somos dois estudantes de design apaixonados por música eletrônica e viagens. Nos conhecemos na faculdade e desde então não nos separamos mais, na vida e no trabalho.  Moramos em Porto Alegre, temos um estúdio de design e produzimos a festa Levels.

A Levels ocorre a cada dois meses, em formato sunset, em uma marina que fica um pouco fora dos grandes centros de Porto Alegre e que antes desses quatro anos era bem pouco conhecida. O local é um dos pontos fortes da nossa festa, com um visual incrível à beira do rio Guaíba, um dos cartões postais de Porto Alegre e seu famoso pôr-do-sol.

Pela Levels já passaram grandes artistas internacionais como: Barem, Nastia, Rodriguez Jr, Andhim, Doctor Dru, Marco Faraone, Danny Daze, Hyenah, Oxia, Traumer entre outros.  Muitos artistas nacionais também passaram pela nossa pista e temos muito orgulho em dizer que muitos artistas locais também alcançaram uma boa visibilidade depois de passar por ela.  

Com tantos DJs e produtores legais que passaram por aqui você deve estar imaginando que Porto Alegre sempre teve uma cena super consolidada, não é?  Bom, não foi sempre assim. Por isso o termo RECONSTRUÇÃO está no título desse texto.

Porto Alegre já foi um pólo de música eletrônica, e depois não era mais, e agora está no caminho.  

Essa é a parte complicada do texto, algumas coisas nós vimos, outras só ouvimos falar, já que a maioridade nem era uma realidade para nós dois nessa época. Porto Alegre já foi a cidade de clubs de vanguarda na música eletrônica, como Fim de Século, NEO, Spin, Madras. A cidade também foi o berço de grandes festas como a Fulltronic, essa que tivemos o privilégio de ter ido em uma edição com ninguém menos que Hernan Cattaneo. Grande DJs nasceram na nossa cidade, e muitos deles se mudaram para outras cidades após esse período.  

Nós já discutimos várias vezes sobre o assunto e a verdade é que não encontramos um único fator que fez grandes produtores desistirem da música eletrônica “conceitual” na nossa cidade. Mas o fato é que a cidade que recebia mensalmente grandes DJs e depois disso passou alguns anos bem difíceis, com festas que traziam somente atrações de EDM.

Alguns núcleos lutaram com muita dificuldade para não deixar a “cena” morrer, mas a verdade é que o período foi complicado e poucos deles ainda existem. Clubs de música eletrônica abriam e fechavam em períodos de 2 anos no máximo e os que sobreviveram passaram a trabalhar com foco em outros estilos musicais. O que sempre continuou firme e fiel a sua essência foram as raves, mas poucas ocorriam realmente na cidade de Porto Alegre.

Você deve estar se perguntando, o que nós fazíamos nos finais de semana?  Como achamos que uma festa em Porto Alegre poderia dar certo quando criamos a Levels? A verdade é que todo final de semana estávamos na estrada, a caminho de outras cidades do interior, que estavam fazendo MUITO pela música eletrônica.

Essa é a parte do texto é para você, que tem uma festa ou um club no interior e acha que as coisas na capital são muito mais fáceis.  Em alguns casos o contrário pode acontecer. Festas e clubs como Colours, Sunset Sessions e Beehive já estavam construindo há muito tempo a cena no interior, o que nos influenciou fortemente a acreditar que poderíamos construir algo na nossa cidade.

// Relembre nossa entrevista com o pessoal da Beehive

Vai lá e faz! Tirando a ideia do papel.

O início nunca é fácil, você deve ter isso em mente. Música eletrônica está longe de ser o gênero musical favorito dos brasileiros e quando se trata de nichos mais específicos como House e Techno, esse número cai ainda mais.

Música eletrônica é que nem gastronomia, depois que você desenvolve o seu paladar, vai querer provar sempre coisas novas e diferentes, mas se for acostumado a comer sempre fast-food e nunca provar algo novo, vai continuar comendo sempre a mesma coisa. Então o trabalho leva tempo e precisa ser feito em etapas.

Primeiro você deve convencer as pessoas a ir a uma festa que provavelmente elas não conhecem muito sobre os artistas. Muitas irão gostar, começar a pesquisar em casa, montar playlists e enfim serão os seus melhores aliados na missão de espalhar uma cultura. Descubra quem são essas pessoas, traga-as para perto do seu evento, como promoters ou embaixadores.  Eles serão essenciais para um tópico que discutiremos depois, sobre comunidade.

Algumas pessoas não vão gostar do estilo musical que você está propondo, e não tem problema, algumas podem até continuar indo no seu evento porque gostam do local, do clima, do público, dos serviços agregados que você oferece. Por isso é muito importante se mostrar aberto e pronto para acolher pessoas que não entendem tanto de música. Até mesmo ter esse cuidado na hora de comunicar o seu evento e os artistas que irão tocar, afinal o que parece óbvio para você pode não ser tão óbvio assim para os outros.

Levar pessoas para o seu evento é só o primeiro dos desafios. Depois de algum tempo você começa a se deparar com os desafios legais de produzir um evento, como alvarás, PPCI, vistos de artistas internacionais entre outros.  Não se assuste, pouquíssimos eventos já nascem atuando 100% na legalidade, até porque muitas vezes o custo disso acaba até inviabilizando a ideia. Procure começar o seu evento em um local que já possua essas licenças, mesmo que seja em um formato de sociedade com o dono do local. Começar em um local que você tenha que fazer tudo do zero pode ser muito caro e arriscado para um evento que está começando.

Sobre o risco, gostamos muito da teoria sobre o MVP (mínimo produto viável), erre rápido e erre barato. Muitas pessoas passam anos planejando o evento perfeito e quando colocam o projeto em prática ele já nasce tão complexo e caro que nasce com um risco altíssimo de fracasso. A melhor maneira de se colocar uma ideia em prática é realmente no modelo de protótipo, pedir feedback, arrumar, lançar um primeiro produto, pedir feedback novamente… é literalmente como consertar o carro enquanto ele anda. Uma leitura que gostamos muito de indicar é o livro Vai lá e Faz do Thiago Mattos, um dos fundadores da escola de criatividade Perestroika.

Se você nos perguntar se foi assim que fizemos, a nossa resposta é não. O resultado disso é que no início nós erramos bastante e com riscos e perdas mais altos do que o necessário. Por isso, esse é um dos melhores conselhos que poderíamos dar para quem está começando a produzir eventos. Nunca é demais repetir para gravar: erre rápido, erre barato!

O mundo tem fome de experiência, patrocinadores também.

Os velhos moldes da publicidade e propaganda não funcionam tão bem com os millenials, isso já é fato. A melhor maneira de se conectar com esses consumidores é criando experiências memoráveis e com significado e, vamos combinar, eventos são perfeitos para isso. As pessoas estão felizes, sem preocupações na cabeça e abertas a novas experiências.

Como comentamos antes, Porto Alegre não era exatamente um pólo de cultura em música eletrônica, por isso sempre tivemos em mente que teríamos que ser mais que uma festa, mais do que simplesmente música. Desde o início nos preocupamos em fazer ações diferentes como área de gastronomia, já fizemos um market de marcas independentes de moda, exposições de arte, live painting, cinema ao ar livre, uma edição picnic com vários jogos entre outras ideias loucas.

Não são todos os patrocinadores que se interessam por isso, principalmente os grandes costumam ter uma fórmula bem definida baseada no seu consumo anual de produtos para ver se o seu evento é viável como patrocinado ou não. Então talvez leve algum tempo para conseguir verba desses grandes players, mas assim como você não consegue chegar nos grandes players que estão patrocinando grandes eventos, existem milhões de marcas pequenas que não conseguem chegar nos grandes eventos. Entenderam a lógica?  Você até pode ter um grande patrocinador, mas existe também a possibilidade de ter vários patrocinadores menores, que no final representam a mesma cota de patrocínio de um grande.

Por experiência própria, marcas menores costumam ser mais abertas para co-criar experiências únicas dentro do seu evento. Nós costumamos sempre criar essas ideias antes de buscar o parceiro, assim pensamos o que seria legal para o nosso público consumir como diferencial do evento e depois buscamos um patrocinador que possa aproveitar as memórias criadas com a ação em benefício próprio, seja para vender mais ou criar relacionamento com o público. Lembre-se que o seu evento também está crescendo, e pode se beneficiar da associação de marca com esses parceiros, nem tudo é dinheiro.

A força da comunidade e os defensores do seu evento

Toda marca, seja evento ou não, passa por algumas crises em sua existência.  Nós já passamos por algumas bem sérias, como uma vez que o local do nosso evento alagou e trocamos de lugar a menos de 24h antes do evento.  Tivemos recentemente outra crise, que foi fazer um evento durante a greve dos caminhoneiros e com muitas pessoas sem gasolina para chegar até a locação. 

Uma marca que possui simplesmente clientes durante uma crise como essas que citamos, recebe uma enxurrada de reclamações e pedidos de cancelamento de ingressos. Basta um comentário negativo que é como uma onda, todos começam a dar feedbacks negativos.  Uma marca que possui uma comunidade fiel e bem construída, sempre vai possuir defensores. São eles que durante uma crise farão aqueles primeiros comentários positivos, compreensivos e empáticos, que farão com que a mesma onda ocorra, mas em forma de feedbacks positivos e comentários compreensivos.

Por isso nutrir essa comunidade é tão importante. Nós gostamos de manter um contato bem próximo e pessoal, por exemplo, respondemos todas as mensagens da nossa página e instagram, e sempre que possível deixamos claro que somos nós (Carol e Felipe) que estamos falando.  Isso gera uma certa surpresa e muitas vezes essas pessoas passam por nós na festa, cumprimentam e agradecem pela ajuda prestada no suporte. É algo simples, mas com um alto grau de efetividade em transformar clientes em fãs.

Uma ferramenta que tem nos ajudado muito é o Social Wave. Eles fizeram uma busca de possíveis embaixadores da Levels através de campanhas de Facebook ads e, após algumas filtragens, montamos um grupo muito forte de embaixadores da marca. Hoje eles vendem ingressos, ajudam a divulgar, engajam em nossos posts de redes sociais e mais que isso, se tornaram nossos amigos. Temos um grupo de WhatsApp que conversamos quase todos os dias, costumamos pedir feedback sobre artistas, trocamos ideias sobre músicas, sets.

Outra ideia que pretendemos colocar em prática este ano é criar um grupo de Facebook para clientes fiéis da marca, aqueles que sempre compram ingressos com bastante tempo de antecedência etc. Por ali lançaremos promoções específicas  e conteúdos especialmente para eles. Acreditamos que com as últimas atualizações do algoritmo da plataforma que diminuiu a relevância dos posts de páginas, os grupos podem ser uma última esperança para continuar mantendo um contato mais direto com os fãs da marca.

Comunicação: descubra a sua voz

Não adianta nada falar uma linguagem que os seus ouvintes não se identifiquem. Por isso é muito importante pensar para quem estamos falando, e como iremos transmitir uma mensagem deixando claro que somos nós que estamos falando.  

A Levels desde sua terceira edição tinha um slogan que definia o nosso propósito: “Espalhe o amor, espalhe a música”. Sempre que possível gostamos de repetir isso, usar hashtags e já fizemos até camisetas e outros itens promocionais com a frase. Isso ajuda com que outras pessoas entendam de forma muito rápida o porque de você existir enquanto marca e se identificar ou não com você.  

https://www.facebook.com/levelssunset/videos/vl.147777095881154/1212070428925947/?type=1

O nosso propósito se reflete diretamente no nosso tom de voz. A Levels fala muito em amor, fala com carinho, algumas vezes no diminutivo, costumamos usar emojis nos nossos textos. É como um código único de comunicação e cada marca deve ter o seu. Encontrar o tom leva algum tempo, mas é impossível de encontrar o seu sem ter um propósito claro e definido.

Propósito, o seu melhor amigo nas horas difíceis

O início de um produtor de eventos é difícil, principalmente se você está trabalhando com um nicho menor de mercado.  Nessas horas o que vai segurar você é o famoso propósito. Muitas vezes você não vai ganhar dinheiro, talvez vai até perder, mas se tiver um propósito claro vai se manter firme e pronto para a próxima batalha.

Propósito é a sua missão como ser humano, é como o seu negócio vai impactar positivamente a vida das pessoas, é de que forma você vai deixar o seu legado para o mundo. Empreender é uma ótima forma de encontrar um propósito e se você ainda não encontrou, não tem problema! Ele também é mutável e está sempre evoluindo conforme você vai se conhecendo melhor.

Por fim, não desista facilmente. Uma boa ideia pode ser começar a trabalhar no seu evento como um hobby, ou um negócio paralelo. Quando não dependemos financeiramente do evento tomamos decisões com mais calma e entendemos que algumas coisas levam tempo.

Nós tivemos certeza do nosso propósito quando vimos mais de mil pessoas dançando, compartilhando momentos de felicidade e amor através da música que proporcionamos, e foi uma das melhores sensações que já sentimos na vida!

https://www.facebook.com/levelssunset/videos/1371823262950662/

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