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A música conecta

A forte identidade musical de Barbara Boeing é apaixonante

Por Alan Medeiros em Troally 27.04.2017

Em uma capital multicultural como Curitiba, sempre há espaço para novas formas de arte e experimentações voltadas para esse universo. Ainda assim, sem a coragem e o trabalho de algumas pessoas, muitas ideias não sairiam do campo da imaginação. A DJ Barbara Boeing e os coletivos e festas Alter Disco e Odara são belos exemplos desse cenário.

Em quase cinco anos de trabalho até aqui, Barbara Boeing e seu time levaram até a capital catarinense artistas capazes de estimular novas formas de dança na pista. Akufen, Fantastic Man, Telephones e Selvagem são apenas alguns dos nomes que já levaram uma atmosfera nova para a cidade. Por sinal, o perfil da Alter conversa diretamente com a identidade de Bárbara como DJ, sempre preparada para absorver diferentes culturas e influências no processo de construção de seus sets, multifacetados e inteligentes.

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Boeing é considerada uma das joias do efervescente cenário Curitibano e possui uma atenção especial a evolução das tendências musicais, especialmente a aquelas conectadas a sons do globo. Após um belíssimo set de estreia no Alaplay, Barbara é a responsável por assinar o mix 104 da Troally, acompanhado de entrevista. Confira abaixo:

1 – Oi, Barbara! Tudo bem? Fale um pouco a respeito do seu perfil como artista. Sons oriundos de outras partes do mundo e até mesmo do Brasil fazem parte de seu background atualmente?

A minha pesquisa musical consiste em uma busca constante por algo diferente do que já ouvi algum dia na minha vida!!! Veja que eu sempre fui viciada em música e já passei alguns anos da minha vida escutando somente música brasileira e muito indie rock de todos os cantos do mundo. Acredito que isso me fez crescer em diversos aspectos, musicalmente falando, e mesmo dentro da música eletrônica isso é claramente refletido pois eu não acredito que somente um estilo pode ser bom. Creio que uma mistura de músicas de todos os lugares do mundo, que são compostas com diferentes instrumentos e diferentes melodias podem se complementar se você souber montá-las como uma só dentro de um mix.

A minha ideia como DJ é justamente esta, conseguir trazer todos os sons que eu acredito que sejam de boa qualidade, sejam eles de estilos e/ou países diferentes, incluindo com certeza o Brasil, dentro de um trabalho só, mixados de uma maneira linda. Esta ecleticidade dentro do meu som me coloca no mercado como alguém que consegue tocar desde um warm up com músicas agradáveis de 100 bpm até em um after com tracks mais darks combinada a um bpm mais acelerado.

2 – Como a Alter Disco contribuiu para sua formação enquanto DJ? Qual o seu set mais marcante na festa?

Eu já era DJ antes da Alter Disco iniciar. Eu comecei a tocar há mais ou menos 10 ou 11 anos com o meu parceiro Phil Mill (que iniciou ainda antes de mim) com um hiato no meio disso. Exatamente neste hiato, eu e mais 3 melhores amigos (Rotunno, Phil Mill novamente e De Sena) iniciamos uma banda de indie rock que não durou muito tempo pois nunca tivemos um bom vocalista para darmos continuidade. Neste meio tempo, Phil Mill e De Sena começaram a se interessar novamente pela música eletrônica e me chamaram pra que eu voltasse a tocar. Naquela época a minha resposta era bem enfática, eu dizia e repetia que os meus tempos de música eletrônica já haviam acabado (hahahaha… é até engraçado ouvir isso hoje em dia). Bom, esta minha resposta durou pouco tempo e quando eu vi, eu já estava comprando novos equipamentos e me interessando totalmente por música eletrônica e desta vez com um gosto musical muito diferente do anterior. Importante enfatizar que antes da Alter Disco o meu estilo era minimal techno e pós Alter Disco o meu estilo é… bom, é uma mistura de tudo que eu acho bom. Mas a Alter Disco em especial, fez parte de uma parte da minha vida em que eu iniciei a tocar um som que eu amo e as pessoas amam junto comigo, pois antigamente eu sentia que o público não entendia muito bem o meu som. O público da Alter é muito aberto e eles entendem que eu vou de um som com um vocal polonês pra um techno estranho e volto pra uma pegada brasileira em menos de 15 minutos e mesmo assim eles continuam dançando e amando. Isso faz a gente criar uma certa auto afirmação como DJ e faz a gente se soltar mais com o público quando dá certo.

O meu set mais marcante dentro de uma Alter foi quando eu abri pro alemão Kickflip Mike. Foi a primeira vez que eu estava tocando com CDJs novamente e eu relembrei o que era ser DJ. Foi muito interessante pois naquele dia o público foi extremamente receptivo e acredito que eles gostaram tanto quanto eu do som que eu estava fazendo.

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3 – Sobre a cena de Curitiba, como você a enxerga atualmente? Há uma percepção de evolução em relação ao futuro?

Eu sempre converso sobre isso com o meu parceiro do meu projeto paralelo Discoteca ODARA, o Dani Souto, sobre como Curitiba ainda é virgem pro nosso tipo de festa e como podemos fazer muita coisa legal por aqui. Como eu faço parte de duas festas, atualmente eu acredito que eu consigo trazer junto aos meus amigos quase todos os artistas que eu acredito ser o futuro da música eletrônica. Isto é algo muito pessoal, cada um tem o seu gosto mas eu, há 5 anos, não conseguia sair de casa para ver algum artista na nossa cidade. O nicho dos artistas que me agradam era algo totalmente inexplorado pelos produtores de festas. Atualmente, além de nós, existem outras festas que também se preocupam com esta curadoria diferenciada. Confio que no futuro a quantidade de festas dentro deste nicho irá somente aumentar.

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4 – Como é a sua relação com os formatos de mídia para discotecagem? Na sua visão quão diferente é a experiência proposta por DJ sets em vinil?

Financeiramente, até hoje, eu só consegui comprar CDJs e como sou extremamente perfeccionista com as minhas mixagens eu não gosto de tocar com algo que eu não treinei muito em casa, por isso não me aventuro em toca-discos. Agora que estou tocando com mais frequência, posso começar a pensar na compra de um toca-disco para complementar as minhas mixagens. Acho algo bonito e acredito que a técnica de um DJ que mixa 100% deve acontecer também em discos. Posso dizer que existe a possibilidade do meu próximo passo ser esse. É válido adicionar que as CDJs não sairão do meu lado pois gosto de fazer um set quase sempre inteiro novo em cada festa e pra que isso seja financeiramente possível, acho que só acontecerá com a mistura dos dois equipamentos. Sei também que existe uma rixa muito grande entre pessoas que tocam somente em CDJ, somente em vinil ou somente em traktor e afins. Francamente, eu acredito que a grande verdade é que o público final não está muito preocupado com isso. Para mim, ser DJ é a soma de uma boa seleção musical com boas mixagens. Acredito que na pista o primeiro tem mais peso, uma vez que musicas mal selecionadas podem desagradar muito mais que uma mixagem mal executada, que podem passar batido. O público quer escutar algo prazeroso aos seus ouvidos e isso, os três tipos de equipamentos conseguem fazer.

5 – Jazz, funk, disco, garage house e italo disco provavelmente estão entre as suas principais influências, certo? Se você parar e observar, são estilos construídos num passado já distante, algo que nos faz pensar que não vivemos um grande momento em termos de inovação de estilos dentro do cenário musical em geral. Você concorda? O que podemos fazer para mudar isso?

Na verdade, eu acredito que as minhas influências variam ao redor do disco, house, Techno e tudo que caminha ao redor deles. Mas sim, exatamente estes que você citou são estilos que usei no meu último podcast onde gravei somente faixas dos anos 70 até os anos 90, onde eu quis mostrar que mesmo tracks antigas podem soar extremamente atuais. Quando eu pesquiso música antiga, eu sempre me deparo com o mesmo sample que achei naquele som em uma música produzida 10 anos depois, ou mesmo em uma música atual. Acho isso muito interessante por um lado pois as músicas são extremamente diferentes e isso mostra como cada um pode fazer algo extremamente criativo com algo que já existe sem isso ser considerado plágio. Porém, olhando por um outro lado, exatamente esta repetição de pequenas melodias, batidas ou vocais transforma a música da maneira como vemos hoje em algo não muito novo, em algo somente refeito e recortado. Baseada exatamente nisso, eu posso dizer que sou absolutamente fã de pessoas que criaram novos estilos em diferentes momentos da história da música (não só na eletrônica). Uma das pessoas que sempre fui fã e que tivemos a honra de trazer pra Alter Disco foi o grande Akufen que foi um dos precursores do micro-house, um estilo que mesmo sendo feito de recortes de outras melodias já existentes é um som totalmente novo que nunca havíamos escutado antes. Lembro que a primeira vez que eu escutei a música Deck the House eu fiquei em choque com tanta criatividade dentro de uma só track.

++ Relembre a brilhante entrevista de Akufen para a Troally

6 – Certamente você possui mulheres incríveis como referência dentro do mundo da música… quais são?

São muitas, mas algumas delas são: Jana Hunter, Annie Clark, Paramida, Sassy J, Beth Gibbons, Victoria Legrand.

++ Relembre a passagem de Sassy J pela Troally

7 – Na sua visão, falta espaço para as mulheres nos line ups? O que pode ser feito para melhorar esse quadro?

Além de ser DJ, eu sou engenheira civil e trabalho com isso diariamente há mais de 8 anos. Quando eu entrei na faculdade, apenas 22% da minha sala de aula era composta de mulheres. Atualmente este número subiu para mais ou menos 50%. Vale lembrar também que na época que meu avô se formou em engenharia, apenas uma mulher se formou com ele. Isto acontece pois vivemos claramente em uma sociedade machista que está se libertando lentamente destes pensamentos arcaicos. Acho que dentro de qualquer área profissional, este aumento do número de mulheres é algo que está crescente, mesmo que em passos de tartaruga. Na música eletrônica, o mesmo acontece. Há 10 anos, quando eu iniciei, existiam muito menos mulheres do que na cena atual mas hoje em dia eu já vejo várias meninas com trabalhos lindos pelo Brasil inteiro. Acho que deve-se fomentar as festas com lines somente femininos pois isso divulga o nosso trabalho, porém, não acredito que devemos forçar a presença de mulheres somente por sermos mulheres. Sou da opinião que o nosso trabalho irá chamar a atenção, caso o nosso som seja bom o suficiente ou adequado a festa em questão.

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8 – Para encerrar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Desde adolescente a música me acompanhou nos meus piores e nos meus melhores momentos.
É muito engraçado pois os estilos musicais refletiram visivelmente cada uma das fases que passei, algumas muito intensas e outras nem tanto, mas a música sempre esteve presente.

Troally é: Música de verdade, por gente que faz a diferença! 

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