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A música conecta

DJ Gigola traz singularidade como identidade

Por Isabela Junqueira em Trend 15.04.2024

Existe um consenso no mercado de trabalho que permeia as mais distintas profissões, de que um bom profissional é aquele nichado, “especialista” em alguma área específica. De profissões tradicionais como a medicina e advocacia até outras não tão tradicionais, o conceito do especialista em determinada área aplica uma credibilidade maior ao trabalho daquele indivíduo, conceito esse que se tornou praticável até na música eletrônica. Aparentemente, levantar determinadas bandeiras musicais relacionadas a gêneros virou uma prática comum entre os consumidores e artistas. E venhamos e convenhamos, se destacar criando uma identidade ampla é de fato árduo. Estabelecer um caráter musical coerente e que faça sentido para alcançar a máxima do “contar uma história” com a sua música se transforma em uma dinâmica mais complexa, profunda — e claro, suscetível à incompreensão. Mas é justamente aí que entra o ponto fora da curva que é DJ Gigola, em incontáveis sentidos.

“Onde outros veem tensão e contradição, DJ Gigola vê uma oportunidade de criação”, essa frase retirada da biografia dela, em suma, representa muito bem o posicionamento da artista. Tanto solo como enquanto parte do coletivo multifacetado Live From Earth, DJ Gigola tem reconfigurado as pistas de dança desde seus primeiros passos, em 2016, quando despontou na cena local de Berlim, capital alemã, e também entrou para a crew do Live From Earth. Misturando com maestria cuts intensos dos anos 90 ― do trance, hardcorde, techno e acid ― com new school rave, club music e pitadas de pop, ela vem ​​transformando e recontextualizando esses tais conceitos e estereótipos aparentemente fixos. Distante das harmonias melódicas, a espinha dorsal da experimentação de Gigola é o foco na estrutura rítmica que emerge dos padrões de percussão.

Em um exemplo didático, os seus sets são tão híbridos que podem misturar Madonna com Surgeon em um piscar de olhos e, habilmente, vai funcionar muito bem nas pistas. Essa habilidade precisa com ritmo e groove, combinado a abordagem multifacetada e audaciosa de experimentar coisas novas é o que vem consagrando Gigola uma personificação do novo som de Berlim. Não à toa, rapidamente ela começou a ganhar destaque com apresentações nos renomados Griessmühle, Paloma Bar, OHM e Wilde Renate. Foi neste contexto que ela consolidou essa identidade eclética e de alta octanagem, que apresenta de tudo, desde ritmos percussivos até hinos do pop. Por mais descontraída que a sua seleção possa parecer, ela entrelaça rigorosamente faixas aparentemente distintas com um simples (mas não tão simples) fio condutor: o ritmo. Como resultado, tanto suas paisagens sonoras quanto suas produções são essencialmente fluídos em termos de gênero.

Inclusive para além das pistas de dança… seu primeiro álbum, Fluid Meditations, lançado em janeiro do ano passado, foi inspirado pelo yoga e por práticas meditativas, além de composto por faixas com vocais de ASMR, gravações de campo e canções ao estilo goês. Mas essa fluidez também é perceptível em lançamentos prévios de originais, remixes e outras faixas colaborativas como In The Mood, Sueño, Papi e No Es Amor. Gigola é muito bem sucedida ao criar cenários inexplicáveis, mas que refletem um instinto natural em explorar e uma forma lúdica de quebrar fronteiras.

Desde que se juntou aos colegas artistas do Live From Earth, Kev Koko e Perra Inmunda, ela vem ampliando ainda mais sua reputação como uma das personas mais singulares da cena contemporânea e um reflexo da pluralidade artística berlinense. E se você se perguntou de onde saiu o nome que inspira o projeto artístico de Paulina Schulze, diferente do significado nacional da palavra, “gigolo” é um equivalente para “playboy”, mas a palavra tem sua etimologia no francês “gigolé“, que costumava significar “mulher dançarina” — e é esse híbrido de personalidades que ela mira. Com uma distinção visual tão impactante quanto a musical, a personalidade desinibida e espontânea dão a roupagem perfeita para todo o contexto identitário e artístico de Gigola. 

Todas essas características fazem de DJ Gigola uma das artistas mais interessantes para se experimentar em uma pista de dança e inclusive, ela é uma das atrações da próxima edição do Gop Tun Festival. Neste sábado, dia 20, Gigola é a responsável pelo closing do Palco Não Existe, a partir das 03h30. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Ingresse. Os que já garantiram seus ingressos podem esperar um set de altíssima intensidade…

Conecte-se com DJ Gigola: Bandcamp | Instagram | SoundCloud | Spotify

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