Um dos pontos mais fascinantes sobre a cultura musical brasileira é sua capacidade de percorrer diversas camadas e se metamorfosear. Com uma plurivalência única, o sabor da nossa musicalidade encanta pessoas pelo mundo todo. Um bom exemplo disso, é a turma do velho continente, que adora uma Bossa Nova, MPB ou sonoridades tropicalientes, às vezes até mais que a gente por aqui. Mas com tanta cultura exportada pela América do Norte e Europa somadas à curiosidade inata do brasileiro em saber mais e olhar para fora, não é exagero dizer que algumas regiões ou nichos acabaram ficando um pouco descaracterizados ou, de forma mais diplomática: ficaram com uma energia mais gringa.
Tudo bem também, não é um pecado, estamos testando tudo, mas é importante abrir esse diálogo para saber se o conceito é esse ou se estamos replicando tendências. Digo isso, baseada justamente no legado cultural que temos aqui, com uma mistura de sonoridades que também vieram de outros cantos, mas que, somadas à energia brasileira, ganharam cor e calor. Observando justamente esses gaps no mercado fonográfico da Dance Music nacional, um time de pessoas teve uma brilhante ideia: por que não colocar esse tempero brasileiro na música de pista? Ou ainda melhor: por que não adocicar esse universo com uma textura que só é possível encontrar em um lugar desse mundão? Voilà: nascia a Cocada Music.
Com um conceito disruptivo frente aos beats clássicos que nos fazem dançar, a iniciativa nasceu como uma compilação da renomada Get Physical, através das ideias de dois grandes amigos: Leo Janeiro e o alemão Roland Leesker (o frontman da Get Physical). Primeiro compilações que apresentaram justamente essa sensação de refrescância, energia brasileira e sonoridades subjetivamente mais lúdicas. Depois, showcases pelo país até desaguar na ideia de ser um selo independente e conceitual, com foco na nossa música eletrônica étnica e também os arredores latino-americanos. O resultado? Um sucesso, é claro.
Do EP Liberdade,que abriu o caminho em outubro de 2019 através do duo Bruce Leroys e sua vibe carioca, a Cocada já soma 16 releases até agora e não há dúvidas que o ponto alto aqui é a cuidadosa curadoria musical e nomes que, além de buscar o contraponto das tendências, buscaram também injetar inovação em suas próprias criações.
Se até então vocais em português causavam estranheza em muitos aqui no Brasil, o sabor doce da Cocada veio para desfragmentar essa crença limitante em nosso subconsciente – aproveite essa deixa e já coloca para tocar Me Deixa Louca, do Nu Azeite na voz da Bia Barros.
Fica fácil de confirmar essa vanguardismo todo, é só olhar o catálogo e entender um pouco sobre a história de cada artista: L_cio, Renato Cohen, Trepanado, Carrot Green, Mezomo, Stanccione – agraciado com um remix de ninguém mais ninguém menos que Jimpster — Adnan Sharif, o próprio Leo Janeiro e talentos emergentes como YOLA, Tha_Guts, Seed Selector, James Saboia e o duo Nu Azeite, além de trazer algumas peças como as produções de Bernardo Pinheiro e de Mary Olivetti — que recriou a faixa Black Coco, do seu pai Lincoln Olivetti com a voz de Mahmundi.
E quanto ao estilo? Bom, com tanta criatividade na linha de frente, não faria muito sentido desbravar um só lugar. O movimento foi difuso o suficiente para ir do minimalismo ao fervo da discoteca. O primeiro EP deixou bem claro que seria sobre liberdade e se há um caminho sendo seguido, é esse.
O movimento hedonista não só alavancou as ideias da própria gravadora, mas despertou essa curiosidade em mais gente e ajudou a transformar o cenário nacional com originalidade e criatividade. Quebrando os paradigmas com energia estilística-cultural que é nossa herança mais bonita. A gente ainda vai mapear mais profundamente o efeito cocada na galera, vai vendo…
Para quem quiser mergulhar mais profundamente nessa alquimia da Cocada, pode sintonizar na Rádio Veneno, onde Leo Janeiro assina seu programa quinzenal — o mesmo também irá assinar o próximo EP do selo, Gin Tônica, planejado para chegar no final deste mês.
+++ LEO JANEIRO MOSTRA AO MUNDO O SABOR DA DANCE MUSIC MADE IN BRAZIL
A música conecta.