Já imaginou começar sua carreira na música eletrônica por conta de um vôo atrasado que nem era seu? Essa é basicamente a história de Andre Torquato, que inclusive já contamos através da coluna Minha Primeira Gig, em 2017; hoje, porém, nos aprofundaremos ainda mais em sua trajetória, resgatando detalhes para mostrar como tudo foi acontecendo de forma muito natural para que ele chegasse onde está hoje.
+++ Minha Primeira Gig | Andre Torquato
Em 1989, Andre resolveu sair do banco em que trabalhava para dar atenção total à música e viver exclusivamente dela. Ele sempre foi um cara da música, daqueles que consomem não apenas ouvindo, mas apreciando. Suas bases foram sendo construídas principalmente através da música brasileira, banhada pelo jazz, soul e, claro, muito rock. Dentro desses estilos, ele ouvia vários artistas que incorporavam elementos de música eletrônica, como Jazzanova e 4hero, por exemplo. Essa relação começou a se intensificar graças à sua amizade com Ale Reis, que lhe mostrou diversos discos de artistas que faziam essa fusão — e foi graças também a Ale Reis que ele teve sua primeira oportunidade como DJ.
Por conta de um voo atrasado em outro estado, Ale ligou para Andre e pediu que ele cobrisse sua gig no Cafe De La Musique Floripa, club onde ele mantinha residência mensal. Incentivado pelo amigo, Andre foi lá e fez o que tinha que ser feito, tocando alguns CDs do próprio Ale Reis. Graças ao seu bom gosto e a ótima seleção musical, no mesmo dia um cliente falou com Andre e o convidou para ser residente em um outro restaurante bem conceituado da época, o Museum. “Essa residência foi meu primeiro compromisso profissional como DJ de fato. Lembro também de uma apresentação para uma coleção de roupas femininas de uma marca, e a partir daí foram pintando gigs no interior de São Paulo e fora também”, lembra.
Antes disso tudo acontecer, Andre fez parte de uma banda que rodava pelas noites santistas tocando reggae, rock e pop. Além de guitarrista, sua função era programar todos os arranjos adicionais das músicas, desde o arranjo de metais, teclados, synths e percussões. “Como não tínhamos esses músicos na banda, eu fazia isso no meu sequencer da Korg. Foi a partir disso que comecei a compor minhas próprias músicas. Então, quando conheci e me tornei amigo do Ale, ele me ensinou a usar a DAW do Logic para de fato produzir música eletrônica”, conta ele, que tinha como principais referências Gilles Peterson, Dj Marky e Osunlade, artistas conhecidos por serem exímios seletores.

Nessa época, entre 2005 e 2006, o D-EDGE ainda era um club relativamente novo na cidade, já que havia se instalado na Barra Funda em 2003, mas foi o lugar responsável por consolidar a carreira de Torquato nos anos seguintes. “Eu considero o D-EDGE minha casa, ajudou a abrir portas em outros lugares. Depois que comecei a me apresentar lá com frequência, fiquei próximo do saudoso e insubstituível China, isso estreitou nossa relação e passei a contribuir de forma modesta com os selos do grupo. Ajudando na curadoria, seleção, contatos com artistas e distribuidoras, etc”.
Alguns anos depois, ao lado novamente de Ale Reis e de Rafael Moraes, ele idealizou o coletivo Nomumbah e logo conquistou sua residência no D-EDGE, aos poucos ganhando o respeito da cena underground local. As diversas experiências musicais e conexões que ele foi fazendo ao longo dos anos também deram vida a outros projetos musicais paralelos, como a84, døøb, Andre Torquato Project e tqt. Não tinha regra, a ideia era sempre criar um material com certa originalidade sem forçar a barra ou seguir tendências momentâneas.
Inclusive, Andre percebeu que assinou muitas coisas com pessoas e projetos diferentes ao longo da carreira, mas que tem poucas coisas no formato solo, portanto, pretende lançar com mais frequência EPs e discos que sejam totalmente autorais. Em julho, por exemplo, ele soltou o EP Traffic pela Soulcuts Records, selo do HNQO, que ainda assinou o remix para Arpoador; além deste, Andre voltou ao catálogo da D-Edge Records para apresentar Cena 6, EP de duas faixas autorais que destaca muito bem a sua essência e identidade na música eletrônica, apostando principalmente em linhas mais clássicas e sofisticadas do House e do Deep House.
Junto da música, Torquato ainda cultiva um carinho pelo surfe e busca acompanhar as etapas do circuito mundial sempre que pode, além de assistir a alguns jogos da liga inglesa de futebol. “Não sou fanático nem por um nem por outro, mas ainda quero comprar uma pranchinha, nem que seja de bodyboard, pra desenferrujar um pouco”, revela Andre, que no momento tem se dedicado principalmente à produção musical e a uma outra ocupação insubstituível, a de pai. “Tento ser um pai legal pra minha filha, é a coisa mais importante da minha vida”.
Os momentos de paternidade se dividem com algumas horas dentro do seu home studio, o qual ele também se orgulha em falar: “Atualmente tenho o sampler SP-16 e o synth analógico AS-1, ambos da Toraiz, e realmente curto muito eles, são a base de tudo. Recentemente peguei o AIRA JX-08 da Roland, que é incrível, pois traz timbres dos anos 80 e 90 que adoro. Junto a isso tenho meu novo xodó, a drum machine T8 da Roland, que de brinquedo não tem nada. Ela realmente tem som único e dá vida e dinâmica para a performance ao vivo. Tenho também um loop station da Boss e quero muito incluí-lo nesse rolê, mas não tive tempo ainda”.
Depois de ter superado os desafios da pandemia, um momento de muita incerteza e preocupações, Andre agora está focado na composição de dois novos álbuns, um deles com participações de grandes músicos que devem contribuir trazendo elementos de jazz e do broken para as faixas. Um novo live também está sendo estruturado com o objetivo de incorporar elementos de house, break e techno na apresentação. A única certeza que temos é que o resultado final será de altíssima qualidade, assim como todos os outros projetos e criações em que Andre coloca a mão, já que dedicação e paixão pela música são características que nunca faltam em seus trabalhos.
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