O ano era 2006 e a chegada do terceiro volume do Summer Eletrohits animava incontáveis amantes da música eletrônica, enquanto a coletânea também se tornava quase que um rito de iniciação para incontáveis outros, como Tales Menezes. No entanto, o que de fato instigou a curiosidade do jovem em relação à música eletrônica foi o álbum Hypnotica, do produtor italiano Benny Benassi. Tales provavelmente nem imaginava, mas ali, escutando e tentando compreender faixas como a clássica Satisfaction, CRAZED (BR) começava a nascer.
Nascido em Santos e criado na Vila Áurea, no Guarujá (na Baixada Santista) a partir dos sete anos, o terreno de Tales foi muito bem assentado para dar vida a um projeto musical que nasce quase que de forma orgânica. Sempre muito ligado à música, antes, o sonho era ser baterista. Aos 18 anos, após perder o pai aos 15, Tales recebe a pensão de morte e assim, investe em seus primeiros equipamentos, dando os primeiros passos como DJ trabalhando em festas em formato aberto. Nessa época, por volta de 2012, o objetivo de se profissionalizar e tocar em clubs já estava claro e constante para ele.
Com seu CDJ, caixas de som e iluminação, por alguns anos, Tales embalava as mais diversas festas da Baixada Santista e em uma delas, agentes da PM apareceram ameaçando apreender seus equipamentos, liberando sob a condição de que o DJ não poderia ser encontrado em mais nenhum evento. Depois de dois anos e toda essa situação, Tales buscou focar mais em clubs, como o GLS (também na Baixada), mas a necessidade financeira e de profissionalização obrigou o DJ a vender seus equipamentos em 2014. No mesmo período, ele arriscava também suas primeiras produções, e ali, de tudo era válido: House, Garage, Techno e até EDM (Electronic Dance Music) Tales tentou produzir. Porém, em 2016, mais um desafio surgiu e o PC que ele usava queimou.
Dali em diante, uma pausa forçada de aproximadamente dois anos aconteceu, mas o sempre curioso (e inquieto) Tales não deixava de pesquisar faixas e se manter conectado ao que rolava na cena global. Em 2018, ele comprou um notebook e não demorou para que o criativo voltasse a se arriscar em produções. No mesmo ano, o Techno passava por “boom” a nível nacional e logo Tales também produziu algumas faixas alinhadas ao gênero. Porém, a necessidade de ritmos que encaixassem na sua essência e vivências naturalmente fez com que o produtor encontrasse principalmente no Electro e nas batidas quebradas a forma ideal para se expressar — e ali uma relação bastante frutífera começava.
Em 2019, Tales já tinha plenamente alinhada a estética que dá vida ao CRAZED (BR). Durante o período pandêmico ele se desenvolveu, suas faixas começaram a rodar e não levou muito tempo para que ganhassem suportes de artistas bem estabelecidos nacionais e internacionais, de Ananda a Jensen Interceptor. Baile do Brabo foi uma das faixas que inseriu de vez o produtor nos radares, enquanto Quarentena do Crime (ZONAExp.) virou trilha sonora em vídeos onde jovens da quebrada mostravam seus cotidianos. A pandemia foi embora, mas o impacto que a música eletrônica de CRAZED (BR) gerou começava a render resultados.
Apesar do apagamento em sua região, gigs em outros estados começaram a pintar e Tales conta que foi a edição da 1010 em fevereiro de 2022, em Belo Horizonte, o seu primeiro booking profissional — com direito a passagens de avião e quarto de hotel —, além de um momento especial já que integrava o mesmo lineup que grandes referências como CESRV, Febem e Omoloko. Dali em diante, a lista de cidades que ele vem passando só se expandiu, de norte a sul do país, literalmente. A cena nacional deixou de compreender CRAZED (BR) apenas como um produtor e fornecedor musical e passou a entender a competência e habilidade também enquanto produtor. Inclusive, a última edição da Mamba Negra comprovou isso, já que ele segurou a pista debaixo de chuva durante duas horas e meia, em um set finalizado com a versão de Benny Benassi para Celebration, de Madonna, com as gays batendo o cabelo para o som do mandrake.
Inclusive, é importante destacar que embora o DJ e produtor tenha uma estética conectada à ritmos mais percussivos como o Electro, Funk e os Breakbeats, a sua pesquisa vai muito além e não falha, percorrendo desde o House ao Garage sem perder a mesma essência que faz ele naturalmente se destacar. Inclusive o alias CRAZED (BR) que remete a algo louco, doido (já que se aproxima da palavra “crazy”), é bem curioso, afinal de louco Tales não tem nada — além de “careta”, ele é um profissional extremamente focado. Talvez sua loucura seja, na verdade, um fluxo criativo e incessante e aí sim, ela se justifica. Não só se justifica, mas é fundamental para dar corpo a esse produtor que sabe de onde veio e com certeza sabe onde quer chegar.
No último dia 29, CRAZED (BR) mostrou mais uma vez a que veio com seu mais novo EP, Bailão do CRAZED (BR). Nele, o produtor une a cultura de baile com as características que formam o seu toque musical, percorrendo do Funk ao Electro com uma boa pitada de elementos do AfroBeat, celebrando a quebrada e a pista unidas, em um EP que sela uma autêntica estética de música eletrônica brasileira. Com um segundo semestre muito bem planejado com projeções de lançamentos a todo vapor, ele segue se fixando de maneira concisa na cena. Por aqui, seguimos de olho nessa figura de mente tão criativa, mesmo que com os mínimos recursos. CRAZED (BR), solta o beat boladão!
Bailão do CRAZED (BR) está disponível no Bandcamp
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