Na semana passada saiu oficialmente o lineup do DGTL São Paulo 2024, festival de origem holandesa que no Brasil atualmente é produzido pela BE ON ENTERTAINMENT. Havia algumas pistas, poucos vazamentos e muita expectativa por parte do público. Ano passado, houve uma sinalização mais ampla de direção da curadoria em relação ao Hard Techno, que empolgou os fãs do gênero para o anúncio deste ano. O que se viu não foi exatamente um protagonismo tão amplo para o estilo e sim uma ideia de equilíbrio, ainda com foco mais amplo no Techno. Entre quebras de expectativas e ótimas surpresas, aqui estão nossas considerações sobre o anúncio.
O festival encolheu?
Uma das principais reclamações que notamos nas redes sociais e em grupos, foi relacionado ao tamanho do lineup. Mas, não é bem assim. Ano passado 29 artistas foram bookados, enquanto esse ano temos 26 apresentações confirmadas. Ao que tudo indica, o festival deve ter um tamanho compatível em relação à proposta do ano passado.
Fora do óbvio
É possível dizer que a equipe do DGTL segue uma boa filosofia na busca de construir uma identidade para o evento no Brasil. A primeira impressão é de uma curadoria fora do óbvio. Não são nomes que se repetem ano a ano no país e isso é bastante positivo, especialmente porque o processo de escolha de headliners é mais complexo do que parece. Eles precisam incorporar peso artístico ao festival, mas pouco adianta se não vendem ingressos. Nesse sentido parece haver um bom equilíbrio.
Nacionais
Um dos grandes destaques do festival este ano está na escolha dos artistas nacionais. Lembrando sempre que há muito mais talento para espaço de lineup disponível, portanto muita gente que ‘merecia’ estar ali acaba ficando de fora. Isso, inclusive, joga mais responsabilidade na curadoria desta parte da programação.
Ao nosso ver, o festival faz um golaço ao bookar Marcal, um dos nomes globais de maior evidência dentro do Techno hipnótico. A escolha de Márcio S também é muito digna por toda sua história com a noite de São Paulo e pela qualidade de sua pesquisa. Outros destaques incluem a estreia de Albuquerque, um dos profissionais mais consistentes do país, Julia Weck, pesquisadora capaz de trazer algo fresh para o evento e as meninas do From House To Disco, que acabaram de assinar uma compilação de peso.
Mas é válido ressaltar que toda parte BR está bem feita, com outros nomes que são sempre escolhas certeiras e ideias criativas que devem somar muito a experiência real na pista..
Jeff Mills
Esse merece um capítulo só dele. Quando escrevemos o recente Storytelling que fala especialmente sobre seu lado para cena Techno global, optamos por este texto justamente por compreender a falta que ele faz nas pistas do país. Um dos grandes serviços que um festival pode fazer a cena é o booking de artistas como Mills. São negociações complexas, cachês alinhados à história que possuem e uma agenda de difícil gerenciamento. Um festival com Jeff Mills em São Paulo vale por si só.
Ótimas surpresas
Ainda no campo dos headliners, alguns nomes valem muito a ida ao festival. Cinthie é uma escolha de peso. Poucos artistas produziram House Music de verdade com tamanha consistência e qualidade quanto ela nos últimos anos. Faz muito bem sua vinda ao Brasil. DVS1 é um dos titãs da discotecagem, entre todos os estilos. DJ de verdade, que esteve ano passado por aqui e portanto um retorno tão ‘rápido’ também é de certa forma inesperado, mas muito bem vindo. Héctor Oaks é outro que retorna com boas expectativas devido a sua última aparição no Time Warp São Paulo. Esse trio é certeza de movimento e qualidade na pista.
O que sobrou e faltou?
É nítido que o Hard Techno e o Hard Dance, movimentos com muita adesão atualmente, tem seu espaço no lineup. Mas talvez tenha faltado escolhas que estão mais em alta para essa comunidade. O nome de Sara Landry é sempre celebrado e MCR-T é uma escolha com super potencial, mas nota-se um sentimento de quero mais, ainda mais depois do ano passado. Cabe entender em que direção o posicionamento do festival irá em direção a essas linhas, que são tendências, mas ainda carecem de consolidação histórica. A própria Sara, estará fazendo o som que toca e produz atualmente daqui a 5 anos?
Na nossa opinião, seria interessante ter observado mais algumas escolhas na filosofia de Cinthie e Marcal. Nomes que nos últimos anos foram protagonistas como DJs e produtores dentro de seus estilos, artistas verdadeiramente consistentes e que devem estar mais nessa posição dentro e fora do país nos próximos anos. Poderia ter mais ousadia, mas é fácil falar de fora. The Blessed Madonna é um nome que já esteve no Brasil algumas vezes e artisticamente seus últimos trabalhos não empolgam. Uma outra escolha aqui, deste porte, seria potencialmente mais assertiva.
DGTL verde e amarelo
Desde que festivais internacionais se tornaram mais frequentes no Brasil no fim da última década, o DGTL figura no primeiro pelotão dos mais consistentes. As duas primeiras edições ainda ocupam um lugar especial no coração do público, mas entre diferentes produtoras e com uma edição de 2023 que deu nova vida ao festival por aqui, é justo reconhecer que a marca está se movendo bem, tem interesse em um projeto de longo prazo no Brasil e segue buscando soluções para este melhor encaixe. Sua mudança de data para Novembro é uma prova disso e abre possibilidades interessantes de curadoria, visto que acontece fora do verão europeu. Que o trabalho siga nos próximos anos.
A música conecta.