Tornar-se referência naquilo que se faz, independente da área em questão, requer três ingredientes básicos: estudo, dedicação e prática. Muita prática. Alguns, por sorte, acabam ganhando um empurrãozinho nessa história, mas outros batalharam muito para chegar até onde estão e passaram por cima de muitos nãos. É o caso de DJ Murphy, hoje um dos maiores representantes do Techno brasileiro em nível mundial.
Mas se engana quem pensa que ele começou logo de cara no Techno, nada disso. Suas maiores influências eram o Hip-Hop e o Acid House — na época que começou a discotecar, ele mal sabia o significado de Techno. Gradativamente, foi descobrindo os beats intensos do estilo e, aos 16, tornou-se residente de um club em Osasco, experiência fundamental para seu crescimento profissional.
Aos poucos, os sons oriundos de Detroit e Berlim foram chegando aos seus ouvidos e o Techno foi sendo incorporado nas suas apresentações. No ano 2000, participou de um evento chamado Rave Hypnotic que, além das festas, promovia um campeonato de DJ. A vitória não escapou de suas mãos e o cara acabou ganhando uma passagem para Londres. Foi aí onde tudo começou a dar certo – ou não.
Murphy e seu manager embarcaram para o continente Europeu com pouco dinheiro, algumas malas e um conhecimento em inglês bem básico. Quando chegaram, foram recebidos por uma equipe de policiais, que os levaram para uma sala onde ficaram trancados por quase 10 horas e, quando achavam que seriam liberados, na verdade foram deportados.
Nada disso impediria a determinação de Murphy em seguir em frente. Na verdade esse episódio foi como jogar mais gasolina em um incêndio. As coisas começaram a acontecer para ele no mercado musical muito por conta de sua técnica diferenciada. Murphy tem até hoje uma performance incomparável, vê-lo discotecar é como se divertir em uma peça de teatro e imergir num universo paralelo, sua seleção musical precisa combinada ao excelente turntablism são os elementos-chave que fazem suas apresentações serem realmente única.
Murphy mantém o mesmo setup há muito tempo, sempre acompanhado dos toca-discos e outros equipamentos tecnológicos que ajudam a dar vazão a toda sua liberdade criativa quando está se apresentando. Sven Vath e Marco Carola são artistas que também seguem essa linha e possuem setups bem parecidos com o seu.
Os anos foram passando e Murphy foi somando diversas conquistas em seu currículo. Foi eleito por algumas vezes como o melhor DJ do Brasil e também melhor DJ internacional pela revista alemã Raveline; tornou-se residente de clubs icônicos como Lov.e, Manga Rosa, D-Edge e Clash; se apresentou em mega eventos pelo Brasil e pelo mundo em mais de 30 países, incluindo os festivais Skol Beats, Nature One, Awakenings, Mayday, Dance Valley, Time Warp, I Love Techno e Monegros, onde, inclusive, registraram um vídeo icônico seu fazendo o closing set.
Em paralelo com a discotecagem, o trabalho de estúdio teve start quando sua carreira começou a decolar, nos anos 2000. Começou com a track Non Sense, que saiu num VA em vinil do selo brasileiro Brasil com S; o segundo, novamente por uma gravadora local, foi o release de estreia da URBR, disco que rodou o mundo e inclusive foi parar nas mãos de Carl Cox.
Em 2003 ele soltou seu terceiro lançamento, o EP Tem Lenha!, pela label alemã Definition Records, e com o tempo chegou até outros selos renomados internacionais como Fine Audio Recordings, Naked Lunch, Dolma Records, Definition Records e Patterns Records.
Hoje, ao lado de Spuri, ele ainda administra a Hotstage Records, gravadora que está constantemente ajudando a revelar artistas promissores do Techno nacional. Foi assim, passando por cima de não’s e superando adversidades que Murphy transformou-se numa grande inspiração para qualquer artista presente na cena. Hoje, as dificuldades mudaram de nome mas seguem igualmente dolorosas, portanto, tenha esse medalhão do Techno como exemplo e não deixe que qualquer barreira no caminho atrapalhe seu sonho.
A música conecta.