Estamos num momento onde procuramos viver, cada vez mais, novas experiências. E quanto mais completa for essa experiência, mais memorável se torna em nossas lembranças. Não é de hoje que as festas eletrônicas vão muito além da música, do DJ e das pistas. O local, o cenário, o conforto, as pessoas, e sobretudo o visual, se tornaram elementos-chave para que a imersão de torne mais profunda em nossos sentidos, trazendo um tipo diferente de surpresa a cada ato proposto. A arte é ampla e possui diversas frentes que catalisam nossas emoções, e as festas eletrônicas se tornaram palcos para a união desses mais variados movimentos, trazendo um complexo intercâmbio entre o sonoro e o visual.
Cores, luzes, sombras e imagens, são gatilhos para o despertar de sensações as quais convidam o público para uma viagem pessoal diferente a cada instalação. Um flash de luz que se expande na sintonia das frequências do som, é estrategicamente calculado para a construção de uma atmosfera coletiva, e consequentemente a música, o espaço, o público e a dança, se tornam partes de um complexo artístico imersivo e interativo. Temos visto um processo onde a cenografia, as instalações gráficas e arquitetônicas, rompem as fronteiras dos teatros, dos museus e estúdios de arte, para interagir diretamente com as vivências da noite, estabelecendo um laço mais direto e afetivo com o público.
Festivais como o Coachella, Burning Man, DGTL, Time Warp e Afterlife estão aí para provar que a música não é mais a única protagonista da experiência. Buscando cada vez mais a promoção de um complexo artístico e imersivo, o Coachella vem desde 1999 trazendo, a cada edição, uma gama de artistas visuais que assinam o conceito imersivo de suas experiências. Já no Burning Man, o evento se tornou também um importante espaço de experimentação e exposição da arte alternativa, com conceitos inspiradores que fazem do evento, um verdadeiro ritual de contemplação multisensorial.
E para além dos grandes festivais, o universo das instalações visuais também vem ocupando os palcos das festas independentes, e aqui no Brasil, o conceito se tornou fundamental para que o público absorva uma experiência completa. Desde o pioneirismo das pistas do D-EDGE, assinadas pelo arquiteto e designer Muti Randolph – pioneiro da arte computadorizada, e também um dos responsáveis pelos projetos visuais do Coachella, DGTL e das Olimpíadas do Rio de Janeiro -, a ambientação dos espaços dançantes foi criando uma personalidade ativa e em constante evolução ao decorrer dos últimos anos.

Modular Dreams
Idealizado pelos vídeo-artistas Priscilla Cesarino e Danilo Barros, o estúdio Modular Dreams explora a imagem eletrônica criada de forma analógica. A eletricidade, como material bruto, é manipulada por eles através de vídeo sintetizadores, criando vídeos com cores, formas e movimentos luminosos incapazes de serem originados digitalmente. Assinando projetos para a ODD, Carlos Capslock, Virada Cultural, além de grandes experiências nos quatro cantos da noite paulistana e afora, o Modular Dreams se tornou referência em termos de apresentação de cenários imersivos, através de uma identidade ousada e disruptiva.
“Entre nós, a troca de referência talvez seja a chama que nos inspira diariamente a buscar por novas linguagens. Adoramos nos surpreender com artistas que admiramos e muitas vezes é como viver algo novo mesmo de longe. Como somos amigos antes de nos tornarmos sócios, temos um gosto parecido em música, pela contracultura, artes de vanguarda, cinema e chegando mais perto da nossa área de atuação, a paixão pela video arte dos vídeos sintetizadores que é o instrumento que usamos para criar as nossos conteúdos autorais e tudo que conseguimos criar a partir disso.
Nossa predisposição em gostar de trabalhar com tecnologia também é uma ferramenta que nos ajuda a criar experiências de vanguarda e em alguns projetos juntamos forças com outros profissionais como arquitetos, engenheiros e designers conseguindo dessa forma elaborar projetos mais complexos e desafiadores” explica Priscilla Cesarino, sócio-fundadora da Modular Dreams.
DUNNA
Em Curitiba, o estúdio DUNNA se tornou uma das principais referências em cenografia e light design dos espaços dançantes da cidade. O núcleo encabeçado por Caetano Küster, Leo Moreira e Camila Garbi atua no desenvolvimento de projetos cenográficos, luminotécnicos, instalações artísticas e temporárias, assinando os palcos de festas como Discoteca Odara, Covil, Bioma, Alter Disco e demais eventos corporativos. Cada um dos conceitos pensados pelo DUNNA, são objetos de vivências e experiências que convergem com os sentimentos afetivos de cada indivíduo, projetando imersões únicas e surpreendentes em cada um dos eventos.
“Antes de existir a Dunna, nós 3 já éramos ratos de festa. Frequentávamos as festas e percebemos o foco que era a mais para alguns elementos, como palco e DJ, e pouco para outros, como pista, bar, lounge. Percebemos que existiam experiências que criavam curiosidade em quem não conhecia e admiração com quem já tinha tido oportunidade de experienciar. Um exemplo é o Clube Vibe, aqui em Curitiba, onde a iluminação principal acontece em cima da pista, o que traz pertencimento ha quem dança, contribuindo para agregar a energia do público para a festa. Acreditamos que a sensação de pertencimento do público na pista contribui para criar e manter a energia do evento muito mais ativa e fluida, inclusive permitindo uma maior troca entre pista e DJ. Achamos que a cenografia e a iluminação pode ser o ponto chave que cria essa conexão e aproxima o público do/da DJ, da música e da performance. É como perceber que ao mesmo tempo que a pessoa que está ali em cima do palco tem uma luz só pra ela, quem está na pista também tem, pois é tão importante quanto qualquer artista.”comenta Caetano Küster, sócio- fundador da DUNNA.
Sala.28
Explorar a beleza dos espaços obsoletos e criar uma atmosfera lúdica e totalmente original a cada evento, faz dos projetos da Sala.28 algo tão versátil como único. O estúdio já assinou alguns dos projetos mais ousados de São Paulo, incluindo o Gop Tun Festival, Dekmantel – onde colaboraram com a genialidade do artista holandês Bob Roijen -, DGTL, Selvagem, e diversas edições da própria Gop Tun e Heavy Love. Comandado por Rodrigo Machado e Junior Costa Carvalho, os projetos da Sala.28 criam verdadeiros espetáculos visuais, estabelecendo uma magia singular a cada evento que assinam.
“Podemos dizer que foi uma trajetória de aprendizado, erros e acertos, além de muita experimentação. A primeira festa que fizemos foi a Blue Lounge no interior de São Paulo , em Amparo, festa em que Dj Anna era residente. De lá pra cá fizemos todo tipo de festa, de pequenas à grandes festivais e podemos dizer que essa linha tênue de underground e main stream foi rompida faz tempo, as festas crescem e viram festivais , e surgem novas festas que trilham o mesmo caminho. Acreditamos muito na cena brasileira e em nossa efervescência cultural que é incomparável” completa Rodrigo.
A explosão da arte em suas diferentes manifestações estão aí para nos envolver em experiências cada vez mais completas, explorando a potencialidade dos nossos sentidos, através do ponto de encontro do sonoro com o visual, em sua mais perfeita sintonia.
A música conecta.