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A música conecta

Trippy Yeah, colaboração entre Jimi Jules e Black Coffee, renova o potencial criativo do Melodic House

Por Elena Beatriz em Xpress 01.07.2025


No dia 27 de junho, chegou às plataformas Trippy Yeah, primeira colaboração entre Jimi Jules e Black Coffee. A faixa, assinada pela Innervisions, marca o encontro entre dois artistas com trajetórias sólidas e distintas, uma fórmula de união que direciona o resultado final para uma criação que foge da obviedade. Neste caso, a parceria propôs uma sonoridade que reacende o interesse pelo Melodic House, sem recorrer aos lugares-comuns que vêm dominando o gênero.

Jimi Jules construiu uma carreira focada em equilibrar sentimento e funcionalidade na música eletrônica, seja no House ou no Techno. Seu trabalho combina uma esfera melódica, vocais próprios e grooves que mantêm uma energia constante. Um equilíbrio que ele domina com clareza. O álbum +, lançado pela Innervisions, mostra como Jules consegue abordar temas complexos, como a conexão humana, sem perder a leveza necessária para o contexto da pista de dança. Essa capacidade de unir emoção e ritmo é uma característica marcante da Trippy Yeah.

Do outro lado da collab, Black Coffee, um dos maiores representantes do Afro-House global, trazendo sua assinatura reconhecível, marcada por grooves orgânicos, percussões, progressão e uma sensibilidade que conecta as raízes africanas à música eletrônica contemporânea. Mesmo com uma guinada mais atrelada ao mainstream nos últimos anos, que exige tempos mais curtos para produção, muitas vezes sem tempo hábil para maior profundidade nas criações, seu trabalho sempre manteve um padrão de qualidade elevado.

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Essa combinação, que tem a autenticidade de ambos como principal ponto de convergência, faz com que a faixa se distancie das fórmulas que têm acompanhado algumas produções de Melodic House nos últimos anos, que exige um tom mais piegas, clichê e repetitivo para alcançar algumas esferas mais comerciais. A track entrega uma estrutura contínua e dançante, que evoca emoção e certa hipnose no ouvinte, trazendo um sentimento de contemplação, ao mesmo tempo que envolve o ritmo necessário para movimentar a pista. 

É possível reconhecer traços da identidade de cada um dos produtores e como isso contribuiu para a construção da faixa. Em suas diferenças e semelhanças, a dupla conseguiu encontrar um equilíbrio que é a chave para grandes parcerias. O toque emocional que tem sido parte constante da discografia de Jules está presente ali, enquanto a visão privilegiada de Black Coffee para desenhar abordagens com forte apelo popular é um ponto relevante no conjunto de elementos que faz desta faixa um hit em potencial. 

Trippy Yeah demarca uma característica muito própria da Innervisions: a de fazer música com emoção, sem deixar de lado um nível de curadoria, produção e personalidade que a distancia da caricatura genérica que tomou conta do mainstage nos últimos anos. O selo alemão, fundado por Dixon, Kristian Rädle e Frank Wiedemann (do Âme), sempre buscou lançar faixas com personalidade, vocais bem posicionados e arranjos que respeitam o tempo da pista. Ainda que uma série de outros players tenham surgido no campo do Melodic House e Melodic Techno, a influência e a relevância da Innervisions permanecem, mantendo uma aura emocional e técnica que dialoga com os principais palcos do mundo. Não à toa, essa collab foi escolhida para figurar em seu catálogo.

No fim das contas, Trippy Yeah, apesar de ser uma colaboração entre dois nomes respeitados na cena, não se apoia apenas no prestígio dos artistas, mas na força da faixa em si, que equilibra precisão, técnica, entrega e sentimento, valorizando a experiência de quem a escuta. A faixa revela como uma criação construída com respeito à identidade de cada artista pode ultrapassar expectativas, entregando um resultado que é, ao mesmo tempo, moderno e com potencial atemporal — um lembrete da riqueza do Melodic House quando explorado com autenticidade e personalidade.

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