Requer coragem para se reinventar e até mesmo remar contra a maré — e é justamente neste processo que MKJAY se encontra. Com projeto ativo desde 2015, diante de uma carreira muito bem traçada, o seletor e produtor se consolidou em meio ao tech house, mas há alguns meses atravessa uma jornada de retorno às suas raízes musicais e reconexão com ritmos que o incentivaram a dar os seus primeiros passos há 11 anos atrás. Pedro da Cunha começou a tocar em 2012, aprendeu a produzir em 2013 e dois anos depois fez sua estreia como MKJAY na cena.
Suas referências sempre foram diversas, mas o artista garante que o jackin house foi o que deu origem a tudo. O ritmo é amplamente influenciado pelo UK bass e UK garage, o que o levou ao aprofundamento em tais vertentes e, futuramente, uma aproximação maior com o house e tech house — gênero este que o destacou, levando o artista a lançar em selos relevantes como DIRTYBIRD, This Ain’t Bristol, Toolroom e Repopulate Mars. Suas produções além de expressivas, são, de longe, a melhor maneira de entender a profundidade musical do produtor. Inclusive em 2021, ele e Mochakk lançaram juntos o primeiro álbum de ambos, The Rejected Dubs Vol.1.
Tamanha qualidade musical rendeu também apresentações por todo o país e até na África do Sul, mas foram nessas mesmas apresentações que tudo começou a mudar. “Lembro que em 2019, quando estava tocando bastante, muitas vezes nas pesquisas de som (na real 90% das vezes), eu passava por um track do DJ Q e pensava em tocar aquele som, mas era muito fora da realidade do nosso país; um som 132 BPM (nem é rápido), cheio de layers de bass, bateria super pra frente, vocal chops e nunca conseguia tocar… ficava engasgado com aquilo”, narra MKJAY. Pouco tempo depois e o DJ já estava se rendendo e começando a aproximação com o UK bass e garage, justamente os mesmos que marcaram o início da sua jornada na música.
E aí entra o momento em que ele começa a remar contra a maré. Enquanto o Brasil se destaca globalmente com protagonistas nacionais na linha de frente do tech house, MKJAY começava a se afastar do gênero. “O fato da linha de som se tornar algo mais retilíneo e sem muita dinâmica foi o principal fator para começar a trazer as antigas referências para minhas produções, daí voltei a sonoridade mais puxada para o som britânico. Sempre quis fazer algo diferente do óbvio e foi exatamente isso que aconteceu”, contextualiza ainda. Nesta “atualização sonora”, como o artista descreve, o Drum and Bass também deu as caras e ganhou espaço.
“Eu queria me sentir representado pelas paradas que motivaram a começar e tentar ser diferente e do jeito que o projeto estava caminhando, seria muito mais fácil abrir mão disso e seguir o fluxo. Mas essa é a realidade. Eu quero evoluir, transformar meu som no motivo pelo qual comecei este projeto e o motivo é apenas um: criatividade. Quando tudo começa a virar fórmula pronta, o tesão começa a se esvair e é hora de trilhar novos caminhos”, garante o artista que segue firmando e conquistando seu espaço em um nicho e dinâmica completamente novos e diferentes dos que MKJAY construiu seu nome entre 2015 e 2022.
A constância e consistência seguem firmes no propósito do seletor e produtor que segue evoluindo, agora com uma proposta e estética bem diferentes, mas com alguns objetivos muito bem estabelecidos. Entre eles, reforçar o grande espectro de ritmos inerentes à música eletrônica, como garante: “tem muita coisa para se fazer ainda, muito projeto, muita track, e nosso corre querendo ou não, é dobrado pelo fato de não ter muitos holofotes, mídia, hype em cima do movimento”.
A criatividade latente e a boa leva de referências são duas características importantes no novo momento do produtor, mas a incessante busca pela inovação mantém o artista sólido, vigoroso e firme no seu propósito. “Tenho para mim que ser original é um caminho muito mais longo, mas é aquele e único que leva às maiores recompensas”, finaliza (acertadamente) MKJAY.
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