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A música conecta

Fran Bortolossi celebra na pista o legado de 16 anos da Colours

Por Elena Beatriz em Xpress 11.04.2025

As festas independentes e itinerantes têm sido, historicamente, um espaço de acolhimento e percepção coletiva. Produzir festas independentes no Brasil exige mais do que paixão: exige fôlego, visão de longo prazo e uma dose generosa de improviso — produtores se multiplicam em funções que envolvem curadoria, logística, atendimento, redes sociais, negociação com fornecedores, montagem e, muitas vezes, desmonte. Apesar disso, seguem obstinados e essenciais, carregando nas costas algo que não pode faltar: a criação de um espaço que interpõe liberdade atrelada à criatividade, onde o público pode se despir das exigências sociais do cotidiano e focar exatamente onde estão, naquele momento e naquela pista de dança.  

Enquanto os grandes players, muitas vezes, trabalham a partir de metas e previsões de ROI, a produção de eventos independentes trabalha a partir de vivências e experiências positivas, sem medo de testar, errar, acertar, chamar um artista que ainda não “estourou”. A festa vira ponto de encontro e formadora de público que, ao caminhar ao lado da consistência de uma curadoria com propósito, de uma visão panorâmica sobre a cena e do apoio de quem a frequenta, ganha vigor e soma o movimento para alavancar a própria trajetória e, ainda, pavimentar o caminho para que outras produções também sejam construídas com a prosperidade que merecem.

É dentro desse cenário que a Colours sobreveio. Em 2009, Fran Bortolossi, que já atuava como DJ desde 2006, ao notar a ausência de projetos culturais na cena eletrônica fora dos grandes centros naquela época, que acontecessem de forma plural e que pudessem fazer com que alguns artistas acrescentassem cidades mais afastadas às suas rotas, sem o envolvimento de um club propriamente dito, idealizou a própria festa, a Colours. Além de possibilitar essas apresentações na região de Caxias do Sul, o olhar apurado de Fran Bortolossi também apontava para a curadoria de artistas em ascensão, como foi o caso do DJ Kolombo, que se apresentou na Colours em 2012, quando era pouco conhecido no Brasil — e hoje é um nome requisitado nos lineups.

Fran Bortolossi e Kolombo na edição de 15 anos da Colours

Ao longo de 16 anos de atividade, a Colours, construiu uma reputação baseada em uma curadoria que sempre soube equilibrar novidade e história. É uma das poucas festas do país que conseguem transitar com propriedade entre House e Techno em suas múltiplas vertentes. E foi justamente essa visão de Fran Bortolossi, que permitiu à ela se consolidar como referência, ainda que sem sede fixa. 

Hoje, mais de 140 edições depois, a Colours é a label itinerante de música eletrônica mais longeva fora das capitais do Brasil. A festa cresceu junto com o público, educou ouvidos e se tornou um território simbólico de expressão, um espaço de pertencimento real. E, talvez por isso, permaneceu — atravessando mudanças e reconfigurações da própria cena.    

A Colours se posicionou sem precisar se fixar em um espaço. Sua escolha foi circular, transformando cada local que ocupa em um ambiente democrático, além de adaptar estruturas sem abrir mão da identidade, trazendo sempre um destaque para o soundsystem de qualidade. Essa escolha construiu credibilidade, que a trouxe uma rede sólida de apoio para a realização de festas, seja entre a comunidade artística ou junto ao público. Tamanha consistência a permitiu, hoje, gerar empregos diretos por edição, manter um programa de rádio há 10 anos no ar e apoio de grandes marcas para seguir disseminando a cultura clubber pelo Sul do país.

E, em comemoração a essa trajetória, no dia 12 de abril, a Colours celebra 16 anos de história em Caxias do Sul, no Jockey Clube Multi Eventos. O lineup traduz com exatidão o DNA da label: uma curadoria diversa, vanguarda e multiplicidade. A estreia do dinamarques NILU e da argentina Lolu Menayed com os brasileiros Fran Bortolossi, Jessica Brankka, Zac, Caio Busetti, Due e Ander, reforçando a proposta de reunir gerações em uma mesma pista e a continuidade de seu movimento, que consiste no crescimento sem eximir a qualidade que a mantém relevante.

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