Richie Hawtin: um nome que praticamente fala por si só quando o assunto é música eletrônica underground de qualidade. Mas você tem a real dimensão sob o trabalho de Hawtin, suas ações e feitos ao longo da história da música eletrônica, aos quais contribuíram e contribuem para a consolidação da era digital que hoje é largamente aplicada em escala global? A atuação do canadense visionário sempre foi ampla, mas expandiu ainda mais após a redução de ritmo forçada pela reclusão social e o desenvolvimento de tecnologias como equipamentos, softwares e até os atuais tokens, popularmente conhecidos como NFTs.
Mas antes de abordarmos os feitos de uma das maiores potências intelectuais do universo da música eletrônica, é indispensável que a pergunta “quem é Richie Hawtin?” seja respondida. O artista e visionário atualmente baseado em Portugal cresceu na região de Windsor em Ontário, no Canadá — exatamente do outro lado do Rio Detroit. A proximidade geográfica foi o que possibilitou que Hawtin viajasse com frequência aos Estados Unidos, bebendo diretamente da rica fonte musical de Detroit, lar de nomes como Kevin Saunderson — um dos primeiros contatos e referências de Richie do Techno.
+++ Confira nossa entrevista com Richie em julho do ano passado
Após um período como DJ, Richie juntou-se a John Acquaviva para a produção de suas primeiras mixtapes, tocando-as em Detroit para tentar atrair a atenção dos grandes pioneiros do ritmo — e conseguiu. Diante de um trabalho constante e progressivo, entrou na cena que mais tarde o catapultaria ao título de lenda. A partir dessas influências, incluiu pitadas do Acid hipnótico do Reino Unido e do Acid House de Chicago, moldando o estilo musical de Plastikman (seu primeiro projeto artístico). Da adolescência nos anos 80 ao profissional que aflora nos anos 90, o que nota-se é que definitivamente nada é por acaso.
O pai de Hawtin, engenheiro de robótica, incentivou o interesse de seu filho por música e tecnologia desde a infância — o que, nos primórdios, influenciou e guiou o artista em seus projetos. Inclusive, até hoje, Richie permanece na vanguarda nessa área. O artista estabeleceu-se não só um DJ e produtor, mas um visionário. Novamente com John Acquaviva, montou o selo Plus8, com quem mais tarde, em 2004, co-fundou o maior hub de vendas Dance Music online, o Beatport. A dupla incendiou o universo da música eletrônica, incluindo e catapultando faixas digitalmente. Inclusive, enquanto boa parte dos seletores achavam coisa de amador o uso dos CDJs, lá estava Hawtin apostando em seu uso — atualmente, é o equipamento mais comum para a atividade de mixagens.
Além de ser um dos responsáveis por testar os primeiros usos do Ableton Live desde os anos 2000, ele também trabalhou em estreita colaboração com a Native Instruments, principalmente no desenvolvimento do Traktor — dois softwares essenciais para produtores e seletores musicais, respectivamente. Mas a inovação não parou por aí. Em 2008, durante a turnê Contakt com artistas de sua outra label, a Minus, Hawtin tocou em estações de trabalho de áudio sem fio, usando um sistema de controle chamado Lemur, desenvolvido por sua própria empresa, a Liine, com sede em Berlim, responsável por gerar uma série de inovações, desde o aplicativo Synk, que permitiu aos usuários interagir com a turnê ao vivo sob o alias de Plastikman entre 2010 e 2011, até o aplicativo Smudge, que sincronizou com as instalações audiovisuais durante edições da ENTER — sua label party.
Um de seus mais recentes e inovadores projetos foi desenvolvido em parceria com a empresa de tecnologia Endel. O Deeper Focus é alimentado por uma Inteligência Artificial (IA), que gera a música em tempo real a partir de uma biblioteca de sons assinados por Hawtin como Plastikman. A iniciativa revolucionária permite que as experiências auditivas dos usuários se adaptem à sua localização, exposição à luz e frequência cardíaca, por exemplo. A empresa afirma que essas mixagens audiovisuais personalizadas podem proporcionar um aumento de sete vezes no foco durante o trabalho, concebendo um benefício que supera tanto o silêncio quanto as playlists de plataformas de streaming.
Seja desenvolvendo games ao lado de Deadmau5 ou explorando as incontáveis possibilidades das NFTs — que Richie já afirma terem um grande potencial econômico ao mercado musical —, o legado do artista visionário extrapola sua música, gerando soluções inovadoras que impactam diretamente o mercado global da Dance Music independente de gêneros. Hawtin sempre manifestou grande interesse em explorar o vasto e frutífero campo da combinação entre música e tecnologia, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento da música na era tecnológica. De acordo com Richie, sua atuação paira em torno de “continuar se superando e gerando novas experiências às pessoas” — e ele não falha.
A música conecta.