Chris Stussy é um dos artistas da nova geração responsáveis pela grande reviravolta de alguns nichos estéticos da música eletrônica. O jovem produtor holandês, que além de ser um dos DJs mais requisitados do circuito europeu, é também o co-fundador da PIV gravadora que se tornou um ponto de encontro para um caminho sonoro diferenciado e que passou a influenciar uma grande onda de produtores ao redor do mundo, conectando nomes como DJOKO, Prunk, Sidney Charles, Aron Volta e muito mais.
Apostando em um novo conceito de Minimal House – que se distancia bastante dos clássicos do Minimal romeno, e de trabalhos como os de Ricardo Villalobos e Melchior por exemplo -, o som de Stussy a primeira vista, é passível do seguinte questionamento: “ é Deep, Minimal, House ou Tech House?” Isso porque o direcionamento do artista tende para todas essas vias ao mesmo tempo, fundindo em um conjunto complexo e distinto de grooves, melodias e combinações de elementos.
Segundo ele próprio, essa fusão que levou ao “novo Minimal” não foi algo intencional. “Eu não tento abusar de um determinado som em minhas produções, estou sempre procurando aquele som particular que nunca tinha ouvido antes, é assim que desenvolvo meu som. Eu adoro pads quentes e linhas de sintetizador cativantes. Coloque uma linha de baixo groovy tocada como uma guitarra funky e filtre e você terá algo especial lá!” disse Stussy em uma entrevista para a Sample Market.
Então foi trazendo um ritmo mais acelerado, com grooves à lá Tech House, adicionado à melodias refrescantes que atendem ao conceito do “menos é mais”, além de baterias cristalinas com elementos e texturas estrategicamente posicionadas, é que Stussy consagrou um tipo “diferente” de Minimal a ser executado tanto através dos showcases da PIV como também por meio de diversos palcos da cena europeia.
Apesar da máxima “less is more” que vigora na concepção criativa de Stussy, é perceptível que em muitas produções o artista adiciona uma boa dose de complexidade em suas melodias, conectando grooves mais profundos do Deep como podemos notar em Central Frenzy, faixa que foi lançada pela Kaoz Theory, em seu último EP A Glimmer of Hope.
Há quem possa discordar de que as produções mais recentes de Chris Stussy possam ser encaixadas como Deep House de fato, porém o flerte com grooves suaves e melodias mais complexas apontam ares um tanto distintos daquele Minimal House típico do artista que estávamos acostumados há dois anos atrás, ou mesmo através de grande parte de suas produções pela PIV.
Embora as raízes e influências do artista ainda se conectem a nomes como Archie Hamilton, Michael James e Traumer, sua paixão pela essência clássica do House e suas referências de Chicago, têm direcionado as produções mais recentes de Stussy para fronteiras além do que ele mesmo costuma receitar.
Talvez os maiores exemplos de trabalhos de Stussy que flutuam para além dos moldes “new minimal”, são os remixes que o artista produziu para nomes como Daniel Williamsen, e principalmente para os mestres Kerri Chandler e Troy Denari, que saiu pela Madhouse no ano passado. Sem perder sua característica excêntrica, o holandês se aprofunda no poder dos vocais de Denari adicionando sua visão de House contemporâneo porém com uma certa maturidade nítida nos arranjos.
Além disso, o EP Get Together que é fruto da colaboração de Stussy com S.A.M, também aponta para um caminho um tanto diferente daquele que estamos acostumados a ouvir do artista. E tem dado certo, a faixa Breather – que se posiciona como um dos destaques de Stussy no Beatport – traz uma referência forte àquele House de Chicago, principalmente quando a atenção se volta às linhas clássicas de órgão que conduzem o arranjo.
E para onde aponta as futuras produções de Chris Stussy? Será que as produções em collabs e remixes que o holandês fez com outros artistas, funcionam como um espaço de novos testes sonoros e experimentações? Bom, o combo experiência e maturidade – que é um fato inegável no decorrer da carreira de um artista – levam a crer que o produtor tende cada vez mais a experimentar novos ares em suas produções. Com novos ares quero dizer não exatamente, “novas vertentes”, mas sim a transparência de influências que o artista já carrega em sua bagagem musical, mas que ainda passam tácitas através do estilo que tornou ele um grande sucesso.
A música conecta.