O Rio de Janeiro é uma cidade que causa fascínio a todos que têm a oportunidade de conhecer suas belezas naturais. Não é à toa que ela é mundialmente conhecida por ser a “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”, como enuncia seu hino oficial. A importância histórica do Rio para o Brasil é imensa, assim como são diversos os motivos que a fazem ser lembrada por pessoas ao redor do globo, mas nenhum deles é tão representativo quanto o famoso calçadão de Copacabana.
Apontado como um dos símbolos mais conhecidos do Rio de Janeiro, o calçadão de pedras alvinegras possui mais 4km de extensão e emoldura um dos mais belos trechos da orla do Rio de Janeiro, partindo da praia do Leme até o Forte de Copacabana, finalizando antes do acesso à ponta do Arpoador. Por conta de seu sucesso, os calçadões na cidade atualmente se estendem até o final da praia da Barra da Tijuca, conhecido como Pontal, com diferentes padronagens em cada praia, exceto o da praia de São Conrado, que segue o mesmo traçado de Copacabana. A imagem chegou a inspirar o cantor e compositor Tim Maia em seus versos “do Leme ao Pontal, não há nada igual (no mundo)” de 1982, que exaltavam a beleza da orla carioca.
O calçadão ganhou vida em 1906 a pedido do então prefeito da cidade, Paulo de Frontin, para adornar a primeira obra de ampliação da avenida Atlântica que havia sido realizada. Porém, se engana quem acredita que o projeto é um produto genuinamente brasileiro. Na verdade, o desenho ondulado é o mesmo utilizado na Praça do Rocio, em Lisboa, e foi escolhido propositalmente como forma de homenagear nossos colonizadores. A diferença é que, enquanto em Portugal o traçado representa a união do rio Tejo com o oceano, em Copacabana ele simboliza as ondas do mar que margeiam o bairro de ponta a ponta.
O projeto inicial liderado por Paulo de Frontin era mais tímido que o que conhecemos hoje. Compreendia uma faixa estreita, com ondas menos acentuadas e posicionadas perpendicularmente ao mar. Foi somente em 1970, após execução do aterro que aumentou a faixa de areia e de uma nova obra para alargamento da avenida, que o calçadão ganhou o desenho curvilíneo atual e a posição paralela ao mar. Quem assumiu o projeto de revitalização desse cartão postal da cidade foi o artista plástico e paisagista Roberto Burle Marx.
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Burle Marx, como é mais conhecido, era paulista e foi morador do Rio durante a maior de sua vida, cidade onde é possível encontrar seus principais trabalhos. O artista foi iniciado no universo das artes logo cedo por conta de sua mãe, que era pianista e cantora, além de ter despertado nele também o interesse pelos cuidados com as plantas. Esse incentivo materno foi o primeiro contato que ele teve com o que mais tarde se tornaria seu principal ofício.
Foi durante o início da vida adulta, mais precisamente aos 19 anos, que Burle Marx de fato percebeu na arte sua vocação profissional. Nessa época, ele vivia com a família na Alemanha, país natal do pai, onde foi buscar tratamento para uma doença ocular recém diagnosticada. Lá ele teve contato com movimentos vanguardistas do final da década de 20 e decidiu estudar pintura no ateliê do artista Degner Klemn, em Berlim.
De volta ao Brasil, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde conviveu com ninguém menos que Oscar Niemeyer, Hélio Uchôa e outros personagens que viriam a se tornar grandes nomes da arquitetura nacional. O contexto cultural em que estava inserido e essas vivências que o artista teve o conduziram para sua atuação como paisagista responsável por importantes obras nacionais.
Entre os projetos de paisagismo que formam o portfólio de Burle Marx estão o primeiro Parque Ecológico do Recife, a Praça dos Cristais em Brasília, a praça da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina, aterro da baía sul de Florianópolis, o Parque do Ibirapuera e muitas outras. O último projeto assinado pelo artista foi o do Parque Ipanema, em Minas Gerais, em 1990, 4 anos antes de seu falecimento.
Foram mais de 2000 mil jardins projetados ao longo de quase 60 anos de profissão. Sua memória fica eternizada nos monumentos públicos para os quais contribuiu com seu toque harmonioso e visionário. E, claro, em um dos principais cartões postais da cidade que escolheu para chamar de lar, o calçadão de Copacabana.
A música conecta.