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A música conecta

A mistura de ritmos e frequências da produção musical de Mr. Ho

Por Ágatha Prado em Storytelling 14.03.2022

Hong Kong pode não ser um polo amplamente reconhecido dentro do Dance Music contemporâneo, porém quando repousamos nossos olhares sobre nomes como Ocean Lam, Jeremy Cheung, Nanogram e Cocoonics, para  festas como a Cipher e festivais como o Shi Fu Miz Festival e o emblemático Sonar, vemos que Hong Kong dá fortes sinais de crescimento com relação à sua cultura eletrônica underground. E um dos grandes responsáveis por essa difusão, em âmbito global sobretudo nos últimos anos, é Michael Ho, ou mais conhecido pelos quatro cantos do cenário como Mr. Ho.

Influenciado pela estética excêntrica e cyberpunk que ressoa através dos arranha-céus de Hong Kong, Mr. Ho traz consigo uma pluralidade geográfica em sua assinatura, que bebe de referências que vão da estética Electro britânica e até mesmo das batidas sincopadas do Funk brasileiro. Com esse perfil sonoro viajante, Mr. Ho se tornou sinônimo de autenticidade. O artista é nascido em Hong Kong, mas teve um laço profundamente enraizado com a cena de Berlim, já que conquistou por alguns anos, uma residência na emblemática OHM. Então após sua volta para sua cidade natal, foi natural que Mr. Ho comandasse as noites de uma das casas locais mais emblemáticas, a Mihn

Definir o trabalho de Mr. Ho, ou tentar caracterizá-lo a algum rótulo específico, é algo inútil, mas por boas razões. Sua abordagem de discotecagem e produção é singular e ao mesmo tempo polimórfica ao cruzar perfeitamente gêneros e estilos que estão enraizados em House, Breakbeat, Techno e Electro, algo que é altamente ressonante na Klasse Recordings  que posteriormente evoluiu para a Klasse Wrecks, label hoje comandada por ele ao lado de Luca Lozano.

Apesar de ter seu nome estampando os catálogos da Slam City Jams, Permanent Vacation, EPS Institute, Deep Cover e Cabaret Records, foi através da própria Klasse Wrecks que o trabalho de Mr. Ho alçou vôos consideráveis em especial durante o período de lockdown. Foi por lá que ele ganhou os corações do underground brasileiro, com a faixa Bail-e, produzida em collab com o produtor coreano Mogwaa, trazendo parte da essência do Funk carioca sob os beats do Electro, no EP Eu-Li. Aliás, as outras três faixas do disco, Hustler’s Billiard’, Conquest e DistFreestyle, também merecem uma atenção especial.

Ao lado de Luca Lozano, Ho também se aventura por diversas camadas da eletrônica surfando pelos ares do Acid e até mesmo do Trap, incorporando diversas roupagens aos Breaks, ora mais refrescantes e abertas outras vezes mais sérias e frenéticas, atingindo a marca dos 140 BPM. Homeboy e Visions of the Rhythm Pt.1 e Pt.2, são provas dessa sintonia atípica e consistente dos dois heads da Klasse Wrecks, mostrando que a complexidade musical de ambos é robusta o suficiente para não se enquadrar em uma única esfera.

No fim do ano passado, Mr. Ho nos presenteou com seu primeiro álbum de estúdio, enriquecendo ainda mais a bagagem musical da Klasse Wrecksl. “Michaelsoft” conta com 9 faixas, incluindo não apenas os singles clássicos do artista responsáveis pelo seu sucesso no cenário – como a própria Bail-e – mas também cuts inéditos que estiveram latentes no estúdio do artista durante o período longe das pistas. 

O álbum é uma espécie de jornada, começando com os ritmos mais viajantes de 000Baby e as batidas levemente quebradas da arrepiante Ngomee – produzida em parceria com Xiaolin – antes de se aventurar no Electro vibrante e Peak Time com Quit Startin e flertes com o  Ghetto-Funk de 14me. Depois de ouvir “Michaelsoft” , o ouvinte é lembrado mais uma vez do fator tempo e versatilidade, especificamente o tempo que o produtor passou silenciosamente aprimorando e aperfeiçoando calmamente seu ofício enquanto o resto do mundo parecia cair no caos, e a precisão de beber de diversas influências urbanas construindo algo expressamente original e inspirador. Não é a toa que Mr. Ho é uma das grandes apostas do Electro da nova geração. 

A música conecta.

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