O ano de 2020 foi particularmente triste para o mundo da música e dessa vez não estamos falando de pandemia não. Infelizmente nos últimos meses perdemos grandes e influentes artistas, não apenas do cenário eletrônico, mas dentro de diversos outros estilos. Dentre eles, uma figura de relevância ímpar para a cultura da pista de dança, da produção livre e da difusão da música eletrônica europeia, participando desse movimento desde seus primórdios, no Reino Unido, mais especificamente em Londres, um dos berços da cultura clubber e raver em todo o continente.
Estou falando de Andrew Weatherall e escrever brevemente sobre ele não é uma tarefa fácil. O veterano era uma enciclopédia musical em pessoa e enorme influência para a maioria dos DJs que hoje estão nos mais altos escalões do cenário. Criado em meio ao movimento Pós-Punk na Inglaterra e colecionador por pelo menos 40 anos de todas as sonoridades possíveis, Andrew foi fiel à escola de múltiplos gêneros em toda a sua carreira. Ouvir seu set é ingressar numa viagem completamente alucinante e engrandecedora. Indie Dance, Techno, Acid, Electro, House, Breakbeats, Eletrônica, House e tantas outras sonoridades são condensadas de uma maneira sem igual e que no final fazem todo sentido.
Assim também acontece quando se escuta suas criações. Weatherall permaneceu desde o início até o final da sua jornada como um dos grandes artistas vanguardistas da música eletrônica, jamais se prendendo a rótulos e padrões. Sua competência enquanto remixador ia muito além da média e ter uma música repaginada por ele era simplesmente uma honra. Ele também realizou um belíssimo trabalho como label boss da gravadora Rotters Golf Club, por onde lançava principalmente faixas do seu projeto Two Lone Swordsmen e de outros artistas. Você pode até achar que exagero em minhas palavras, mas não. Ele era tudo isso mesmo. Imponente em seu trabalho e acolhedor aos colegas de profissão, não importando o momento de carreira.
Mais difícil do que tentar explicar Andrew Weatherall foi tentar escolher algumas faixas que podem exemplificar sua importância na história da música. Algumas horas depois e uma aula de referências sonoras, cheguei a seis delas com dificuldade. As escolhas passearam por faixas produzidas por ele tanto como artista solo, projeto com outros artistas e, é claro, remixes, percorrendo por produções que vão dos anos 90 até 2020 e que definitivamente transcendem gerações. A intenção é mostrar um pouquinho (porque de fato é pouco) da contribuição desse ícone da música, como artista e ser humano.
Andrew pode ter nos deixado neste plano em 17 de fevereiro deste ano, mas seu legado e espírito musical permanecerão por aqui eternamente.
Edit: saiu na sexta (09) uma compilação especial dedicada ao artista, assinada pela Live At Robert Johnson.
Two Lone Swordsmen – Glide By Shooting
O artista foi responsável por assinar o terceiro episódio da série de podcasts mundialmente conhecida Essential Mix, da BBC Radio 1, em 1993. Mas foi em 1996, em seu segundo mix, considerado um dos mais emblemáticos da série, que ele apresentou esta produção. Criação sua e de Keith Tenniswood em seu projeto mais conhecido, o Two Lone Swordsman, Glide By Shooting é uma das faixas mais relevantes de sua carreira.
New Order – Restless (Andrew Weatherall remix)
Como citamos, o artista era reverenciado por seus remixes e colaborações com artistas de todos os estilos. Ele já assinou novas versões de faixas tanto de emergentes talentos como de lendas da música, como esse remix de Restless do New Order, banda eletrônica que carrega um peso histórico em sua carreira.
Andrew Weatherall – Frankfurt Advice
A turma do club Robert Johnson – onde Andrew era residente há muitos anos – contempla-o como um dos maiores produtores, DJs e mentores da história da música. A faixa foi citada por eles como um exemplo de como o artista fazia questão de dar um soco nas regras “impostas” pelo mercado e criar músicas completamente foras do padrão. O selo do club, Live At Robert Johnson, lançará em outubro um VA em homenagem a Andrew com 21 faixas de diferentes artistas, entre novas figuras e nomes já estabelecidos no cenário.
Daniel Avery – Movement (Andrew Weatherall remix)
Trazer um remix de Andrew para Avery simboliza sua figura como mentor e influenciador das novas gerações. Weatherall era conhecido por toda a comunidade por sua personalidade acolhedora e conselheira junto aos seus colegas de profissão, além de se relacionar intensamente com talentos emergentes enquanto artista e produtor. Esse lado do artista é visível em seus mixes para o programa de rádio que realizava na conceituada rádio NTS, onde fazia questão de impulsionar o trabalho de jovens proeminentes no cenário.
Andrew Weatherall – March Violets
A faixa compõe o EP Pamela#1, último trabalho autoral dele e que lançado depois de seu falecimento, em 24 de julho de 2020. Ela também traz uma linha sonora que acompanhou intensamente a carreira de Andrew, o Indie Dance, fruto de sua escola musical que mergulha profundamente no Rock’n Roll e movimento Pós-Punk.
A música conecta.