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A música conecta

A crítica social de Ivory em seu remix para Magit Cacoon, via Renaissance Records

Por Marllon Eduardo Gauche em Trend 22.05.2023

Você está esperando há meses (ou até anos) para ver de perto aquele artista que você tanto é fã, seja um DJ ou mesmo uma banda. Quando chega o grande dia, gravar alguns momentos através do seu smartphone torna-se quase que uma obrigação, afinal, você não quer esquecer tão cedo daquela experiência memorável, certo? Mas com o celular na mão, será que realmente você está aproveitando o show? Ou será que acha que está, mas na verdade não, como uma espécie de autossabotagem? É um tema delicado e que divide opiniões, já que o mar de celulares que aparecem no alto tem se tornado algo cada vez mais presente na pista. 

Anthony Kiedis, vocalista do Red Hot Chilli Peppers, já se mostrou irritado com o uso de celulares nos shows em uma entrevista para o Journal de Montreal. Chris Brown já arremessou longe o celular de um fã em um show na Alemanha, enquanto Bruce Dickinson, do Iron Maiden, discutiu com um fã ao vivo em um show. Recentemente, rolou até um episódio do Chris Martin, do Coldplay, aqui mesmo no Brasil, fazendo um “apelo” para que o público não filmasse apenas uma música…

Trazendo para a cena eletrônica, os celulares na pista de dança também tem aparecido com mais frequência, muito por conta do avanço tecnológico das apresentações, visto que alguns artistas estão apostando cada vez mais em grandes telões e produções audiovisuais que são de tirar o fôlego. As turnês da Afterlife pelo mundo são um bom exemplo. Qualquer vídeo que você veja na internet, é possível identificar centenas de outros celulares filmando ao mesmo tempo — não vou negar que, quando estive presente na última edição em São Paulo, não me contive e também fiz um bom número de vídeos no momento do Anyma, ato principal da noite.

Aos poucos, então, alguns artistas vão deixando mensagens subliminares (ou nem tanto assim) sobre o uso demasiado do celular no momento em que estão tocando. O sueco Eric Prydz, que ficou mundialmente conhecido por conta do seu impressionante show audiovisual HOLO, criou até mesmo uma animação para seu telão que mostra uma mão robótica segurando um celular… “Prydz pulling the reverse Uno card on the audience” (em livre tradução “Prydz sacando da carta reverse do Uno para a audiência”) brincou um fã nos comentários. “It’s like a slap on faces of people holding their phones” (“é como um tapa na cara das pessoas segurando seus celulares”), disse outro. 

https://youtu.be/2MthO7H_GKA

Mais recentemente, uma nova crítica (ou apenas um exercício de reflexão, caso prefira) chegou através do lançamento de uma nova música. O DJ e produtor italiano Ivory — que lançou seu primeiro álbum Feelin’ pela Innervisions em novembro do ano passado — remixou a faixa Send Return, de Magit Cacoon, pela gigante Renaissance Records, fazendo de sua estreia na label algo bem marcante. Batizado de “Ivory Re-phone” remix, a faixa traz inúmeros sons de celulares tocando ao mesmo tempo a partir do segundo minuto, mas o produtor explicou:

“A ideia veio ao ver todos aqueles vídeos de festas no Instagram com todo mundo gravando ao mesmo tempo em seus telefones ao invés de aproveitar o momento. Pensei, ‘o que aconteceria se todos os telefones tocassem ao mesmo tempo?’. Os toques seriam sobre a música, esse é o pensamento por trás. Então é uma reflexão: a vida das mídias sociais está invadindo demais a vida real?”

Fato é que shows são experiências de valor inestimável e cada um deve aproveitar da forma com que se sinta melhor, sempre, é claro, carregando consigo — além do celular — o bom senso.

A música conecta.

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