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A música conecta

Special Series | Dave Lee

Por Laura Marcon em Special Series 15.09.2020

Peço a sua humilde licença neste novo Special Series para tentar escrever sobre uma entidade do House. É isso que você leu mesmo, e-n-t-i-d-a-d-e. Não é exagero, é a mais pura realidade. Da Ilha de Wight, na Inglaterra, para o mundo, Dave Lee está facilmente entre os cinco artistas mais emblemáticos do estilo em toda a sua história. Talvez você não esteja se familiarizando de prima com esse nome, mas basta saber que um dos seus pseudônimos (e o mais conhecido até hoje) é Joey Negro que tudo fica mais claro, não é mesmo? E quando digo “um dos” é porque esse monstro da música já apareceu no cenário por mais de 40 pseudônimos, entre projetos solo e em conjunto. Mais uma vez, é isso que você leu, q-u-a-r-e-n-t-a. 

Mas vamos à tentativa de escrever sobre ele. Dave Lee nasceu em 1964 na Ilha de Wight mas não muito tempo depois mudou-se para Essex, um condado da Inglaterra no sudeste do Reino Unido. A relação com a dance music e sua pesquisa começou ainda na adolescência, através do estilos como Soul e Funk. De Essex para Londres, Lee começou a trabalhar em uma loja de discos na capital da Inglaterra e logo em seguida na gigante  alemã Rough Trade Distribution, distribuidora da gravadora de mesmo nome, onde fundou uma sessão de Disco Music chamada Demix Dance Division.

Através da Demix, Lee trabalhou em conjunto com outro label de renome na época, o Rhythm Records. Toda essa experiência levou o artista a fundar sua própria gravadora, a hoje extinta Republic Records, em 1988. Foi também nesse ano que ele começou a dar seus primeiros passos como produtor, além de já ter intimidade com a discotecagem, é claro. Sempre dedicado ao Disco e House Music, ele iniciou sua trajetória na criação tanto em carreira solo quanto em projetos como MD-Emm. Aliás, foi Dave Lee um dos primeiros artistas da história a incorporar samples retirados diretamente de discos de vinil nas produções, artifício utilizado por uma parcela gigantesca de produtores ao redor do mundo.

As criações através de diferentes pseudônimos acompanharam sua carreira desde o início e os nomes geralmente eram escolhidos a partir de um recorte de outros nomes de artistas dentro de sua coleção de discos. Foi em uma dessas junções que nasceu Joey Negro, uma invenção despretenciosa, na concepção do próprio artista, mas que alcançou abrangência mundial e notoriedade entre público e colegas de profissão. Mas engana-se que, a partir de então ele abandonou outras possibilidades de aliases e que essas não receberam destaque. Um exemplo disso é um de seus projetos solo, Jakatta, por onde ele lançou hits da pista de dança como American Dream, So Lonely e My Vision.

Já que falamos sobre hits, aqui vai um assunto um tanto quanto complicado, confesso, já que fazer qualquer citação mais profunda sobre as criações de Dave Lee é um desafio tremendo. Para se ter ideia, ao longo de sua carreira, Lee produziu um número surpreendente de faixas, álbuns, EPs, singles e remixes e para alguns dos maiores artistas do mundo, incluindo Bob Marley, Roisin Murphy, Pet Shops Boys, Diana Ross, Grace Jones, Lionel Richie, Mariah Carey e Tears For Fears – para citar apenas alguns. Ao lado de nomes como Nile Rodgers, Daft Punk, Jamiroquai e Dimitri From Paris, ele é um dos poucos artistas que manteve acesa a chama da Disco Music de forma feroz até tempos presentes.

Dave Lee já lançou suas faixas em absolutamente todas as mais importantes gravadoras de Disco e House Music, além de gerenciar seu próprio selo, Z Records, por onde lança suas faixas e também dos artistas mais renomados dentro do estilo que propõe. O label completa seus trinta anos de existência com mais de 200 lançamentos em seu catálogo, mantendo desde a sua fundação uma ideologia sonora consistente e de qualidade inegável. Para comemorar todo o trabalho desenvolvido, a gravadora está lançando este ano uma série de EPs com faixas icônicas do selo. O primeiro capítulo da série foi apresentado na metade deste ano e a 3ª compilação foi lançada nesta terça-feira (15) mesmo.

Talvez você deva estar se perguntando porque trouxemos o nome Dave Lee em todo esse relato ao invés de simplesmente Joey Negro, como foi – e ainda é – mundialmente conhecido. No dia 22 de julho deste ano o artista anunciou publicamente que deixou de usar o pseudônimo mais forte de sua carreira e que, a partir de então, utilizaria no lugar seu nome de batismo. O motivo da mudança aconteceu em respeito à comunidade negra que vinha há alguns anos demonstrando seu descontentamento com a utilização da referência direta à comunidade. 

+++ Após 30 anos, Joey Negro anuncia mudança de nome. Entenda

Bom, tentei de forma resumida colocar em palavras o tamanho desse gigante. O que aqui foi escrito não está nem perto de mostrar a importância de Dave Lee para o cenário da música, porque ele definitivamente rompe as barreiras da cultura eletrônica. Um verdadeiro ícone a ser seguido e reverenciado por todos nós.

A música conecta.

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